14 de setembro de 2020 - por Jaíne Jehniffer
A Saraiva é uma livraria que atua principalmente através da venda de livros em lojas físicas. Como produtos secundários a empresa vende itens de papelaria, tecnologia, CDs e jogos. Além disso, disponibiliza o cartão Saraiva e programas de fidelidade. Assim, a falência da Saraiva, por sua vez, está dando o que falar.
As livrarias da Saraiva já foram vistas como imponentes, contudo, a estrutura das lojas acabou se tornando inviável. Dessa maneira, como a empresa não reviu sua forma de fazer negócio, agora a falência da Saraiva parece eminente. Contudo, a empresa continua a luta pela sobrevivência.
Em resumo, a Saraiva tem pouco dinheiro em caixa e muitas contas para pagar. Além disso, as editoras começaram a solicitar a devolução dos seus livros. E uma livraria não sobrevive sem livros.
Enfim, a Saraiva parece ter poucas chances de sobrevivência, porém, planos estão sendo feitos e acordos travados com o objetivo de salvar a livraria Saraiva.
História da Livraria Saraiva
A livraria Saraiva foi fundada pelo imigrante português Joaquim Ignácio da Fonseca Saraiva, no ano de 1914. Inicialmente, a Saraiva era um sebo em São Paulo, em frente a Faculdade de Direito do Largo do São Francisco. Dessa maneira, o primeiro nome da livraria Saraiva foi Livraria Acadêmica.
Joaquim Saraiva faleceu, em 1944, e então o negócio passou para seus três filhos. Como um meio de crescer a empresa, a Saraiva abriu o capital em 1972 e, no mesmo ano, abriu sua segunda loja, na praça da Sé.
No decorrer dos anos, a empresa cresceu, adquiriu concorrentes e se estabeleceu como uma referência no seu ramo de atuação. Posteriormente, no ano de 2006, a Saraiva passou para o Nível 2 de governança corporativa da bolsa.
Sendo assim, a empresa possui ações ordinárias SLED3, ações preferenciais SLED4 e está ainda no mercado fracionário, como SLED3F e SLED4F.
Além das mais de 80 lojas físicas, a Saraiva também tem sua loja online com milhões de clientes ativos. Possui entrega gratuita para retirada na loja e entrega programada.
Já em relação à logística, a empresa possui centros de distribuição próprios e entrega mais de 60 milhões de itens por ano.
Em resumo, a Saraiva é uma gigante do setor. Durante seu processo de crescimento e expansão, adquiriu várias outras empresas e aumentou seu portfólio de produtos e serviços ofertados.
Entretanto, erros foram cometidos no caminho, resultando no cenário que parece inevitável de falência da Saraiva.
Processo de falência da Saraiva
A Saraiva entrou com o pedido de recuperação judicial no final do ano de 2018 e, em 2019, ele foi aprovado.
Desse modo, em agosto de 2019, os credores aprovaram o plano de recuperação judicial da empresa. Além desse acordo, outras ações foram efetuadas, como a saída de Jorge Saraiva da empresa.
Além disso, o plano previa que os credores estratégicos e fornecedores receberiam 60% do valor devido, parcelado em 15 anos. Os 40% faltantes seriam pagos com 50% da geração de excedente de caixa.
Com isso, os fornecedores poderiam escolher receber 40% do valor em bônus conversíveis em ações 33% ordinárias e 66% em preferenciais.
Contudo, no pleno ápice da pandemia, Luis Mario Bilenky, CEO da Saraiva, encaminhou um e-mail para alguns credores falando um pouco mais sobre a situação da empresa e sobre a possível revisão do plano de recuperação judicial.
O principal ponto abordado por ele foi a dificuldade da empresa de gerar caixa. Para se ter uma noção, em fevereiro de 2019, o caixa da empresa era de R$ 77 milhões.
Em seguida, no intervalo de um ano esse valor caiu para R$ 15 milhões em fevereiro de 2020. O principal problema é que o valor era excedente do caixa que seria usado para pagar os credores.
Além disso, no relatório, Luis Mario apontou outro problema, a loja online da Saraiva perdeu 56,1% do seu faturamento em comparação com fevereiro. Ele ainda procurou fornecedores para suspender o pagamento de mais de 100 editores.
Para acabar de piorar a situação, em abril, 21 editoras solicitaram a devolução de boa parte do estoque de livros.
A luta continua
Por fim, ainda em abril de 2020, a Saraiva pediu ao juiz, Paulo Furtado de Oliveira Filho, prazo de 90 dias para apresentar um novo plano de 180 dias a ser aprovado em assembleia geral de credores.
A justificativa apresentada era de que, por conta da pandemia, o plano anterior ficou comprometido. No relatório que a Saraiva apresentou pedindo o novo plano, foi alegado a incapacidade de arcar com os salários de seus colaboradores.
A Saraiva devia R$ 675 milhões, quando pediu recuperação judicial. Desse total, R$ 7,2 milhões eram de créditos trabalhistas.
Visto isso, apesar de tentar fugir da falência, a Saraiva continua apresentando resultados ruins. Em agosto de 2020, o seu resultado trimestral foi desastroso. Dessa maneira, a Saraiva (SLED3 SLED4) reportou:
- Prejuízo contábil de R$ 118 milhões;
- Queda de 95,5% da receita líquida proveniente de lojas físicas;
- Baixa de 58% da receita proveniente do e-commerce;
- Queda de 82,7% na Receita Bruta;
- Diminuição de 82,2% na Receita Líquida.
O plano de recuperação da falência da Saraiva
Nesse novo plano a empresa propõe dividir suas lojas em dois grupos e vender um deles. A expectativa é que o montante some R$ 277 milhões com esta operação, que serão vendidos a quem apresentar a melhor proposta, em leilão, cuja data ainda será marcada.
Portanto, no pacote estão:
- Contratos de locação de lojas em shoppings;
- Estoques de produtos consignados;
- Acordos de locação de área (chamada store in store).
Dessa maneira, serão dois lotes:
- O primeiro com 41 contratos de locação de lojas (e estoques dessas lojas) por um valor mínimo de R$ 301 milhões e um preço alvo de R$ 376 milhões;
- O segundo lote com 44 unidades, por preço mínimo de R$ 277 milhões e preço-alvo de R$ 346 milhões. Há unidades que se repetem nos dois grupos de ativos.
O lote que não for vendido continuará com a família Saraiva, controladora da companhia, que não pôs a marca à venda. Para finalizar, em caso de falência da Saraiva, os pagamentos são feitos na seguinte ordem:
- Dívida trabalhista;
- Crédito com garantia real;
- Crédito de outras naturezas;
- Sócios e administradores.
Enfim, agora que você conhece o panorama geral sobre a falência da Saraiva, veja o vídeo de Raul Sena e a opinião dele sobre o assunto:
Enquanto algumas empresas estão em recuperação judicial, outras estão abrindo o capital, como, por exemplo, o IPO da Petz – História da empresa, produtos e abertura de capital
Fontes: Gazeta do Povo, Beco das palavras e Infomoney
Imagens: Moon BH, Época Negócios, Minube, Veja e Logos PNG