31 de outubro de 2025 - por Millena Santos
Blended finance é uma estratégia que combina recursos públicos e privados para impulsionar iniciativas com impacto social e ambiental. A ideia é criar parcerias que permitam financiar projetos que, sozinhos, talvez não saíssem do papel.
Neste texto, a gente te conta tudo sobre essa estratégia. Vem com a gente!
O que é blended finance?
Quando se fala em blended finance, ou financiamento misto, estamos falando de uma forma de unir forças para tirar projetos do papel. Nesse modelo, recursos públicos, verbas de instituições de fomento ou doações filantrópicas se juntam ao capital de investidores privados.
É uma parceria que funciona a partir de união de forças, digamos assim, para iniciativas que geram impacto social, ambiental ou ajudam no desenvolvimento de regiões que precisam de mais atenção.
O ponto interessante é como o risco financeiro fica mais equilibrado. A presença de recursos públicos ou filantrópicos dá mais segurança a quem investe, tornando a participação do setor privado mais atrativa.
Assim, empresas e investidores têm mais abertura para apoiar projetos que, sem esse apoio inicial, talvez nunca sairiam da ideia.
No fim das contas, o maisimportante é que esse modelo amplia oportunidades e ajuda a fortalecer soluções que trazem benefícios genuínos para a sociedade, especialmente onde o mercado, sozinho, ainda não consegue chegar.
Objetivos do blended finance
A proposta do blended finance é criar um caminho para que iniciativas com impacto social e ambiental consigam se sustentar financeiramente a longo prazo, sem depender apenas de doações ou recursos públicos.
O objetivo é combinar diferentes fontes de capital, como investimento privado, fundos filantrópicos e instituições públicas.
Assim, é possível diminuir riscos, tornar projetos mais atrativos para investidores tradicionais e, ao mesmo tempo, ampliar os resultados positivos para a sociedade e para o meio ambiente.
No fundo, trata-se de construir modelos de investimento que unam propósito e viabilidade financeira, permitindo que negócios de impacto ganhem força, cresçam e gerem transformação.
Como funciona o blended finance?
De forma geral, o blended finance funciona a partir da união de dois tipos de capital que se complementam dentro de um mesmo projeto. Assim, vai criando um ambiente em que investimentos com interesse social ou ambiental se tornem mais atrativos também para quem busca retorno financeiro.
Essa estrutura costuma se apoiar em dois pilares principais:
- Capital catalítico: costuma vir de instituições públicas, organizações filantrópicas ou fundos de impacto. Esse capital entra primeiro, assumindo parte dos riscos e criando condições mais seguras para que outros investidores participem. Ele, por exemplo, pode oferecer garantias, taxas diferenciadas ou cobertura de possíveis perdas iniciais.
- Capital comercial: é o dinheiro vindo de investidores privados que buscam retorno financeiro. Esses investidores sentem maior confiança em colocar recursos no projeto porque o capital catalítico já está lá, ajudando a reduzir o risco e a tornar a operação mais viável.
No fim das contas, a ideia é criar um círculo positivo: projetos que trazem impacto social ou ambiental ganham apoio para serem efetivamente executados, investidores privados têm acesso a novas oportunidades com risco controlado, e a sociedade é beneficiada com soluções que talvez não aconteceriam sem essa combinação de esforços.
Exemplos do blended finance
No Brasil, o BNDES tem sido um dos principais agentes nessa frente. O banco vem estruturando programas que unem recursos não reembolsáveis com capital privado, permitindo condições mais vantajosas para projetos voltados à bioeconomia, restauração florestal e desenvolvimento sustentável de territórios.
No cenário internacional, um exemplo é o Refugee Impact Bond. Esse modelo foi criado com o objetivo de apoiar a integração e a capacitação de pessoas refugiadas.
Nesse caso, instituições filantrópicas entram assumindo parte dos riscos iniciais, enquanto investidores privados têm a possibilidade de obter retorno financeiro baseado no desempenho do projeto, ou seja, dependendo de indicadores reais de inclusão no mercado de trabalho e adaptação social dos participantes.
Assim, os resultados positivos significam impacto social direto e também retorno para quem investiu.
