3 de dezembro de 2024 - por Raul Sena (Investidor Sardinha)
Na última semana ocorreu um pequeno desconforto entre Brasil e França. Isso ocorreu depois que o CEO do Carrefour Alexandre Bompard, deu uma declaração que não agradou em nada os brasileiros.
Os produtores de carne franceses começaram a reclamar e a fazer uma série de protestos em defesa do próprio preço. Porque eles não conseguem ser competitivos com relação à carne produzida no Mercosul. Eles alegam que isso se deve a alta tributação, no entanto, está muito relacionado ao solo e ao método de produção que eles utilizam, que não é tão eficiente quanto o os brasileiros utilizam.
Por isso, nós exportamos carne por um preço muito melhor. E por isso, eles tem exigido que a carne daqui seja tributada, para que eles consigam ser competitivos.
Declação do CEO do Carrefour
Diante dessa situação, o CEO do Carrefour francês soltou uma nota afirmando que iria parar de comercializar carne do Mercosul. Além disso, ele afirmou ainda que as carnes produzidas aqui “não atendem às exigências e normas francesas.” E foi esse trecho em específico que criou um atrito aqui no Brasil. Afinal, nós exportamos carne para todo o mundo e as exigências que nossos frigoríficos atendem vão muito além das normas francesas.
Nossa carne tem selo de qualidade e autenticidade de inúmeros países. Exportamos carne halal para os muçulmanos, carne kosher para os judeus, exportamos também para a China que tem uma série de restrições. Enfim, esses são apenas alguns exemplos de países com normas muito específicas e que são devidamente atendidas.
Reação à declaração
E é claro que essa declaração gerou uma resposta à altura aqui no Brasil. O setor de proteínas respondeu da seguinte maneira:
“Se o CEO Global do Grupo Carrefour, Alexandre Bompard, entende que o Mercosul não é fornecedor à altura do mercado francês – que não é diferente do espanhol, belga, árabe, turco, italiano –, as entidades abaixo assinadas consideram que, se não serve para abastecer o Carrefour no mercado francês, não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país.”
Carta das quatro maiores entidades do setor
Depois da declaração, os cinco principais frigoríficos que atendem ao Carrefour Brasil, entre elas a Masterboi, a JBS e a Marfrig pararam de atender todas as lojas da companhia no mundo.
Mesmo após o encerramento desse abastecimento, o CEO continuou a afirmar que estava tudo certo e que essa medida havia sido tomada apenas por alguns produtores. E isso gerou uma nova resposta:
“Foi uma decisão da indústria, e ninguém vai voltar atrás até que o CEO global dê uma declaração se retratando que atenda a demanda dos produtores.”
E por isso, por conta dessa pequena declaração do CEO do Carrefour para agradar os produtores franceses, ele causou um dano gigantesco em seu segundo maior mercado.
CEO do Carrefour pede desculpas
“Na França, o Carrefour é o primeiro parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França, e assim seguiremos fazendo. A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio (…)
Do outro lado do Atlântico, no Brasil, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim. (…)
O Grupo Carrefour Brasil é profundamente brasileiro, com mais de 130.000 colaboradores, se desenvolveu e continua se desenvolvendo sob minha presidência em parceria com produtores e fornecedores do Brasil, valorizando o trabalho do setor produtivo e sempre em benefício de nossos clientes. Nos últimos anos, o Grupo Carrefour Brasil acelerou seu desenvolvimento, dobrando tanto o volume de seus investimentos no país quanto suas compras da agricultura brasileira. Mais amplamente, o Brasil é o país em que o Carrefour mais investiu sob minha presidência, o que confirma nossa ambição e nosso comprometimento com o país. Assim, seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil.
Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas. O Carrefour está empenhado em trabalhar, na França e no Brasil, em prol de uma agricultura próspera, seguindo nosso propósito pela transição alimentar para todos. Asseguro, Senhor Ministro, nosso compromisso de longo prazo ao lado da agricultura e dos produtores brasileiros (…)”
Minha opinião
Na minha opinião essa carta não foi o suficiente, ele publicou isso apenas porque ficou com medo de ser demitido. Acredito que ele deveria ter falado o que foi que incomodou ele realmente, afinal, ele se referiu ao processo de qualidade da nossa carne, por questões de meio ambiente e ele não citou nada a respeito disso nessa nota. Eu, se fosse da indústria, não aceitaria esse pedido de desculpas. Acredito que deve ser um pedido de desculpa pessoal.
Analisando ações do Carrefour
Enfim, por conta de tudo isso, o pessoal começou a falar que o Carrefour iria quebrar e etc. Mas o Carrefour já é quebrado. Analisando as ações da empresa no último ano, eles tiveram uma queda de 41%. Além disso, é uma rede extremamente complicada, porque o varejo alimentício no Brasil tem um margem extremamente apertada.
Analisando os últimos 12 meses a queda é de 38% e nos últimos 5 anos é de 68% e no período máximo é de 53%. Ou seja, é uma empresa extremamente complicada do ponto de vista financeiro. Além disso, o P/L da empresa é de 54,77%, o P/VP é de 0,67 ou seja está abaixo do mercado. Não tem lucros consistentes, a dívida líquida/ebtida está em 3,70 que é um endivadamento extremamente alto. Ou seja, uma situação realmente muito ruim, muito complicada.
Apesar da receita gigantesca, não tem lucros consistentes. E por isso, não atende aos padrões brasileiros dos investidores fundamentalistas. Quer conferir a declaração do CEO do Carrefour na íntegra? Então assista ao vídeo!
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