Inflação: o que é, causas e consequências no nosso bolso

17 de agosto de 2020, por Sidemar Castro

Tempo de leitura médio: 15 min, 24 seg


A inflação é o aumento generalizado dos preços de produtos e serviços. Esse aumento pode ter várias causas como, por exemplo, o excesso de dinheiro em circulação na economia, que leva ao aumento da demanda frente a oferta, resultando no aumento de preços.

Vários são os índices usados para medir a inflação, mas o oficial é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

A inflação alta é problemática e tem várias consequências. Por exemplo, a alta dos preços reduz o poder de compra da população, sendo preciso de mais dinheiro para comprar os mesmos produtos que antes.

Quer entender melhor o que é inflação? Continue a leitura.

O que é Inflação?

A inflação é o aumento dos preços de bens e serviços. Isso implica na diminuição do poder de compra da moeda. No Brasil, temos vários índices de preços, sendo o IPCA o índice utilizado no sistema de metas para a inflação.

As causas da inflação podem ser agrupadas em várias, como a das pressões de demanda. Quando há excesso de demanda em relação à oferta, os preços tendem a subir.

Também as pressões de custos podem causar inflação. O aumentos nos custos de produção, como salários e matérias-primas, podem impactar os preços.

A inércia inflacionária é outra causa inflacionária. Isso significa que a inflação passada influencia as expectativas futuras.

Assim como as expectativas de inflação: Se as pessoas esperam que os preços subam, isso pode se tornar uma profecia autorrealizável.

As consequências da inflação incluem incertezas na economia, desestímulo ao investimento e distorções nos preços relativos.

Além disso, afeta especialmente as camadas menos favorecidas da população, que têm menos acesso a instrumentos financeiros para se proteger da inflação.

Também aumenta o custo da dívida pública, pois as taxas de juros precisam compensar o efeito da inflação e incluir um prêmio de risco.

É importante manter a inflação baixa e previsível para o bom funcionamento da economia. O Banco Central trabalha nesse sentido, não para que os preços declinem, mas para que se mantenham relativamente estáveis ao longo do tempo, garantindo o planejamento de todos.

Quais são as causas da inflação?

As causas da inflação são as mais diversas, tais como:

1. Desequilíbrio entre a oferta e a demanda

Ele ocorre quando forças externas causam uma interrupção no equilíbrio de oferta e demanda de um mercado. Em resposta, o mercado entra em um estado durante o qual oferta e demanda não combinam. Vamos entender melhor:

A oferta à quantidade disponível de um produto no mercado, ou seja, aquela que as empresas querem ou podem vender. Representa a quantidade de bens e serviços que os produtores estão dispostos a oferecer.

A demanda é a quantidade que os consumidores querem ou podem adquirir desse produto, ou seja, sua procura. Representa a quantidade de bens e serviços que os consumidores estão dispostos a comprar.

O ponto de equilíbrio do mercado é representado por um gráfico onde existe um único ponto de encontro. Esse ponto indica o preço que o produto precisa ter para que sua oferta no mercado seja igual à sua procura. Quando atingimos esse equilíbrio, não há excesso nem escassez de produto, e a tendência é de que haja uma estabilização de preços.

Entretanto, essa estabilidade pode ser afetada por fatores externos, como novos concorrentes, crises econômicas ou avanços tecnológicos. Assim, é necessário ajustar o preço do produto conforme o movimento da oferta e da procura para alcançar o ponto de equilíbrio novamente.

A lei da oferta e da demanda, elaborada por Adam Smith, relaciona a determinação do preço de um produto com sua oferta e demanda no mercado. Essa lei afirma que se há mais produtos do que interessados em comprá-los, os preços tendem a cair. Por outro lado, se um produto está em falta, seu preço tende a aumentar.

2. Maior taxa de emissão de papel-moeda

Quando um governo ou banco central decide imprimir mais dinheiro do que o necessário, a quantidade de moeda em circulação aumenta. No entanto, os bens, mercadorias e serviços disponíveis no mercado permanecem os mesmos.

