22 de abril de 2025 - por Letícia Rocha

Governo Trump confirma aumento de tarifas para 145%. As tarifas aplicadas pelos EUA sobre produtos chineses subiram para 145%, confirmou a Casa Branca. O valor se refere aos 125%, em resposta à retaliação de 84% promovida por Pequim, somados aos 20% que já estavam em vigor antes do anúncio das chamadas “tarifas recíprocas”. Ou seja, o clima segue quente entre as principais potenciais mundiais. No entanto, essa é apenas uma das notícias que vamos comentar hoje!
Também iremos abordar a viagem de Lula para Honduras, onde foi com o objetivo de discutir tarifas de Trump. O petista pretende articular uma reação conjunta do bloco ao tarifaço de Trump. No entanto, nos bastidores do Itamaraty, a avaliação é que uma reação conjunta é “improvável”.
Outra pauta é sobre uma avaliação feita pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. De acordo com o mesmo, a atual conjuntura mundial indica que “a economia não vai ser mais o fator determinante” nas eleições. Será mesmo?
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Internacional
Trump confirma aumento de tarifas para 145%
As tarifas aplicadas pelos Estados Unidos sobre produtos chineses subiram para 145%. O valor se refere aos 125%, em resposta à retaliação de 84% promovida por Pequim, somados aos 20% que já estavam em vigor antes do anúncio das chamadas “tarifas recíprocas”.
Além do aumento das tarifas para 145%, a ordem de Trump também incluiu a elevação da taxa sobre importações chinesas de baixo valor, atingindo em cheio as vendas de varejistas como Shein e Temu.
A medida, que entra em vigor no dia 2 de maio, eleva para 120% a alíquota aplicada a remessas com valor de até US$800. Trata-se do terceiro aumento nas tarifas em apenas oito dias.
Antes da posse de Trump, a isenção de tarifas para remessas de pequeno valor oferecia uma vantagem significativa para as plataformas de comércio eletrônico chinesas. No entanto, a nova medida representa um forte revés para esse modelo de negócios.
Além do aumento percentual, a ordem estabelece um custo fixo por pacote: US$100 a partir de 2 de maio, com nova elevação para US$200 em 1º de junho. Transportadoras que realizam as entregas poderão escolher entre pagar a alíquota percentual ou a tarifa fixa por pacote. Entretanto, só poderão alterar essa escolha uma vez por mês.
Mercados aceleram queda
Com a confirmação das tarifas pela Casa Branca, o índice Dow Jones recuou 3,85%, o S&P 500 4,59% e o Nasdaq cedia 5,38%. No Brasil, o Ibovespa também recuava, pressionado por Nova York e pelo petróleo.
Além das tarifas de Donald Trump, Pequim tem outro problema pela frente: os preços ao consumidor da China caíram pelo segundo mês consecutivo. Além disso, a deflação nos portões das fábricas se intensificou. Os preços ao consumidor caíram 0,4% em março e em fevereiro teve uma queda de 0,2%.
Ademais, a escalada da guerra comercial com os EUA aumentou as preocupações com o aumento das exportações não vendidas, o que pode reduzir ainda mais os preços domésticos.
Yuan cai ao menor nível frente ao dólar desde 2007
Para ajudar as exportações, o governo da China tem permitido a desvalorização do yuan frente às principais moedas globais. Por isso, o yuan onshore atingiu o menor nível frente ao dólar desde a crise financeira global.
A desvalorização do yuan frente à cesta de moedas torna os produtos chineses mais baratos em relação às exportações de outros países, o que aumenta sua competitividade. Isso pode compensar parte do impacto das tarifas de 125% impostas por Trump, que ameaçam paralisar o comércio entre as duas maiores economias do mundo.
Trump já acusou a China de manipular sua moeda para neutralizar os efeitos das tarifas. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, classificou o país como o “pior infrator” do sistema comercial internacional. Afirmou ainda que Pequim não deveria desvalorizar sua moeda diante das tarifas.
Como a batata frita ajuda a entender os estragos de Trump?
Durante décadas, a Pacific Valley Foods, com sede em Bellevue (Washington), ganhou um bom dinheiro vendendo produtos congelados, como batatas fritas e espigas de milho, para restaurantes na Ásia. No entanto, após o primeiro mandato de Trump, tudo foi ladeira abaixo. Principalmente, depois da perda do maior cliente da empresa: o KFC da China.
A empresa se tornou uma importante fornecedora de espigas de milho congeladas para os restaurantes KFC na China, quando este país se abriu para a economia mundial e viu um grande crescimento.
