Heurísticas e vieses: o que são, como funcionam e exemplos

As heurísticas e vieses são formas que o nosso cérebro encontra de tomar decisões mais rápido. Apesar de facilitar as tomadas de decisões, eles podem causar erros de julgamento.

19 de agosto de 2022 - por Nathalia Lourenço


Sabe quando a mente parece pular etapas e entregar uma decisão instantaneamente? Pois é aí que entram as heurísticas e os vieses. Eles funcionam como atalhos que deixam tudo mais rápido no dia a dia, mas também podem provocar alguns problemas no meio do caminho.

Neste texto, a gente te conta mais sobre cada um deles. Vamos lá?

O que são heurísticas e vieses?

Sabe quando a mente decide “encurtar caminho” para resolver alguma coisa mais rápido? É aí que entram as heurísticas. Elas funcionam como atalhos mentais que ajudam a lidar com decisões do dia a dia sem precisar analisar tudo nos mínimos detalhes.

Pode ser vista como quando alguém segue a intuição para escolher um restaurante ou para decidir qual caminho pegar no trânsito: não é um processo perfeito, mas costuma quebrar um galho e economizar tempo.

Só que, junto desses atalhos, vem um efeito colateral: os vieses cognitivos. Eles aparecem quando o cérebro interpreta as informações de um jeito torto, criando uma espécie de ilusão mental.

Isso pode acontecer porque a mente tenta ser prática demais, porque se baseia em experiências antigas ou até porque prefere aquilo que confirma o que já acredita.

O resultado disso? Opiniões ou decisões que parecem superlógicas na hora, mas que, olhando com calma, não fazem tanto sentido assim.

Esses dois andam juntos e ajudam a entender por que certas escolhas saem automáticas, enquanto outras, quando vistas depois, fazem a gente pensar: “como é que cheguei a essa conclusão?”

Isso só nos mostra o quanto o cérebro tenta facilitar a própria vida, mesmo que, às vezes, acabe nos pregando algumas peças.

Inclusive, nesse momento, você já deve ter pensando em algo que aconteceu por aí, né?

Como funcionam as heurísticas e vieses?

O primeiro ponto está no que muitos chamam de atalhos mentais. Na prática, é como se a mente pensasse: “pra quê perder tempo analisando tudo, se dá pra ir no automático?”

Esse jeito rápido pode até funcionar bem para decisões simples, mas, claro, não é infalível. De vez em quando, esses atalhos passam direto pela precisão e entregam respostas meio desproporcionais para algumas situações.

Outro ponto a ser considerado são as experiências pessoais. Afinal, cada pessoa vê o mundo filtrando tudo pelo que já viveu. Concorda? Você não teve as mesmas experiências que seus amigos, por exemplo.

Por isso, se você teve uma situação ruim com determinado produto, lugar ou pessoa, é bem comum que você associe aquilo ao negativo para sempre, mesmo quando essa impressão não combina com a realidade atual.

O motivo disso? O cérebro gosta de reciclar memórias, e isso pesa bastante nas escolhas.

A coisa vai ficando ainda mais interessante quando surge o excesso de informação. Em momentos em que tudo parece demais, muita notícia, muitos dados, muitas opiniões, o cérebro liga o modo “economia de energia”. Aí os atalhos mentais entram com força total para aliviar a sobrecarga.

O problema é que, nesse ritmo acelerado, a chance de interpretar algo errado aumenta.

Por fim, entra também a parte emocional. Quem nunca tomou uma decisão impulsiva só porque estava nervoso, animado demais ou tentando evitar conflito?

As emoções têm um poder enorme de empurrar a escolha para caminhos que, depois, parecem bem questionáveis.

A pressão social também entra aqui, já que o desejo de agradar alguém ou de “não ficar por fora” pode influenciar mais do que você imagina.

Diante de tudo isso, heurísticas e vieses fazem parte desse combo mental que tenta ajudar, mas às vezes acaba nos conduzindo para escolhas menos acertadas.