O resultado é que há mais dinheiro perseguindo os mesmos produtos, o que leva a um desequilíbrio entre oferta e demanda. Com mais dinheiro em circulação e a mesma quantidade de bens, os preços tendem a subir. Isso ocorre porque a demanda por produtos supera a oferta, e os vendedores podem aumentar os preços.

A inflação resultante reduz o poder de compra da moeda e afeta negativamente a economia. A emissão excessiva de papel-moeda pode levar à desvalorização da moeda nacional. Quando a moeda perde valor, os preços sobem, e as pessoas precisam gastar mais para comprar os mesmos produtos.

Se os salários não forem ajustados de acordo com a inflação, os trabalhadores enfrentam uma diminuição no poder de compra. Isso é especialmente prejudicial quando os preços aumentam rapidamente e os salários permanecem estáveis.

É por isso que a política monetária expansionista, onde é injetado dinheiro no mercado, tende a causar o aumento de preços.

3. Indexação de preços ou inércia

A inércia inflacionária diz respeito ao processo em que a inflação passada se reflete nos preços presentes. Uma das formas mais comuns de inércia inflacionária é a indexação, um mecanismo que reajusta automaticamente os preços de salários, benefícios assistenciais e determinados bens e serviços especificados em contrato (como aluguéis) ou administrados (como a energia elétrica).

A inércia inflacionária tende a se perpetuar na economia por vários fatores. Se a definição da meta inflacionária é elevada, os preços podem continuar subindo.

Outra é a falta de credibilidade do Banco Central (BC). Quando os agentes econômicos não confiam nas políticas do BC, a inflação pode persistir. Se as pessoas esperam uma inflação alta no futuro, isso influencia seus comportamentos de consumo e negociação.

Quando há inércia inflacionária, os juros devem ser mais altos, pois a inércia só se reduz ao longo do tempo. Para combatê-la, são necessárias algumas etapas, como controlar a inflação atual, comprometer-se com uma meta e propor uma redução escalonada da meta nos anos seguintes.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) considera a inércia inflacionária como um dos componentes que influenciam a inflação. A metodologia do BC avalia como cada componente (inércia, expectativas, inflação importada, choques de oferta, entre outros) contribuiu para o IPCA do ano anterior.

4. Preocupação sobre futuros aumentos de preços e custos

Ela pode, de fato, influenciar a inflação. Vamos explorar como isso acontece:

As expectativas dos agentes econômicos, que é quando empresas, consumidores e investidores esperam que os preços subam no futuro, faz com que tomem decisões com base nessa expectativa. Essas decisões podem incluir aumento de preços de produtos e serviços para se antecipar à inflação e negociações salariais mais altas para compensar o aumento de preços previsto.

Se muitas pessoas agirem com base em suas expectativas de inflação, isso pode se concretizar. Por exemplo, se os empresários aumentarem os preços porque esperam inflação, isso de fato contribuirá para a inflação real.

A preocupação com futuros aumentos de preços pode afetar a demanda e a oferta. O Banco Central deve monitorar as expectativas de inflação e tomar medidas para controlá-las. A credibilidade do Bacen é crucial para influenciar as expectativas dos agentes econômicos.

5. Custos de produção elevados

Eles podem ter um impacto significativo na inflação e na economia em geral. Quando os preços das matérias-primas, como metais, petróleo ou alimentos, aumentam, os custos de produção também sobem.

As empresas precisam repassar esses custos para os preços dos produtos finais.

Salários mais altos ou encargos trabalhistas podem elevar os custos de produção. Se os trabalhadores exigirem aumentos salariais para compensar a inflação, isso afeta diretamente os custos das empresas.

Investir em tecnologia e processos eficientes pode ajudar a reduzir os custos de produção. Empresas que não conseguem se adaptar podem enfrentar maiores desafios. Afinal, custos de produção mais altos podem afetar a oferta de bens e serviços.

Se as empresas não conseguem manter margens de lucro adequadas, podem reduzir a produção ou até mesmo fechar.

