Dólar zera perdas em novembro e fecha acima de R$5,63 com Fed e Ômicron; fiscal mantém risco elevado

Por José de Castro SÃO PAULO (Reuters) – O dólar fechou a última sessão de novembro em alta, acima de 5,63 reais e na máxima em um mês, impulsionado por chances de redução mais acelerada de estímulos nos Estados Unidos, mesmo num momento em que temores sobre a variante Ômicron do coronavírus se espalham pelo […]

30 de novembro de 2021 - por Reuters


Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar fechou a última sessão de novembro em alta, acima de 5,63 reais e na máxima em um mês, impulsionado por chances de redução mais acelerada de estímulos nos Estados Unidos, mesmo num momento em que temores sobre a variante Ômicron do coronavírus se espalham pelo mundo e nocauteiam ativos de risco, o que no fim levou a moeda a anular as perdas em novembro.

O dólar à vista fechou esta terça-feira em alta de 0,45%, a 5,6367 reais, maior valor desde 1º de novembro (5,6712 reais).

A moeda chegou a cair mais cedo na sessão, indo a uma mínima do dia de 5,5782 reais (queda de 0,59%) pouco antes das 12h30 (de Brasília). Mas logo depois o chefe do banco central dos Estados Unidos (Fed), Jerome Powell, começou a falar e teceu comentários que provocaram uma reviravolta nos movimentos.

Powell comentou sobre deixar de usar o termo “transitório” para se referir à inflação e que em dezembro o colegiado do Fed discutiria antecipar a conclusão do processo de redução de estímulos. Isso sugere enxugamento mais rápido de liquidez no país, o que, na prática, implica menor oferta de dólares, e com menor disponibilidade de moeda o preço sobe.

Além disso, encerrar mais rapidamente o programa de compra de ativos é o primeiro passo para o banco central começar a discutir aumentos de juros, cenário que parece mais possível conforme Powell fez duros alertas sobre a inflação nas falas desta terça.

Assim, o dólar reverteu o movimento e passou a subir, batendo uma máxima de 5,6715 reais, salto de 1,07%.

Veja a evolução intradiária da taxa de câmbio dólar/real (em cor mostarda) e do índice do dólar contra uma cesta de moedas de países ricos:

A divisa arrefeceu os ganhos, mas voltou a ganhar leve tração após a divulgação de dados mais fracos sobre a abertura de postos formais de trabalho no Brasil –que endossaram alertas sobre o desempenho da economia.

Lá fora, o dólar subia contra algumas divisas de risco, mas perdia valor frente a moedas de segurança, como iene e franco suíço, evidência de uma postura defensiva de investidores que estava por trás ainda da forte queda nas bolsas de valores em Nova York e do petróleo.

O temor sobre potenciais efeitos econômicos da disseminação da variante Ômicron do coronavírus –que alguns dizem ser mais transmissível– era citado como causa do tombo de ativos de risco nesta sessão, o que por sua vez ajuda a explicar a alta do dólar no Brasil e a queda do principal índice das ações brasileiras.

Com o novo dia de fortalecimento do dólar ante o real, a moeda praticamente zerou a queda acumulada em novembro, ficando com variação negativa de 0,09% –o dólar chegou a registrar baixa de 4,23% no mês até dia 11. Em 2021, a cotação salta 8,58%.

O mercado tentou embarcar em uma correção de possíveis excessos no preço do câmbio até o primeiro terço do mês, mas foi engolfado pelo ambiente global mais favorável ao dólar e pela percepção de piora nos fundamentos da economia brasileira.

“O Brasil está com fluxo cambial contratado com saldo positivo em 2021, mas isso não gera apreciação cambial, porque o prêmio de risco do país afetou diversos ativos domésticos”, disse Sergio Goldenstein, chefe da área de estratégia da Renascença.

“A principal solução não vem da política monetária, (a principal solução) seria a busca de uma política fiscal mais sólida, mas não é isso que tem sido perseguido nos últimos meses, e aí sobra tudo para a política monetária.”

O colegiado do Banco Central que decide o rumo dos juros (Copom) se reúne nos próximos dias 7 e 8 de dezembro para deliberar sobre a política monetária. A expectativa de economistas consultados pela pesquisa Focus do BC é de novo acréscimo de 1,50 ponto percentual (que levaria a taxa para 9,25% ao ano), mas no mercado há quem espere elevação de até 2 pontos percentuais.

O mercado vai monitorar com atenção ainda o encaminhamento da PEC dos Precatórios no Senado, depois de o projeto ter sido aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa.

O travamento da pauta no Senado mantém entre investidores receios sobre o risco de o governo lançar mão de alternativas como um novo Orçamento de Guerra para financiar o Auxílio Brasil, o que na véspera já afetou os preços do câmbio.

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