Por fim, voltando para o Brasil, outro exemplo é a parceria entre a Sitawi Finanças do Bem e o Fundo Vale. A iniciativa utiliza blended finance para oferecer condições diferenciadas de crédito a empreendimentos localizados na Amazônia.
Esses negócios geralmente atuam com foco no desenvolvimento comunitário e na preservação ambiental, e muitas vezes não teriam acesso a financiamento tradicional.
Vantagens e desafios do blended finance
Vantagens
- Possibilidade de lucro: ao contrário de doações ou iniciativas puramente filantrópicas, o blended finance cria espaço para que investidores privados tenham retorno financeiro, sem deixar de contribuir com causas de impacto.
- Redução de riscos: o capital catalítico, que normalmente parte de setores públicos ou organizações sociais, ajuda a absorver parte dos riscos iniciais. Isso aumenta a confiança de investidores privados e facilita a entrada de mais recursos no projeto.
- Ampliação de oportunidades: com mais segurança e estrutura, projetos que antes não conseguiam sair do papel, como iniciativas ambientais, educação, saúde ou inclusão social, passam a ter chances reais de serem financiados.
- Flexibilidade na estruturação: esse modelo permite criar arranjos financeiros adaptados às características de cada projeto, desde o tipo de garantia até o formato dos retornos. Isso ajuda a realizar iniciativas em diferentes setores e escalas.
Desafios
- Medição de impacto: acompanhar e comprovar resultados sociais ou ambientais de forma clara é um dos maiores desafios. Afinal, não basta investir, é preciso mostrar o impacto gerado.
- Complexidade na estrutura: combinar diferentes perfis de investidores, cada um com objetivos e limitações próprias, pode tornar o processo mais detalhado e exigir uma governança bem organizada.
- Transparência: para que tudo funcione, é essencial que as informações sejam claras, acessíveis e confiáveis. A falta de alinhamento entre os participantes pode comprometer a confiança e a continuidade do projeto.
Relação entre o blended finance e o investimento de impacto
O blended finance e o investimento de impacto caminham juntos, mas não são iguais.
Enquanto o investimento de impacto tem como objetivo aplicar recursos em projetos que gerem benefícios sociais ou ambientais, sem abrir mão de um retorno financeiro, o blended finance funciona como uma estratégia que facilita esse processo.
Nesse modelo, entram diferentes fontes de capital, público, privado e filantrópico, trabalhando juntas. Os recursos públicos ou filantrópicos costumam assumir parte dos riscos ou oferecer condições mais favoráveis, criando um ambiente mais seguro para atrair investidores privados.
Já o investimento de impacto é a prática de colocar esse dinheiro em projetos que realmente transformam algo, desde iniciativas ambientais até programas de inclusão social.
Blended finance no Brasil
No Brasil, essa forma de combinar diferentes fontes de financiamento vem ganhando força, principalmente quando a proposta é apoiar projetos ligados ao desenvolvimento sustentável.
Como a gente viu, o BNDES tem usado recursos não reembolsáveis para incentivar investimentos em áreas como bioeconomia florestal, melhoria dos espaços urbanos e iniciativas de economia circular.
A ideia é criar condições mais favoráveis para que projetos com impacto social e ambiental consigam avançar e atrair novos investidores.
Outro exemplo é o Eco Invest Brasil, programa lançado pelo Tesouro Nacional. O objetivo é reduzir o risco cambial em operações voltadas para a chamada “economia verde”.
Na prática, isso dá mais segurança para empresas e investidores que desejam financiar projetos relacionados à transição energética e à descarbonização.
Importância do blended finance
Falar sobre blended finance é essencial porque essa abordagem tem o potencial de destravar projetos socioambientais que, muitas vezes, não sairiam do papel apenas com recursos tradicionais.
Ao combinar diferentes tipos de capital e equilibrar risco e retorno, essa estratégia cria espaço para iniciativas que buscam impacto positivo em larga escala.
Por isso, aprofundar o debate e ampliar a compreensão sobre o blended finance é um passo importante para fortalecer políticas públicas, incentivar o setor privado a participar de soluções sustentáveis e abrir novas possibilidades de investimento para causas que beneficiam tanto a sociedade quanto o meio ambiente.
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Fonte: Anbima, Sitawi, Go! Blended.