30 de setembro de 2025 - por Millena Santos
Investir em uma empresa envolve diferentes estratégias, e entre elas estão a alavancagem financeira e a alavancagem operacional. Embora pareçam complexas, entender como cada uma funciona é mais simples do que você imagina.
Ao longo deste texto, a gente vai falar sobre cada uma, qual diferença entre elas e como calculá-las. Vamos lá?
O que é alavancagem financeira?
A alavancagem financeira é uma estratégia usada pelas empresas para ampliar sua capacidade de investimento por meio de recursos de terceiros.
Em vez de depender apenas do capital próprio, a organização recorre a empréstimos, financiamentos ou outras formas de crédito para comprar ativos, expandir suas operações ou até mesmo investir em novos projetos.
De forma bem simples, é como se a empresa utilizasse uma “alavanca” para ir além do que conseguiria apenas com o dinheiro disponível em caixa.
Ao captar recursos externos, ela aumenta suas chances de crescimento, já que pode investir mais em infraestrutura, tecnologia, estoque ou qualquer outro elemento essencial para o negócio.
O grande objetivo dessa prática é potencializar os ganhos, já que ao aplicar o dinheiro obtido de terceiros em atividades rentáveis, a empresa pode gerar receitas maiores e, consequentemente, ampliar seus lucros.
Porém, é importante lembrar que o processo também envolve riscos, pois o endividamento precisa ser bem planejado para que os custos com juros não superem os retornos esperados.
Assim, a alavancagem financeira se baseia justamente nesse equilíbrio de usar o capital de fora de forma estratégica, para que cada real emprestado traga mais retorno do que custo.
Cálculo do Grau de Alavancagem Financeira (GAF)
Para entender o impacto da alavancagem financeira em uma empresa, é preciso calcular o chamado Grau de Alavancagem Financeira (GAF). Ele mostra o quanto os custos com dívidas influenciam o lucro líquido disponível para os sócios.
O primeiro passo é ter em mãos essas duas informações:
- LAJIR (Lucro Antes dos Juros e do Imposto de Renda): também conhecido como EBIT, representa o resultado da empresa sem considerar despesas financeiras e impostos.
- Juros: despesas financeiras relacionadas às dívidas da empresa.
Com esses dados, chegamos ao LAIR (Lucro Antes do Imposto de Renda), calculado da seguinte forma:
LAIR= LAJIR – Juros
A partir daí, podemos calcular o GAF:
GAF= LAJIR ÷ LAIR
Esse cálculo é importante, pois mostra a sensibilidade do lucro em relação às despesas financeiras. Isso significa que quanto maior for o GAF, mais o lucro líquido da empresa depende do uso de capital de terceiros.
Exemplos de alavancagem financeira
Você tem uma padaria e decide financiar um forno de R$ 50.000, pagando R$ 5.000 por ano em juros. Com o forno, suas vendas aumentam e seu LAJIR (Lucro Antes de Juros e Impostos) passa de R$ 20.000 para R$ 40.000.
GAF= LAJIR ÷ LAIR
Se o lucro líquido cresceu de R$ 15.000 para R$ 35.000, o efeito da alavancagem é:
35.000 ÷ 15.000 = 2,33
Isso significa que, para cada R$ 1 de lucro antes, agora você tem R$ 2,33 depois da alavancagem. Inclusive, esse é um ganho bem expressivo graças ao financiamento.
Agora, imagine que uma empresa decide abrir uma nova unidade financiada com R$ 200.000, pagando R$ 20.000 ao ano em juros. Antes da expansão, o Lucro Operacional era de R$ 100.000.
Após a abertura da nova loja, o lucro operacional subiu para R$ 160.000.
Aplicando a lógica da fórmula:
Lucro antes dos juros= R$ 100.000
Lucro após juros= R$ 160.000 – R$ 20.000 = R$ 140.000
O grau de alavancagem financeira será:
GAF= 140.000 ÷ 100.000= 1,4
Portanto, para cada R$ 1,00 de lucro que a empresa tinha antes, agora ela consegue R$ 1,40 depois da alavancagem.
O que é alavancagem operacional?
Já a alavancagem operacional está diretamente ligada à forma como uma empresa estrutura seus custos.
Ela mede a proporção entre os custos fixos (aqueles que não mudam mesmo quando a produção aumenta ou diminui, como aluguel e salários administrativos) e os custos variáveis (que se alteram de acordo com o volume de produção, como matéria-prima e comissões de venda).
