O que é turnaround? Conheça o caso da Bombril

30 de janeiro de 2024, por Raul Sena (Investidor Sardinha)

Tempo de leitura médio: 5 min, 10 seg


Sabe quando tudo dá errado mas depois você consegue dar a volta por cima? É o que chamamos no mercado financeiro de turnaround. O termo, em inglês, pode se aplicar a muitas empresas da bolsa de valores, como a famosíssima Bombril (BOBR4). E é sobre ela que vamos falar no artigo de hoje.

O que é turnaround?

O termo turnaround significa, em bom português, “dar a volta por cima”. É empregado no mercado financeiro quando uma empresa enfrenta uma crise muito séria ou um longo processo de recuperação judicial.

Mas, ao invés de falir, a companhia consegue superar a má fase e voltar a ser lucrativa. Aparentemente, é isto o que está acontecendo com a Bombril. Será mesmo?

O que aconteceu com a Bombril (BOBR4)?

A Bombril foi fundada em 1948, na capital paulista, e se tornou amplamente conhecida pela esponja de aço de “1001 utilidades”. Mas, apesar do imenso sucesso do seu principal produto, a empresa enfrentou sérios problemas financeiros e de gestão.

Tudo começou depois da morte de seu fundador, Roberto Sampaio Ferreira, em 1981. De lá pra cá, a empresa se envolveu em disputas societárias que culminaram em graves acusações de fraudes e irregularidades internas.

Bombril pede recuperação judicial

A situação da Bombril se agravou em 2003, quando a empresa se viu atolada em dívidas e entrou com um pedido de recuperação judicial. Ou seja, foi a via de escape encontrada, à época, para evitar a falência.

O processo judicial acabou finalizado em 2006. Mas, nos anos seguintes, a companhia continuou sem fôlego para manter 100% das operações.

Em 2013, os produtos da marca chegaram a sumir dos supermercados e, em 2015, a empresa acumulava dívidas de quase R$ 1 bilhão.

No entanto, depois de uma grande reestruturação, em 2017, as coisas começaram a mudar.

Turnaround: a Bombril deu a volta por cima?

Olhando apenas os números, a Bombril parece ter conseguido dar a volta por cima. Depois do processo de reestruturação, a companhia de fato se tornou lucrativa e competitiva.

Nos últimos 8 anos, entre 2016 e 2023, a empresa fechou no prejuízo apenas em 2019.

Na prática, isso significa que a Bombril pode ter atingido uma certa maturidade operacional que lhe permite voltar a crescer e gerar valor aos acionistas.

Apesar disso, existe um importante sinal de alerta que não podemos ignorar.

As dívidas e o turnaround da Bombril

Embora tenha apresentado bons números nos últimos anos, a Bombril ainda é uma empresa extremamente endividada. E isso pode ser fatal no seu processo de turnaround.

A Bombril encerrou o 3º trimestre de 2023 com uma dívida na casa dos R$ 400 milhões.

Ou seja, trata-se de um endividamento muito elevado para uma empresa que tem menos de R$ 300 milhões em valor de mercado e que vem lucrando uma média de R$ 60 milhões por ano.

De qualquer forma, a Bombril parece estar no caminho certo. E, para 2024, já começou a investir em novos projetos. O mais emblemático é a criação de uma loja conceito da marca.

O que é a loja conceito da Bombril?

A Bombril decidiu inovar e criou uma loja conceito na cidade de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, perto da principal fábrica da empresa.

A unidade tem 90 metros quadrados e promete uma experiência única para os consumidores. Os clientes vão ter acesso a toda a linha de produtos da Bombril, que também é dona de 16 marcas, como Mon Bijou, Limpol, Pinho Bril e Sapólio Radium.

Mas, a loja promete mais. Segundo os idealizadores, o espaço vai ser usado para conhecer melhor os clientes, testar novos produtos e até fazer treinamento para os funcionários.

Dessa forma, a Bombril espera receber mais de mil visitantes por semana no novo estabelecimento. E, no futuro, quer abrir novas lojas em outras cidades, também perto das fábricas, seguindo o mesmo modelo de negócio.

Vale a pena investir em empresas em turnaround?

Diante de tudo que vimos no exemplo da Bombril, fica uma dúvida bastante pertinente. Vale a pena investir em empresas que estão em processo de turnaround?

No vídeo acima (do canal Investidor Sardinha) eu explico, em detalhes, que a resposta depende de dois grandes fatores. Primeiro, você precisa analisar a empresa a fundo para não entrar numa latada.

Isso porque, na maioria dos casos, ou a empresa acaba falindo ou não consegue entregar resultados consistentes no futuro.

Além disso, e principalmente, você precisa dosar o quanto vai investir (caso a empresa passe no seu crivo).

Se para você aquele for um caso claro de turnaround, pode ser “ok” fazer alguns aportes. Mas você precisa ser extremamente cauteloso na hora de definir o percentual investido.

O ideal é que seja um montante bem baixo. Assim, caso a empresa quebre ou não consiga se recuperar de verdade, você não coloca todo o seu patrimônio a perder.

Turnaround: como saber se uma empresa vai se recuperar?

O exemplo da Bombril deixa claro que é dificílimo saber qual empresa vai conseguir dar a volta por cima depois de uma crise muito forte.

Grande parte das companhias com ações negociadas na bolsa de valores acabou ficando pelo caminho depois de um processo de recuperação judicial. E algumas conseguiram seguir em frente.

No caso da Bombril, mesmo passados quase 20 anos desde que a empresa saiu da recuperação judicial, ainda não dá pra cravar um turnaround.

Logo, a dica de ouro é uma só: não faça nenhuma loucura com o seu dinheiro!

Lembrando, é claro, que este artigo NÃO É uma recomendação de compra ou venda de qualquer ativo negociado na bolsa.

E você, gostou do conteúdo? Comente no vídeo do canal e faça parte da nossa comunidade no Instagram (@oraulsena). Assim, você fica sempre por dentro do mundo dos investimentos e da Bolsa de Valores.

E não deixe de conferir, também: 10 ações que vão pagar mais dividendos em 2024.