27 de novembro de 2025 - por Wilker Fagundes
Bitcoin despenca 35%: o pior mês desde 2022
O mercado de criptomoedas voltou a entrar em um daqueles momentos que fazem até os entusiastas mais otimistas lembrarem que, ali dentro, nada é garantido. O Bitcoin, que havia alcançado US$ 123 mil em outubro, mergulhou mais de 35% em poucas semanas, tocando US$ 84 mil e registrando o pior desempenho mensal desde o colapso generalizado de 2022.
O movimento não foi fruto de um único evento, mas de uma combinação de fatores que expôs mais uma vez a fragilidade estrutural desse mercado: fuga de capital institucional, aversão global ao risco e um efeito dominó provocado pelos próprios instrumentos que antes prometiam dar “respeitabilidade” ao setor, os ETFs.
ETFs de Bitcoin: saída recorde de US$ 3,7 bilhões em novembro
A queda acelerada ganhou força quando os ETFs de Bitcoin à vista nos EUA, celebrados como o marco da entrada definitiva do grande capital no mercado cripto, registraram uma saída líquida recorde de US$ 3,7 bilhões apenas em novembro, superando o recorde anterior de fevereiro.
Foi um resgate coletivo: uma ordem de venda gigante, concentrada e altamente visível, que empurrou o preço do ativo de forma brutal.
Ethereum também sangra
No Ethereum, a história foi parecida: ETFs ligados ao ETH já acumulam perdas superiores a US$ 1,6 bilhão no mês. Quando as maiores portas de entrada do dinheiro institucional começam a se tornar portas de saída, o efeito sobre a liquidez é imediato, e doloroso.
Mercado cripto perde US$ 3 trilhões: memórias do inverno de 2022
Com o sell-off, o valor total do mercado cripto caiu para abaixo de US$ 3 trilhões, o menor nível desde abril. A velocidade da correção reacendeu a memória do inverno de 2022, quando a derrocada da FTX transformou euforia em pânico quase da noite para o dia.
O que causou o colapso de 2022?
Vale lembrar como aquele ciclo se formou: juros baixíssimos, excesso de liquidez e um cenário macro que estimulava tomada de risco. Foi o período em que o Bitcoin alcançou US$ 68 mil, NFTs movimentaram quase US$ 25 bilhões e milhões de novos investidores chegaram ao mercado via apps simples e acessíveis, impulsionados pela pandemia.
Mas a realidade bateu à porta em 2022: inflação global, aperto monetário agressivo e o colapso de projetos que se vendiam como “revolucionários”, mas eram estruturalmente frágeis.
A verdade incômoda: cripto não está isolada do ciclo econômico
A partir dali, o mercado cripto descobriu uma verdade incômoda: ele não está isolado do ciclo econômico global; é, na verdade, um dos ativos mais sensíveis a ele.
A queda da stablecoin TerraUSD, a falência da Celsius e o derretimento das altcoins mostraram que, em momentos de estresse, o fluxo foge rápido e a confiança evapora. O “inverno cripto” deixou claro que, apesar da narrativa de descentralização, o setor depende profundamente de liquidez, juros baixos e apetite ao risco.
O paradoxo dos ETFs: legitimidade que amplifica volatilidade
É justamente aí que os ETFs entram como peça-chave do problema atual. O ETF à vista de Bitcoin foi criado para atrair capital institucional, investidores grandes, estruturados, que poderiam, na teoria, dar maturidade ao mercado.
Como os ETFs amplificam as quedas
Quando um ETF tem resgates volumosos, ele precisa vender Bitcoin no mercado à vista para entregar dinheiro aos cotistas. Ou seja: os fundos amplificam o movimento de queda. Se o investidor institucional sai, sai com força, leva o preço junto.
Isso revela um paradoxo: os ETFs ajudaram a legitimar o Bitcoin para um novo público, mas também trouxeram consigo um comportamento mais “tradicional”, mais sensível a ciclos econômicos e menos tolerante a volatilidade. A fuga recente mostra uma perda de confiança justamente entre o grupo que o setor mais queria conquistar.
O que o investidor comum precisa entender sobre ETFs de Bitcoin
O investidor comum precisa entender que a existência de ETFs não torna o Bitcoin menos volátil. O ETF apenas oferece uma forma mais simples, regulada e familiar de acessar o ativo, mas ele não transforma a natureza do Bitcoin.
Quando o mercado vira, ele vira com a mesma intensidade de antes, às vezes até mais rápido, porque agora há mecanismos de venda mais eficientes.
O recado da correção: Bitcoin continua sendo ativo de risco
No fim, o recado que essa correção deixa é duro, mas honesto: o Bitcoin continua sendo um ativo extremamente sensível ao humor global, totalmente exposto ao ciclo de juros e à confiança institucional.
Três verdades sobre investir em criptomoedas
Quem investe precisa saber que está lidando com:
- Um ativo de alto risco, sem fluxo previsível de caixa
- Sem valuation tradicional como empresas ou imóveis
- Altamente dependente de narrativa e sentimento de mercado
Isso não invalida sua tese de longo prazo, mas obriga qualquer investidor prudente a entender que o risco não desapareceu.
Diversificação: a única defesa real contra a volatilidade cripto
A diversificação ainda é a única defesa real contra movimentos dessa magnitude. E, enquanto a governança, a regulação e a confiança institucional não se estabilizarem, o mercado cripto seguirá sendo aquilo que sempre foi: uma montanha-russa que sobe rápido, cai mais rápido ainda e exige frieza, gestão de risco e, principalmente, humildade para reconhecer que ninguém está imune ao ciclo.