22 de novembro de 2024 - por Raul Sena (Investidor Sardinha)
As ações da Americanas dispararam 300% nos últimos dias, o que tem gerado muitas especulações sobre o momento ideal para investir na empresa. Porém, antes de discutir se agora é a hora de comprar, é importante compreender o contexto histórico da companhia.
Em janeiro de 2023, Sergio Rial assumiu a presidência da Americanas e, ao assumir, revelou um rombo bilionário nos balanços financeiros da empresa, causado por manipulações feitas pelos antigos dirigentes. Esse escândalo levou a empresa a solicitar recuperação judicial.
Durante o processo de recuperação, a Americanas enfrentou dificuldades para apresentar seus balanços trimestrais e corrigir os números anteriores. Só em março de 2023, a empresa divulgou seu plano de recuperação, que envolvia a capitalização de R$10 bilhões pelos acionistas de referência, além da conversão de dívidas em ações.
A Polícia Federal chegou a realizar uma operação contra os ex-diretores da companhia, mas, infelizmente, os desdobramentos legais não foram satisfatórios. Apesar das investigações, ninguém foi preso, e os que foram detidos logo foram liberados, o que deixou um sentimento de impunidade no mercado.
Em setembro de 2024, a Polícia Federal identificou 41 suspeitos de envolvimento no esquema. Em outubro, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) acusou 8 ex-executivos da empresa por uso indevido de informações privilegiadas. Agora, em novembro de 2024, a Americanas voltou a registrar lucro, marcando um possível ponto de virada em sua recuperação financeira.
Americanas volta a registrar lucro
No último trimestre, a Americanas registrou um lucro líquido de R$10,27 bilhões, e, na semana de 19/11/2024, as ações da empresa apresentaram uma alta impressionante de 323%.
À primeira vista, com a ação cotada a R$13, pode parecer que a empresa está em um momento excelente. No entanto, se considerarmos os grupamentos realizados, quando as ações estavam com valores muito inferiores, vemos que, atualmente, elas estão avaliadas em apenas 0,04% do seu valor anterior. Em outras palavras, a empresa ainda apresenta uma queda de 99,97% em relação ao seu valor de mercado original. Portanto, vale ressaltar que, apesar da recente alta, a Americanas ainda está significativamente desvalorizada, e é importante ter isso em mente ao avaliar o momento atual.
O que fez a Americanas acabar com suas dívidas?
Mas afinal, o que explica os resultados e o relatório atuais?
Um dos fatores que contribuíram para o desempenho recente da Americanas foi a renegociação de sua dívida. Durante o processo de recuperação judicial, a empresa obteve descontos substanciais com seus credores, o que é conhecido como “haircut”. Esse valor foi contabilizado como receita financeira, impactando positivamente o lucro da companhia. Especificamente, um acordo com os acionistas resultou em um haircut de R$11,8 milhões, que entrou na contabilidade como “receita financeira”.
Embora isso não tenha eliminado as dívidas da Americanas, a empresa pagou uma parte significativa de seus compromissos com ações, o que resultou em uma redução substancial das dívidas no balanço. No entanto, é importante destacar que a receita líquida da empresa não sofreu alterações.
Com esse movimento, a Americanas conseguiu eliminar quase que completamente suas dívidas concursais. Hoje, a empresa possui uma dívida equivalente ao seu volume de caixa e recebíveis. Além disso, de acordo com o relatório divulgado, o patrimônio líquido da companhia foi revertido de um valor negativo de R$30,4 bilhões para um valor positivo de R$5,7 bilhões no final de setembro de 2024.
Para mim, não seria surpreendente que o 3G Capital, principal grupo por trás da Americanas, não deixasse a empresa falir, visto que isso teria um impacto significativo sobre outras grandes empresas do grupo. Portanto, era esperado que eles adotassem uma estratégia mais arrojada para resolver a situação. No entanto, o que vemos é uma empresa que, apesar dos avanços, ainda enfrenta desafios consideráveis.
Por que eu não investiria na Americanas?
Analisando os dados históricos da Americanas, fica evidente que a empresa nunca teve lucros consistentes ao longo do tempo. Além disso, sempre esteve endividada, o que, do meu ponto de vista, torna a empresa uma escolha de investimento arriscada, especialmente para aqueles que realmente se preocupam com a saúde de sua carteira no Brasil, considerando que ela faz parte do segmento de varejo.
Boa parte das grandes empresas de varejo no Brasil, independentemente da qualidade da gestão, enfrentaram sérios problemas de liquidez durante momentos de crise. Nenhuma delas conseguiu se manter de pé sem grandes dificuldades. As que sobreviveram, geralmente o fizeram por meio de fusões e pacotes substanciais de ajuda financeira. Isso pode ser observado em várias empresas que já passaram por recuperação judicial, e as que ainda não passaram, é muito provável que também enfrentem esse processo em algum momento.
Um exemplo disso é o Magazine Luiza, que entrou em recuperação judicial, teve um período de recuperação, mas agora corre o risco de enfrentar novamente dificuldades. A Polishop, mesmo sendo bem administrada, também entrou recentemente em recuperação judicial. Esses casos demonstram como o segmento de varejo tem sido vulnerável às pressões econômicas e financeiras.
Situação do varejo no Brasil
A margem do varejo no Brasil é extremamente apertada, o que faz com que seja muito difícil para empresas desse segmento sobreviver aqui.
Enfim, é uma situação difícil, desejo toda a boa sorte para a Americanas. Apesar de acreditar que não é um bom investimento, é uma empresa que empresa milhares de pessoas. Por isso, fico feliz com essa melhora dos resultados e a redução das chances de que a empresa vá à falência nos próximos anos. Desejo que empresa possa se recuperar, para continuar empregando pessoas. Estamos falando de milhares de trabalhadores, não dá para fazer piada a respeito, é uma das maiores varejistas do país.
Quer entender mais detalhadamente sobre a situação atual da Americanas? Então, assista ao vídeo completo!
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