1 de novembro de 2024 - por Raul Sena (Investidor Sardinha)
Recentemente, apareceu um vídeo de um investidor afirmando que viver de dividendos é uma ilusão. Quero aproveitar e esclarecer alguns pontos interessantes que ele levantou, com uma análise técnica e profissional. Meu objetivo aqui não é criticar ninguém, apenas discutir o tema de forma construtiva.
Primeiro, é importante entender que essa questão de viver de dividendos é debatida na internet há algum tempo. De vez em quando, surgem discussões sobre a viabilidade de viver com essa estratégia.
Mas afinal, o que são os dividendos? Basicamente, são parte dos lucros que uma empresa distribui entre seus acionistas. Isso significa que qualquer empresa com lucros pode oferecer dividendos, e o montante que cada acionista recebe depende da sua participação. No caso das ações, os dividendos são divididos conforme a quantidade de ações que cada pessoa possui, simplificando o cálculo e facilitando o pagamento por participação
Dividendos não te enriquecem?
Uma empresa pode decidir distribuir ou reter seus dividendos. E aqui vem uma crítica interessante: se você é proprietário de uma empresa e retira parte do dinheiro para uso pessoal, o patrimônio da empresa não muda, porque esse dinheiro já era seu. Nesse sentido, não há um ganho direto de patrimônio.
Agora, imagine que você possui uma ação que custa R$22 e a empresa distribui R$1 de dividendo por ação. Isso aumenta o seu patrimônio? Não necessariamente, porque esse valor é descontado do preço da ação em um evento conhecido como ex-dividendo. Por isso, algumas pessoas veem a ideia de viver de dividendos como uma “ilusão”, pois entendem que o dividendo não gera valor adicional para o acionista, apenas retira um valor já existente.
Mas existe algo que muitos não consideram: por que um empresário distribui seus lucros? Simplesmente porque ele quer dispor desse valor para pagar despesas pessoais ou investimentos fora da empresa. O mesmo vale para os dividendos: você pode usá-los para despesas ou reinvesti-los.
Usando uma analogia: imagine que a empresa é uma galinha que põe ovos. Você pode fritar o ovo (usar o dividendo) ou deixá-lo virar um pintinho (reinvestir). Reinvestir os dividendos pode resultar em mais ações, ou “pintinhos”. Já usar os dividendos é aproveitá-los para uma finalidade específica. Em ambos os casos, o dividendo serve a um propósito.
Exemplo prático
Vamos imaginar que a Padaria do João tem três sócios, cada um com 25% de participação. A empresa distribui R$1 milhão em dividendos, então cada sócio recebe R$250 mil. João usa o valor para reformar a casa, Frederico viaja para as Maldivas, e Vandim está pensando em gastar no cabaré. Mas, ao invés disso, Raul propõe comprar 5% das ações de Vandim por R$250 mil, e ele aceita.
No primeiro momento, Raul não recebe dividendos extras — ele só tem as ações recém-compradas. No ano seguinte, quando a empresa distribui dividendos de novo, Raul receberá R$300 mil, enquanto Vandim receberá apenas R$200 mil, pois vendeu parte de sua participação.
Se isso soa estranho em uma empresa privada, na bolsa de valores é totalmente comum. Lá, todos os dias há investidores vendendo suas ações. Assim, você pode usar seus dividendos para comprar mais ações da mesma empresa, aumentando sua participação.
E se você fizer isso por anos a fio? Seu percentual na empresa cresce e, com isso, o valor dos dividendos que você recebe também aumenta continuamente.
Jeremy Siegel: o poder dos dividendos
Para entender o poder dos dividendos, Jeremy Siegel conduziu um estudo fascinante sobre o efeito dos dividendos ao longo do tempo. Ele analisou quanto um investimento de US$100 na bolsa de valores dos EUA em 1871 teria se tornado em 2011. O resultado é surpreendente: aqueles US$100 teriam se transformado em US$250 mil. Claro que essa é uma análise hipotética, pois ninguém viveria tanto tempo.
Mas o verdadeiro impacto é revelado quando consideramos o reinvestimento dos dividendos. Se o investidor tivesse reinvestido os dividendos ao longo dos anos, o valor total chegaria a impressionantes US$8 milhões!
Isso mostra que, se você souber utilizar essa estratégia de forma eficaz, pode ser extremamente lucrativa.
É possível viver de dividendos?
A maior parte dos empresários brasileiros vive de dividendos, retirando uma parte do lucro da empresa para suas despesas. Isso demonstra claramente que é possível. Afinal, as empresas listadas na bolsa são muito mais lucrativas do que muitos pequenos negócios de bairro. Se dá para viver da borracharia do Manel, também dá para viver da WEGE3, da LEVE3 e de outras gigantes do mercado.
Entretanto, a possibilidade de viver de dividendos depende da quantidade de dinheiro que você possui investido nessas empresas. Muitos dos meus clientes, por exemplo, conseguem viver exclusivamente dos dividendos que recebem.
Porém, é importante ressaltar que o pagamento de dividendos é inconstante. Ao montar uma carteira, você não deve se restringir apenas a ações que pagam dividendos, caso contrário, sua carteira pode ficar sem previsibilidade mensal, algo que a maioria dos clientes busca.
Na prática, quando atendemos um cliente que deseja viver de dividendos, começamos perguntando quanto ele gostaria de receber mensalmente. Com base nessa informação, fazemos uma provisão. Assim, ao longo do ano, conforme as empresas pagam dividendos, provisionamos o valor para o próximo ano. Quando essa provisão é atingida, iniciamos o reinvestimento.
Dessa forma, mantemos o poder de compra do dinheiro. O cliente utiliza uma parte do valor e acredita que está realizando uma retirada mensal, mas, na verdade, está acessando o dinheiro conforme o calendário de dividendos.
Portanto, essa discussão sobre a viabilidade de viver de dividendos não é vazia. É perfeitamente possível, pois todos os sócios de empresas brasileiras fazem isso. E o mesmo se aplica à bolsa de valores; tudo que você precisa é de um bom planejamento.
Viver de dividendos: qual empresa investir?
Se você deseja viver de dividendos, é fundamental avaliar alguns pontos essenciais. Primeiro, verifique se a empresa na qual você pretende investir tem um histórico sólido de pagamento de dividendos. Existem empresas na bolsa de valores brasileira que têm uma trajetória de distribuição de lucros por 30 anos sem interrupções. Essas empresas são atraentes, e isso não significa que elas não possam crescer. Algumas conseguem distribuir dividendos enquanto mantêm um ritmo de crescimento superior àquelas que não o fazem.
Outro aspecto importante é observar o yield on cost, que é o dividendo em relação ao preço que você pagou pelas ações. Isso ajuda a entender a rentabilidade real do seu investimento ao longo do tempo.
Além disso, é crucial lembrar que a distribuição de dividendos está intimamente ligada aos lucros da empresa. Se a empresa não for lucrativa ou agir de forma irresponsável, é provável que a distribuição de dividendos seja afetada.
Por isso, ao montar sua carteira, a diversificação é fundamental. Você não deve depender apenas dos dividendos de uma única empresa ou ativo. Ter uma carteira diversificada ajuda a mitigar riscos e garante que você tenha múltiplas fontes de rendimento.
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