Perder uma carteira de Bitcoin costuma causar desespero imediato, mas antes de qualquer coisa é importante respirar fundo. A recuperação, quando é possível, quase sempre começa com reflexão e calma.
Vale tentar se lembrar de detalhes básicos, como o tipo de carteira que você usava, o e-mail associado, o aplicativo ou site acessado e até padrões de senhas e códigos PIN que costumava repetir. Muitas vezes, essas informações estão mais próximas do que parecem, apenas esquecidas no meio da rotina.
A partir daí, o tipo de carteira faz toda a diferença. Se era uma carteira web, aquela acessada pelo navegador, uma boa ideia é verificar o histórico do browser em busca de sites de provedores de carteira.
Se for uma carteira de hardware, o desafio é mais físico! Esses dispositivos são pequenos, do tamanho de um pendrive ou chaveiro, e podem estar guardados em gavetas, caixas, cofres ou até misturados com objetos antigos.
No caso das carteiras móveis, é comum que o aplicativo tenha sido desinstalado sem querer, então vale procurá-lo novamente na loja de aplicativos e tentar restaurar o acesso.
Já as carteiras impressas são as mais delicadas, pois dependem de um simples papel, que pode ter sido perdido, descartado ou danificado com o tempo.
As carteiras de desktop, por sua vez, exigem uma busca cuidadosa pelas pastas do computador, inclusive aquelas que quase nunca são abertas.
Em situações em que o problema foi uma falha técnica, como um computador que parou de funcionar ou um HD corrompido, ainda existe uma chance. Existem ferramentas de recuperação de dados capazes de localizar arquivos perdidos ou danificados, inclusive arquivos de carteiras digitais.
Softwares especializados podem ajudar nesses casos, principalmente quando os dados ainda estão fisicamente no dispositivo, mesmo que pareçam inacessíveis.
Outro ponto absolutamente crucial é a seed, a chamada frase de recuperação. Ela é a chave-mestra da carteira, formada por 12 ou 24 palavras em inglês, criada no momento em que a carteira nasce.
Com essa sequência de palavras, é possível recriar a carteira em qualquer lugar do mundo. Por isso, vale procurar com cuidado em anotações antigas, cadernos, cofres, caixas de documentos ou qualquer local onde você costumava guardar informações importantes.
Se a seed existir, a recuperação é totalmente possível, inclusive transferindo os bitcoins para uma nova carteira.
Algumas pessoas recorrem à ajuda externa, mas aqui é preciso atenção máxima. Só faz sentido buscar apoio se for alguém ou alguma empresa realmente confiável, já que qualquer pessoa com acesso às suas chaves pode simplesmente tomar seus bitcoins. Desconfiança, nesse caso, é uma forma de proteção.
Quando a carteira finalmente é encontrada ou restaurada, o primeiro passo deve ser fazer backups imediatamente. Em seguida, caso haja bitcoins nela, é possível importar as chaves privadas para serviços conhecidos ou mover os fundos para uma carteira nova e segura.
Muitos optam por plataformas que facilitam esse processo, evitando a necessidade de baixar toda a blockchain, algo complexo e pesado para a maioria das pessoas.
Por fim, existem histórias que mostram até onde o desespero pode levar. Pessoas que tentaram hipnose para lembrar senhas esquecidas, outras que quiseram escavar aterros sanitários em busca de HDs jogados fora, e até quem contratou hackers para recuperar acessos perdidos.
Algumas dessas tentativas deram certo, outras viraram apenas histórias tristes e caras. Todas elas, porém, deixam a mesma lição: no mundo do Bitcoin, a responsabilidade é total.
Quem cuida bem das chaves dorme tranquilo. Quem descuida, aprende da forma mais dolorosa.
6 maiores carteiras de Bitcoins perdidas
1. A carteira de Satoshi Nakamoto
Essa é, disparada, a maior e mais misteriosa de todas. Estima-se que Satoshi Nakamoto, o criador do Bitcoin, tenha minerado cerca de 1 milhão de bitcoins nos primeiros anos da rede. Essas moedas nunca se moveram.
