24 de agosto de 2022 - por Raul Sena (Investidor Sardinha)
Uma atualização que começou em 2016, vai mudar completamente a rede do Ethereum, um dos sistemas mais populares do mundo ao lado do BTC.
O que é The Merge?
A Ether é a segunda mais valiosa do mercado e sua rede, a rede Ethereum, é utilizada em diversos sistemas de NFTs e De-Fi.
O mais “básico” dessa mudança, mas não menos importante, marca a substituição do mecanismo de consenso da rede de prova de trabalho (PoW) por prova de participação (PoS).
Hoje, a exemplo do que acontece no Bitcoin, os mineradores do blockchain Ethereum são pagos em ETH para processar transações, a partir de um trabalho intensivo de seus computadores e que consequentemente exige um uso massivo de energia. Com a virada para o sistema PoS, o Ethereum desocupa o lugar de vilão nos debates acalorados sobre eficiência energética conduzidos por governos, empresas e entidades. A era ESG é instaurada na rede, que reduzirá o consumo de energia em 99%.
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Na modalidade PoS, os mineradores são, na verdade, simples detentores de ETH. Para atuar como um validador da rede, o interessado precisa obrigatoriamente bloquear um mínimo de 32 ETH e, em troca, recebe as recompensas de “mineração” ou taxas de transação. Diferentemente do PoW, no PoS, os validadores são escolhidos aleatoriamente através de um algoritmo que considera a quantidade de ETH em staking.
Beacon Chain
Em 2020, a equipe de desenvolvimento da ETH lançou a Beacon Chain, uma cadeia PoS paralela à atual cadeia PoW. A fusão ou The Merge, como é conhecido globalmente o processo, trata de unir a mainnet da ETH à Beacon Chain.
Para que a rede principal não tivesse que ser interrompida e, ainda assim, fosse possível fazer a transição de forma bem-sucedida, foram realizadas diversas “fusões” em testnets da Ethereum.
Elas possibilitaram, entre outras coisas, testar o funcionamento dos contratos inteligentes antes de lançá-los na mainnet.
Além de aumentar o valor percebido do ETH em todo o seu enorme ecossistema, a mudança vai elevar a patamares superiores o status da moeda como ativo, já que, adicionalmente, as emissões do token devem cair mais de 90% após a atualização.
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A emissão diária prevista deve cair cerca de dez vezes, de 13 mil ETH para 1,3 mil, algo por volta de 500 mil ETH por ano (13,8 milhões ETH estão atualmente em staking).
A comunidade está chamando essa redução de triplo halving, pois seria uma queda equivalente a três halvins do Bitcoin (o BTC irá para seu quarto halving em 2024).
Desta forma, a política monetária do ETH finalmente entra nos trilhos, compensando uma deficiência histórica do ativo.
Se também olharmos para a quantidade de ETH queimada, por exemplo, no mês passado, de 50.217 ETH (segundo dados da plataforma Watch The Burn) e projetarmos a quantidade por um ano, teríamos mais de 602 ETH queimados. Isso significa que o número de ETH queimado será maior do que o emitido, portanto o ativo se torna deflacionário.
Dito tudo isso, o pacote completo Ethereum 2.0 inclui orientação deflacionária, um potencial de upside enorme da rede, sendo muito superior em usabilidade quando comparada com qualquer outro blockchain, e ainda conformidade com as exigências ESG.
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A TRETA
Além disso, as recompensas em ETH dada aos validadores de PoS devem retroalimentar a rede, já que esses stakers naturalmente acreditam no projeto e, por possuir uma grande quantidade de ETH, tendem a se agarrar às recompensas. Os mineradores, por outro lado, têm uma tendência maior a despejá-las no mercado, porque podem precisar do dinheiro para sustentar os seus negócios.
Já que estamos falando em negócios de mineração, chegamos exatamente ao calcanhar de aquiles de toda a situação. Só para se ter uma ideia, desde 2020, mineradores de Ethereum compraram US$15 bilhões em GPUs, segundo dados estimados pelos analistas da Bitpro Consulting para a agência de notícias Bloomberg.
