1 de julho de 2024 - por Raul Sena (Investidor Sardinha)
Recentemente o governo optou por contratar serviços de inteligência artificial para analisar alguns processos, e eu me pergunto: é o fim dos advogados?
Neste artigo vou então comentar sobre essa decisão do governo e analisar quais os riscos que essa tecnologia traz para a profissão dos advogados.
Governo contrata ChatGPT para a AGU
Em 12 de junho de 2024, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva contratou a Microsoft e a OpenAI para implementar o ChatGPT na Advocacia Geral da União (AGU).
O motivo é acelerar a análise de milhares de ações judiciais, com foco em temas que geram grande impacto fiscal nos cofres públicos.
No entanto, isso não significa que o governo quer utilizar a ferramenta para decidir resultados de processos, em um primeiro momento. E sim utilizar as IAs para auxiliar na gestão dos precatórios, ou seja, as dívidas resultantes de decisões judiciais desfavoráveis.
Para 2025, o governo estima gastar R$ 70,7 bilhões de reais com decisões perdidas em última instância. Essa quantia, porém, é sem incluir as requisições de pequeno valor (RPV), que ficam em torno de R$ 30 bilhões. Ou seja, somando todos os encargos projetados, os custos sobem para além de R$ 100 bilhões.
Essa projeção representa um enorme salto em comparação aos R$ 37 bilhões pagos em 2015, demonstrando a crescente necessidade de uma gestão eficiente desses processos. Esse valor equivale a 1% do PIB brasileiro, superando em 15% ao estimado para pagar abonos salariais e seguros-desemprego para o próximo ano.
A aplicação da tecnologia
Ainda de acordo com a notícia, se espera que a AGU consiga identificar com a ferramenta informações relevantes que possam sinalizar quais ações em aberto têm maior chance de resultar em perda e sugerir outras estratégias de defesa.
Ou seja, a IA vai verificar as informações dos processos a fim de identificar maneiras de impedir o governo de perder decisões ou pelo menos diminuir os gastos com elas.
Estas ferramentas também produzirão estatísticas e análises dos acervos de processos, auxiliando na defesa e na proposta de acordos que geram maior impacto fiscal. Por fim, também é esperado que ela ajude no resumo de documentações, além da produção de manifestações para apresentar tramitações de projetos na justiça. A intenção é diminuir o tempo de análise dos processos e com isso evitar ter tantos prejuízos com os processos.
As IAs adotarão a base de conhecimentos já preexistente na AGU como contexto. Dessa forma será possível manter o alinhamento com as teses e posicionamentos da instituição, além de comparar decisões anteriores e sugerir diferentes linhas de ação.
O governo está substituindo os advogados pela IA?
Segundo a AGU, esse definitivamente não é o fim dos advogados. Muito pelo contrário, eles garantem que todo o processo de análises que a ferramenta realizar serão supervisionados por seres humanos.
No entanto, embora o órgão afirme que a ferramenta não substituirá profissionais humanos, existe uma tendência de redução na necessidade de novos concursos públicos para essa função.
Isso porque, se antes eram necessários 20 profissionais para analisarem esses textos, com a recente mudança, apenas um que saiba lidar com a tecnologia será necessário. Por isso, a medida pode gerar muitas críticas e reações, principalmente de entidades como a OAB, que pode argumentar que a tecnologia está substituindo a mão de obra humana.
Além disso, já existem críticas sobre a utilização de IA para a realização de tarefas, já que a ferramenta é conhecida por se apropriar de conteúdos feitos por pessoas para criar textos, imagens e outras mídias. Inclusive, é exatamente o que a IA fará pela AGU, utilizando como base os conteúdos de profissionais para embasar suas análises.
Contudo, é interessante para o governo se tornar menos burocrático e mais enxuto ao adotar esse tipo de ferramenta, e até fazer o mesmo em mais áreas. Dessa forma, além de economizar muito dinheiro, pode aumentar significativamente a eficiência da máquina estatal.
A carreira da advocacia está em perigo?
Mas isso significa que os advogados estão obsoletos e vão todos virar Uber? É claro que não. Na verdade, o que essa mudança aponta é a necessidade de mais advogados capacitados para operarem as tecnologias de inteligência artificial. Com isso, surgirá a possibilidade de realizar novos concursos para profissionais qualificados ocuparem as novas vagas.
Embora exista um medo de substituição por parte das tecnologias, o que se desenha no horizonte é a criação de novas profissões. Ou seja, programadores para lidarem com os bugs, analistas de prompts para lidarem com os erros nos padrões, e assim por diante.
Isso significa que a tendência é haver uma facilitação das tarefas cotidianas dos profissionais através das ferramentas, e até mesmo a simplificação de linguagens hoje ainda complicadas de entender, como jargões técnicos e jurídicos.
Como investir em empresas de Inteligência Artificial?
Para aqueles interessados em investir no setor de IA, existem diversos ETFs focados em empresas de robótica e inteligência artificial nas bolsas internacionais.
Antes de aplicar em qualquer um desses fundos, o indicado é pesquisar e comparar a reputação e a performance deles. O site etf.com é um dos meios que recomendo para realizar essa sondagem.
Alguns ETFs famosos que podem ser encontrados por lá incluem o BOTZ – Global X Robotics & Artificial Intelligence ETF -, e o ROBO – Global Robotics and Automation Index ETF. Esses fundos contam com diversas empresas conhecidas do ramo da tecnologia, robótica e inteligência artificial em seu portfólio.
Investir em ETFs oferece uma forma diversificada e potencialmente menos arriscada de se expor ao crescimento desse setor, ao contrário do que seria aplicar em uma empresa específica.
Mas para fazer isso da maneira correta, pesquise e analise cada fundo, a fim de identificar quais estão nessa pela especulação e quais são confiáveis o suficiente para fazer valer seu investimento.
Dá uma olhada neste meu vídeo onde mostro 10 ETFs que você pode se interessar em comparar:
Investir em IA é arriscado?
Existe uma grande possibilidade do advento das IAs inicialmente ser mais uma bolha de investimentos, assim como as .com foram no passado. Por enquanto, é muito cedo para ter certeza de qualquer coisa. Mas qualquer especulação com IA na bolsa de valores capta altas somas, e existe o risco de ganho ou perda.
Com a maturidade da utilização das IAs em algumas áreas, e a eliminação delas em outras que exigem atuação 100% humana, a identificação de investimentos certeiros será maior.
Diferente do que se pensa, é possível demorar algum tempo para que as IAs tenham a capacidade de substituírem 100% os seres humanos. Atualmente, elas estão presentes mais como ferramentas complementares do que substitutas autônomas.
Quer aprender a investir e ficar por dentro das novas tecnologias e o mundo das finanças? Faça a sua análise de perfil na AVUP. Se receber aprovação, você vai receber conhecimento relevante para investir no Brasil e em empresas ao redor do mundo todo.
Aproveite e se informe também sobre as principais novidades do mundo das finanças pelos canais @investidorsardinha no Youtube e @oraulsena no Instagram.
Não deixe de conferir DESEMPREGO EM MASSA? A verdade sobre o avanço das IAs