Em termos técnicos, esse conceito é avaliado pela relação entre as Receitas Operacionais e o LAJIR (Lucro Antes de Juros e Imposto de Renda). Quanto maior a participação dos custos fixos, maior será a alavancagem operacional da empresa.
Na prática, isso significa que empresas com alta alavancagem operacional podem se beneficiar bastante em momentos de crescimento de vendas, como os custos fixos já estão “travados”, cada nova unidade vendida gera um lucro proporcionalmente maior.
É como se o negócio tivesse mais espaço para expandir os ganhos sem que os custos aumentassem na mesma velocidade.
Por outro lado, é importante deixar claro que esse cenário também traz riscos. Em períodos de queda na demanda ou crises, a empresa continua tendo que arcar com os custos fixos elevados, o que pode reduzir consideravelmente sua margem de lucro, ou até gerar prejuízos.
Cálculo do Grau de Alavancagem Operacional (GAO)
Agora que a gente já sabe o que é a alavancagem operacional, a gente precisa aprender a medir esse efeito na prática. É exatamente aí que entra o Grau de Alavancagem Operacional (GAO).
Ele mostra o quanto o lucro operacional de uma empresa pode variar quando suas vendas sofrem alguma mudança.
A fórmula é simples:
GAO= Variação Percentual no Lucro Operacional / Variação Percentual nas Vendas
Ou seja: você compara o quanto o lucro mudou em relação à mudança das vendas.
Exemplos de alavancagem operacional
Imagine uma fábrica que tem custos fixos de R$ 50.000 por mês (aluguel, máquinas, salários administrativos) e custo variável de R$ 10 por camiseta produzida.
- Se a empresa vender 5.000 camisetas a R$ 30 cada, a receita será R$ 150.000.
- Subtraindo os custos variáveis (5.000 × R$ 10 = R$ 50.000) e os custos fixos (R$ 50.000), o lucro operacional é de R$ 50.000.
Agora, se as vendas aumentarem 20% (de 5.000 para 6.000 camisetas):
Receita= R$ 180.000
Custos variáveis= R$ 60.000
Custos fixos= R$ 50.000
Lucro operacional= R$ 70.000
Ao aplicar a formula:
- Variação % do lucro: (70.000 – 50.000) ÷ 50.000 = 40%
- Variação % das vendas: (6.000 – 5.000) ÷ 5.000 = 20%
Agora:
GAO= 40% / 20%= 2
Para cada 1% de aumento nas vendas gera 2% de aumento no lucro.
Pense num segundo exemplo, em que um cinema tem custos fixos de R$ 100.000 por mês (salários, aluguel, energia) e custo variável de R$ 5 por ingresso.
Vendendo 20.000 ingressos a R$ 20 cada, a receita é R$ 400.000.
- Custos variáveis= R$ 100.000
- Custos fixos= R$ 100.000
- Lucro operacional= R$ 200.000.
Se as vendas caírem 10% (de 20.000 para 18.000 ingressos):
- Receita= R$ 360.000
- Custos variáveis= R$ 90.000
- Custos fixos= R$ 100.000
- Lucro operacional= R$ 170.000
Agora, a gente calcula:
Variação % do lucro: (170.000 – 200.000) ÷ 200.000 = –15%
Variação % das vendas: (18.000 – 20.000) ÷ 20.000 = –10%
O GAO, aqui, é de 1,5%.
Qual a diferença entre alavancagem financeira e alavancagem operacional?
Embora tenham nomes parecidos, os dois tipos de alavancagem exercem papéis diferentes dentro da empresa.
A alavancagem financeira acontece quando o negócio usa dinheiro de terceiros, como empréstimos ou financiamentos, para investir e crescer. O lado bom é que ela pode acelerar os resultados.
Em contrapartida, o lado delicado é que aumenta o risco financeiro, porque os juros e encargos precisam ser pagos mesmo que o retorno não venha como esperado.
Já a alavancagem operacional está ligada à estrutura de custos fixos da empresa. Quanto maiores esses custos, maior será o impacto de uma mudança nas vendas sobre o lucro.
Se as vendas sobem, o ganho cresce mais rápido; se caem, as perdas também são sentidas com força.
Por isso, falamos em risco operacional.
Em poucas palavras, a alavancagem financeira lida com dívidas e juros, enquanto a operacional reflete como os custos fixos influenciam o lucro.