Exemplos de heurísticas e vieses

Heurísticas

1- Heurística da representatividade

Essa entra em cena quando a mente tenta encaixar algo em um “rótulo” conhecido. Basta alguém aparecer com um visual, comportamento ou jeito que lembre um estereótipo, e pronto: surge aquela impressão rápida, mesmo sem ter informações reais sobre a pessoa.

2- Heurística da disponibilidade

Aqui, a ideia que é existe é a de quanto mais fácil é lembrar de um acontecimento, maior parece a chance de aquilo acontecer de novo.

Por exemplo, se uma notícia marcante aparece várias vezes, o cérebro pode achar que aquilo é comum, mesmo que seja algo raro.

Essa estratégia vem lá dos tempos em que nossos ancestrais precisavam reagir rápido a perigos. Se alguém lembrava facilmente de um ataque de animal selvagem, fazia sentido presumir que aquilo poderia acontecer de novo.

Hoje, claro, a vida é outra, mas o cérebro continua usando o mesmo “software”, especialmente em situações cheias de incertezas.

3- Heurística da ancoragem e ajustamento

Essa é clássica: a mente pega uma informação inicial e trata aquilo como referência fixa. Mesmo quando surgem novos dados, o julgamento continua preso à primeira impressão.

Parece que a mente já faz aquela decisão inicial e só dá uns retoques depois, mesmo quando surgem informações novas.

O problema aparece quando a tal âncora está errada e tudo que vem depois fica enviesado.

4- Heurística do afeto

Neste caso, a emoção assume o controle. Em vez de avaliar cada detalhe, a decisão sai baseada no sentimento do momento. Algo que desperta simpatia parece melhor do que realmente é. Algo que causa antipatia parece pior.

5- Heurística da simplicidade

Já esse tipo surge quando a mente prefere a solução mais direta, a explicação mais curta ou o caminho mais óbvio. É a tendência de escolher o que dá menos trabalho para entender, mesmo que a opção simples não capture toda a complexidade da situação.

6 – Heurística da familiaridade

Para encerrar os nossos exemplos de heurísticas, aqui, o cérebro tende a favorecer o que já conhece. Uma marca já usada antes, um caminho repetido todos os dias, um hábito que parece confortável, tudo isso passa mais confiança simplesmente por ser familiar.

A famosa sensação de segurança que aparece só porque algo é conhecido, não necessariamente porque é a melhor escolha.

Vieses

1- Viés do excesso de confiança

O viés do excesso de confiança aparece quando a pessoa acredita ter mais conhecimento, habilidade ou precisão do que realmente possui. A mente cria uma sensação de segurança tão forte que até erros parecem improváveis.

Isso é comum em decisões financeiras, em discussões, no trânsito ou em qualquer situação em que a pessoa se sente “especialista”.

2- Viés do status quo

O famoso impulso de “deixar como está” tem nome: viés do status quo. Ele surge quando a mente prefere o caminho familiar, mesmo que as alternativas façam mais sentido.

O cérebro associa mudança à incerteza, então, para evitar qualquer desconforto, defende o cenário atual como se fosse automaticamente melhor.

Isso aparece em hábitos antigos, escolhas profissionais, produtos usados há anos e até em relacionamentos que já não fazem tanto sentido, mas continuam porque se tornaram rotina.

3- Viés da ilusão de controle

A ilusão de controle acontece quando a pessoa acredita que tem influência sobre situações que, na prática, fogem completamente do alcance.

Essa sensação aparece em jogos de azar, superstições, decisões impulsivas ou até em tarefas do cotidiano, quando a mente encara pequenos gestos como se fossem capazes de definir resultados complexos.

O cérebro, aqui, gosta de sentir que está no comando, mesmo quando não está, e isso pode gerar expectativas irreais ou levar a assumir riscos sem perceber.

4- Viés do otimismo

O viés do otimismo faz a mente enxergar o lado positivo com força exagerada. A tendência é acreditar que coisas boas são mais prováveis e que problemas são praticamente improváveis.

Isso pode manter o ânimo lá em cima, mas também pode levar a decisões sem planejamento, a ignorar alertas e a subestimar desafios.