Quando os custos de produção aumentam, as empresas podem repassar esses custos para os preços dos produtos. Isso contribui para a chamada inflação de custo, que é uma das causas da inflação geral.

Quais são as consequências da inflação?

Como sabemos, a inflação, como um todo, afeta a sociedade e o país de várias maneiras.

1. Perda do Poder de Compra

A inflação reduz o valor real do dinheiro. Com o aumento dos preços, a mesma quantidade de dinheiro compra menos bens e serviços. Isso afeta diretamente o padrão de vida das pessoas.

2. Redistribuição de Renda e Riqueza

A inflação afeta diferentes grupos de maneira desigual. Quem possui ativos que se valorizam com a inflação (como imóveis) pode se beneficiar. Por outro lado, aqueles com renda fixa ou poupança podem perder poder aquisitivo.

3. Incerteza Econômica

A inflação torna o ambiente econômico mais incerto. Empresas têm dificuldade em planejar investimentos e projetos de longo prazo. Consumidores ficam inseguros sobre o futuro.

4. Custos de Transação

A inflação gera custos adicionais nas transações comerciais. As pessoas precisam ajustar preços, contratos e salários com mais frequência.

5. Impacto nos Investimentos

A inflação afeta os retornos de investimentos. Investimentos de renda fixa podem ter rendimentos reais negativos. Investidores buscam ativos que protejam contra a inflação (como ações e imóveis).

6. Dificuldade no Planejamento Financeiro

A inflação dificulta o planejamento financeiro. Metas de poupança, aposentadoria e educação precisam ser reavaliadas constantemente.

7. Custo da Dívida Pública

Governos enfrentam maiores custos de serviço da dívida. Taxas de juros precisam compensar a inflação para atrair investidores.

8. Desincentivo à Poupança

Com inflação alta, as pessoas tendem a gastar mais e poupar menos. A poupança perde atratividade quando os retornos reais são baixos.

Em resumo, a inflação tem implicações profundas na economia, afetando desde o poder de compra individual até a estabilidade macroeconômica.

Como a inflação é calculada?

A inflação é calculada por meio de índices de preços, que medem a variação dos preços de produtos e serviços consumidos pela população. Dois dos índices mais importantes no Brasil são o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) e o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).

O IPCA é considerado o índice oficial de inflação pelo governo federal. Ele reflete a variação de preços de uma cesta de produtos e serviços consumida pela população.

A cesta é definida pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, que analisa o que as famílias consomem e quanto gastam em cada item. O IPCA leva em conta não apenas a variação de preço de cada item, mas também o peso que ele tem no orçamento das famílias.

O INPC também mede a variação de preços, mas sua cesta de produtos é um pouco diferente. Ele considera os preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda de até cinco salários mínimos. Assim como o IPCA, o INPC leva em conta o peso de cada item no orçamento dessas famílias.

Metodologia de Cálculo: Os índices são calculados a partir de uma média ponderada das variações de preços dos itens da cesta. Os preços são coletados regularmente em diferentes regiões do país. O resultado mostra se os preços aumentaram ou diminuíram de um mês para o outro.

Esses índices permitem acompanhar a evolução dos preços e são essenciais para a análise econômica e a tomada de decisões por parte do governo e dos agentes econômicos.

Quais são os tipos de inflação?

Podemos dividir a inflação em quatro tipos diferentes:

1. Inflação de Demanda

Ela ocorre quando a demanda agregada em uma economia supera a oferta agregada. Isso acontece quando a inflação continua aumentando à medida que o produto interno bruto real aumenta e o desemprego cai.

Em outras palavras, a economia se move ao longo da curva de Phillips, indicando um desequilíbrio entre a quantidade de bens e serviços demandados e a capacidade de produção disponível.

2. Custos

A inflação de custo, ou inflação de oferta, é consequência do aumento de custos da produção. Esse aumento pode ser na matéria-prima, na mão de obra, nos tributos, nas fontes de energia ou, até mesmo, na taxa de juros. Por fim, esse valor é, de certa forma, reparado para o consumidor final, como consequência, temos a inflação de custos.