Ninguém sabe se Satoshi perdeu as chaves, se simplesmente decidiu nunca tocá-las ou se algo mais aconteceu. O fato é que esses bitcoins estão parados há mais de uma década e, para o mercado, são praticamente considerados perdidos. Se um dia se moverem, o impacto seria histórico.
2. James Howells e o HD no aterro sanitário
Em 2013, James Howells jogou fora um disco rígido antigo durante uma faxina em casa, sem perceber que nele estava a chave de acesso a uma carteira com cerca de 7.500 a 8.000 bitcoins. Anos depois, quando o Bitcoin disparou, ele percebeu o erro.
Desde então, tenta autorização para escavar um aterro sanitário no País de Gales em busca do HD. Até hoje, sem sucesso. Essa história virou um símbolo clássico de como um simples descuido pode custar centenas de milhões de dólares.
3. Stefan Thomas e o IronKey bloqueado
Stefan Thomas recebeu cerca de 7.002 bitcoins como pagamento por um trabalho no início do Bitcoin. Ele guardou a chave em um dispositivo chamado IronKey, que permite apenas 10 tentativas de senha antes de se bloquear para sempre.
Com o passar dos anos, ele esqueceu a senha. Quando o caso veio a público, restavam apenas duas tentativas. A carteira segue inacessível, mostrando que, às vezes, o problema não é perder tudo, mas perder o detalhe que abre a porta.
4. Primeiros mineradores que perderam as chaves
Nos primeiros anos do Bitcoin, minerar era algo simples, feito em computadores domésticos, sem a noção do valor futuro da moeda. Muitas pessoas mineraram milhares de bitcoins e simplesmente apagaram os arquivos, formataram computadores ou perderam HDs antigos.
Estima-se que centenas de milhares de bitcoins tenham sido perdidos dessa forma. Não há um nome famoso aqui, mas sim milhares de histórias pequenas que, juntas, formam uma das maiores perdas da história do Bitcoin.
5. Carteiras esquecidas em computadores vendidos ou descartados
Há inúmeros relatos de pessoas que venderam notebooks, PCs ou celulares antigos sem lembrar que havia uma carteira instalada ali.
Em alguns casos, eram dezenas ou centenas de bitcoins. Na época, o valor era tão baixo que ninguém se preocupou em fazer backup.
Anos depois, a realização vem tarde demais. Essas perdas não viram manchetes com nomes famosos, mas representam uma fatia relevante dos bitcoins considerados irrecuperáveis.
6. Bitcoins presos por senhas esquecidas
Além de casos individuais famosos, existe um enorme volume de bitcoins presos em carteiras protegidas por senhas que ninguém mais lembra. Arquivos de carteiras ainda existem, mas sem a combinação correta não há como acessá-los.
Estima-se que milhões de bitcoins estejam nessa situação, não por terem sido roubados, mas simplesmente porque a memória humana falhou com o tempo.
Como não perder a carteira de Bitcoin?
Não perder uma carteira de Bitcoin é, acima de tudo, uma questão de cuidado e organização. No Bitcoin, você é o próprio banco, o que significa que não existe recuperação de senha nem suporte para erros. Por isso, a frase de recuperação precisa ser tratada como algo essencial.
Anotar essa frase em locais seguros, de preferência físicos e separados, evita que um simples imprevisto vire uma perda definitiva.
Fazer backup também é indispensável. Trocar de celular, formatar o computador ou perder um dispositivo não pode significar perder seus bitcoins. Além disso, é importante manter atenção aos golpes, evitando links suspeitos e aplicativos falsos que tentam roubar suas chaves.
Proteger uma carteira de Bitcoin não exige nada complexo. Exige consciência, calma e o hábito de cuidar do próprio dinheiro como algo único, porque ele realmente é.