5- Efeito enquadramento

Por fim, o efeito enquadramento aparece quando a decisão depende muito mais da forma como algo é apresentado do que dos fatos em si. Uma mesma informação, dita de jeitos diferentes, pode despertar percepções completamente distintas.

Por exemplo, dizer que um produto tem “90% de aprovação” parece muito mais atraente do que afirmar que “10% das pessoas não gostaram”, embora seja exatamente a mesma informação.

A mente reage ao tom, ao foco e à maneira como a mensagem chega, e isso muda a interpretação da situação sem que os fatos mudem.

6- Viés da informação

O viés da informação é a tendência de buscar mais informações do que o necessário ao enfrentar um problema. Isso significa que a pessoa acaba gastando energia procurando dados que não ajudam a resolver a questão.

Como dominar e lidar com heurísticas e vieses?

  1. Reconheça os Vieses: Primeiro, saiba que todos nós temos essas tendências. Conhecer os tipos mais comuns de vieses ajuda a perceber quando eles estão influenciando suas decisões.
  2. Busque Informações Diversas: Não se prenda a uma única fonte de informação. Procure diferentes opiniões e dados para ter uma visão mais completa.
  3. Baseie-se em Dados: Sempre que possível, use dados e fatos concretos em vez de confiar apenas em intuições ou sentimentos momentâneos.
  4. Analise com Calma: Reserve um tempo para pensar sobre suas decisões e considerar outras opções. Pergunte-se se está sendo influenciado por algum viés.
  5. Pense nas Consequências: Considere o impacto de suas decisões e se os possíveis riscos estão sendo bem avaliados. Isso ajuda a evitar otimismo excessivo e a aversão à perda.
  6. Peça Opiniões: Converse com outras pessoas, especialmente aquelas com pontos de vista diferentes. Isso pode ajudar a ver onde seus próprios vieses podem estar afetando suas decisões.
  7. Use Processos Estruturados: Experimente métodos de decisão mais organizados, como listas de prós e contras, para garantir que você está pensando em todos os aspectos.
  8. Teste e Experimente: Quando possível, faça testes ou experimente novas abordagens para ver o que realmente funciona. Isso ajuda a evitar decisões baseadas em suposições erradas.
  9. Evite Decisões em Momentos de Estresse: Se estiver estressado ou emocionalmente carregado, adie decisões importantes até estar mais calmo e claro.
  10. Continue Aprendendo: Mantenha-se informado sobre psicologia e tomada de decisão. Isso ajuda a melhorar sua capacidade de reconhecer e lidar com vieses.

Quais as diferenças entre heurísticas e vieses?

A impressão que a gente tem, ao longo do texto, é que heurísticas e vieses são a mesma coisa. Só que cada um tem sua função nessa tentativa do cérebro simplificar a vida e economizar energia, digamos assim.

Enquanto um atua como atalhos para agilizar decisões, o outro surge como aquelas distorções que aparecem justamente quando esses atalhos não funcionam tão bem assim.

As heurísticas funcionam como estratégias rápidas, quase aquelas decisões tomadas “no impulso inteligente”. A mente simplesmente ignora parte das informações disponíveis para chegar a uma resposta mais simples, leve e imediata.

É uma forma de aliviar a carga mental, especialmente quando não há tempo ou paciência para analisar tudo com cuidado.

Os vieses surgem quando esse atalho não dá muito certo. Eles aparecem como distorções, aqueles erros de julgamento que surgem quando a heurística escorrega ou quando crenças, expectativas e experiências antigas influenciam demais o raciocínio.

Heurísticas e vieses, portanto, são muitos parecidas e se alimentam das mesmas raízes: a tentativa do cérebro de simplificar o mundo usando memórias, vivências e interpretações rápidas.

Dessa combinação que nasce grande parte das decisões que parecem naturais, mas que nem sempre refletem a realidade do jeito que ela realmente é.

Fontes: Top Invest, Diogo Cortiz, Investidor em valor, Ciência em negócios, Lcm.

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