3. Inercial

Esse tipo não tem como base nenhum índice, apenas o histórico econômico do país. Na verdade, se trata de um aspecto psicológico, uma sensação por parte do mercado econômico e suas vertentes de que a inflação está elevada. Dessa forma, os preços sobem de forma antecipada, causando de fato a inflação.

4. Inflação Estrutural

A inflação estrutural é decorrente da precariedade física dos ambientes onde são produzidos ou até mesmo transportados diversos bens de consumo no nosso país. Ao falarmos sobre inflação de um modo geral, temos uma ideia objetiva a respeito do aumento de preços que ocorre de tempos em tempos no mercado.

A inflação estrutural está relacionada diretamente com a estrutura física à qual as produções são submetidas. Por exemplo, equipamentos enferrujados ou em mau estado de conservação em uma fábrica podem influenciar diretamente na confecção dos bens, prejudicando sua qualidade.

A precariedade na infraestrutura produtiva eleva os custos de produção. Empresas precisam dispor de mais recursos para manter a qualidade dos produtos.

A inflação estrutural também pode ser aplicada às condições de transporte e armazenamento. Por exemplo, caminhões em mau estado de conservação ou estradas esburacadas podem afetar o produto final.

Qual é o impacto da inflação no nosso cotidiano?

Com a inflação, o dinheiro perde valor ao longo do tempo. Isso significa que precisamos gastar mais para comprar os mesmos produtos e serviços.

  • Preços mais altos para alimentos, roupas, combustíveis e outros itens essenciais, o que afeta diretamente o orçamento das famílias.
  • Metas de poupança, investimentos e aposentadoria precisam ser reavaliadas constantemente.
  • Investimentos de renda fixa podem ter rendimentos reais negativos quando a inflação é alta.
  • Contratos de aluguel e outros contratos precisam ser ajustados para compensar o aumento de preços.
  • Pessoas com menor renda podem sofrer mais com o aumento de preços. A necessidade de ajustar preços e contratos gera custos adicionais nas transações comerciais.

Quais são os principais índices de inflação?

1. IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo):

  • Calculado pelo IBGE, o IPCA é o índice de referência do sistema de metas para a inflação.
  • Mede o preço de uma cesta de consumo representativa para famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos em 13 áreas geográficas.
  • É utilizado para reajustar contratos, como aluguéis e títulos públicos.

2. INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor):

  • Similar ao IPCA, mas considera os preços de produtos consumidos por famílias com renda de até cinco salários mínimos.
  • Também é utilizado como referência para reajustes salariais.

3. IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado):

Composto por três subíndices:

  • IPA-M (Preços ao Produtor Amplo): Representa 60% do IGP-M.
  • IPC-M (Preços ao Consumidor do Mercado): Representa 30% do valor do IGP-M.
  • INCC (Custo da Construção do Mercado): Representa 10% do IGP-M.

4. IPCA-15:

  • É uma prévia do IPCA, com período de coleta do dia 16 do mês anterior ao dia 15 do mês de referência.Ajuda a antecipar tendências inflacionárias.
  • Como se dá a inflação no Brasil e como é medida?

O que é deflação?

A deflação é o oposto da inflação. Na inflação, os preços estão inflados, ao passo em que na deflação os preços são desinflados. Ou seja, na deflação os preços caem e o poder de compra da população sobe.

As causas da deflação estão ligadas às causas da inflação. Por exemplo, uma oferta superior à demanda pode levar à redução dos preços.

À primeira vista, a deflação parece positiva, mas ela também pode ser prejudicial no longo prazo. Por exemplo, em uma situação de declaração, as empresas podem ter prejuízo ao reduzir os preços e, com isso, optarem por reduzirem os custos, diminuindo a produção e demitindo funcionários.

O ideal é que a economia do país tenha uma inflação controlada, com os preços relativamente estáveis ao longo do tempo, com um crescimento que acompanhe o crescimento do país.

Fontes: BCB, Portal da Industria, Infomoney, Brasil Escola, Suno