Isso sem falar do restante da estrutura necessária para se montar um business de mineração. Com a mudança da rede para proof-of-stake, essa estrutura simplesmente não teria mais serventia.
Um possível “fork”
Não é de se admirar, portanto, que os grupos afetados pelo fim do PoW na Ethereum queiram manter o status quo.
Existem especulações sobre diversas movimentações de agentes envolvidos com a mineração que pretendem criar respostas próprias ao The Merge para manter seus negócios rodando.
A mais polêmica de todas é a possibilidade da criação de um hard fork da Ethereum que mantenha o mecanismo de proof-of-work.
Com nomes proeminentes por trás, como Justin Sun, o criador da Tron, e o influente minerador chinês Chandler Guo, a iniciativa já ganhou forma e está sendo chamada de Ethereum PoW.
Os proponentes justificaram que a mudança para PoS sacrifica a centralização da Ethereum e, com o hard fork, eles pretendem manter “uma rede verdadeiramente descentralizada”.
As dissidências não são novas no mundo cripto. A própria Ethereum já passou por uma fissão quando foi criado o Ethereum Classic, em 2016. O bitcoin também sofreu forks no passado, gerando alternativas como o Bitcoin Cash.
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O que acontece após um Hard Fork?
Quando um hard fork ocorre, passa a existir uma cópia da rede original e as duas funcionam em paralelo, mas cada uma toma o seu rumo.
Acontece que os saldos dos usuários, com a bifurcação, também são duplicados, porque passam a existir tanto na Ethereum quanto na EthereumPoW.
A complicação para a Ethereum nesse quesito é extrema, porque a rede é formatada em uma estrutura super complexa, longe de ser objetiva como a do Bitcoin.
O fork dobraria, por exemplo, a quantidade de stablecoins USDC e USDT dos usuários, pois passariam a existir em ambas as redes ao mesmo tempo.
Isso significa que as empresas responsáveis pela emissão dessas stablecoins, Circle e Tether, teriam que acumular reservas para respaldar as duas redes. As companhias, no entanto, já se manifestaram sobre a possibilidade do fork e disseram que não irão apoiar a estrutura proof-of-work dissidente.
Assim, as stablecoins não terão valor nenhum para os usuários da nova rede.
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A Chainlink no processo
Outro player chave que anunciou seguir suportando apenas a Ethereum de Vitalik Buterin e sua turma foi a Chainlink.
O protocolo serve como uma ponte de escoamento de dados do mundo real para o blockchain. Oráculos como a LINK são de vital importância para a construção e eficiência das aplicações descentralizadas.
A não adesão da companhia, sem dúvida, enfraquece os oponentes da Ethereum.
Mas há também quem apoie a aventura dos mineradores. Justin Sun, uma das mentes por trás do fork, já listou o novo token ETHW em sua exchange Poloniex. O token atualmente está cotado por volta dos US$ 70, mas chegou a ser negociado a quase US$ 150 segundo dados da própria corretora.
Exchanges como BitMEX e Huobi também resolveram embarcar.
A Binance sobre o Ethereum PoS
A Binance se posicionou a favor da Ethereum PoS, mas não descarta dar suporte a eventuais tokens bifurcados.
Nada vai mudar para os investidores da Ethereum atual. O máximo que pode acontecer é o token Ether ser renomeado.
Além disso, se você tem ETH em carteira, pode ser que receba a mesma quantia no token da EtherewPoW, o ETHW. Mas isso vai depender da aceitação ou não do hard fork por corretoras e protocolos.
Depois, a decisão de manter o ETHW ou negociar por ETH ou qualquer outro token será sua.
Gostou do conteúdo? Então, não deixe de assistir ao vídeo acima (do canal Investidor Sardinha) em que detalho mais sobre essa questão importantíssima envolvendo o Ethereum.
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