Entretanto, em 2017, Trump retirou os EUA da Parceria Transpacífica, acordo de livre comércio entre muitos países do Pacífico. Além disso, no ano seguinte impôs tarifas sobre as importações de aço e alumínio e a China retaliou com tarifas sobre produtos agrícolas dos EUA
A Pacific Valley enviou sua última remessa de milho congelado para a China no início de 2022. Por isso, com uma nova guerra comercial, isso ameaça afastar os clientes estrangeiros remanescentes da Pacific Valley no Japão, no México e no Oriente Médio.
Por isso, a receita da Pacific Valley Foods caiu 70% nos últimos 5 anos. Além disso, o número de funcionários também foi reduzido em 60% no mesmo período.
As mesmas tarifas que prejudicam a Pacific Valley, estão pressionando outros exportadores em todo o país.
Mas, não para por aí. Menos importações da Ásia, também significam menos navios chegando aos grandes portos de Washington. Ou seja, isso também limita as opções de transporte para as empresas americanas que enviam mercadorias na outra direção.
Apple reage
Em resposta às tarifas de importação impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a Apple adotou medidas estratégicas para minimizar os impactos em sua cadeia de suprimentos. A empresa fretou aviões cargueiros para transportar aproximadamente 600 toneladas de iPhones (cerca de 1,5 milhão de unidades) da Índia para os EUA desde março.
Essa movimentação ocorreu em um contexto onde as tarifas sobre produtos chineses foram elevadas para 125%, afetando significativamente a Apple. Afinal, tradicionalmente a empresa fabrica a maioria de seus dispositivos na China. Em contrapartida, as importações provenientes da Índia estavam sujeitas a uma tarifa menor que 26%, tornando-se uma alternativa mais viável para a empresa.
Para viabilizar essa operação, a Apple intensificou a produção na Índia. Para isso, aumentou em 20% a capacidade de suas fábricas, incluindo a operação aos domingos na principal planta da Foxconn em Chennai. Além disso, a empresa negociou com as autoridades indianas para reduzir o tempo de liberação alfandegária de 30 para 6 horas.
Essas ações refletem a estratégia da Apple de diversificar sua cadeia de produção e reduzir a dependência da manufatura chinesa. Principalmente nesse momento de tensões comerciais entre os EUA e a China. Analistas alertam ainda que sem tais medidas, os preços dos iPhones nos EUA poderiam aumentar consideravelmente devido às altas tarifas de importação.
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Nacional
Economia não será mais “fator determinante”
Na avaliação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a atual conjuntura mundial indica que “a economia não vai ser mais o fator determinante” nas eleições.
A declaração foi dada em resposta a uma pergunta feita por Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, sobre a queda de popularidade do governo Lula, apesar de o Brasil ter registrado mais de 3% crescimento econômico em 2024.
“Os governos do Macron e do Biden apresentavam bons indicadores econômicos, e não foram bem nas urnas”.
Segundo pesquisa Genial/Quaest, divulgada dia 2 de abril, 56% dos brasileiros desaprovam a terceira administração do petista, enquanto apenas 41% aprovam.
Lula viaja a Honduras para discutir tarifas de Trump
O presidente Lula (PT) está em Honduras para participar da Cúpula da Comunidade de Países Latino-americanos e Caribenhos (Celac). O petista pretende articular uma reação conjunta do bloco ao tarifaço de Trump. No entanto, nos bastidores do Itamaraty, a avaliação é que uma reação conjunta é “improvável”.
Paraguai e Argentina sinalizaram bloqueio
“Nós, agora, estamos preocupados com as decisões unilaterais do presidente dos EUA. Nós não sabemos qual será o efeito devastador disso na economia, inclusive na norte-americana. Me parece que está ficando cada vez mais visível que é uma briga pessoal com a China”, afirmou Lula.
No governo brasileiro, existe a interpretação de que Washington deixou para trás a “negligência benigna” na América Latina. E que agora, sob Trump, irão adota uma posição mais ostensiva de disputa geopolítica com a China, que avançou na região com a iniciativa Cinturão e Rota, também conhecida como a Nova Rota da Seda.
Com retórica ameaçadora, Trump tenta forçar pequenos países a romper relações com a China, como a ameaça de tomar o Canal do Panamá.
Candidatura feminina para chefiar a ONU
Além disso, Lula também tem aproveitado a viagem para defender que o bloco apoie uma mulher latino-americana para concorrer à sucessão do português António Guterres como secretário-geral da ONU.
A eleição do próximo secretário-geral das Nações Unidas ocorrerá em 2026 e, pelo acordo informal, será a vez da América Latina e do Caribe indicarem o nome.
Há, no entanto, entraves à articulação de Lula. Javier Milei da Argentina já sinalizou que vai buscar bloquear discussões de gênero, assim como fez no G-20, a OEA e o Mercosul.
Quer saber mais sobre o aumento das tarifas para 145% ou alguma outra notícia citada? Então, assista ao vídeo completo!