Finanças comportamentais: o que são, como surgiu e importância

As finanças comportamentais é um campo de estudo que visa compreender como funciona o processo que leva as decisões financeiras, usando como base a economia e a psicologia. Em outras palavras, o seu objetivo é entender como as pessoas tomam suas decisões econômicas.

13 de janeiro de 2021 - por Nathalia Lourenço


Finanças comportamentais é um jeito de entender como a gente lida com o dinheiro e toma decisões. O foco é descobrir o que realmente influencia nossas escolhas econômicas.

Antes de estudarmos isso, a ciência achava que a gente sempre analisava tudo direitinho e escolhia a opção mais segura. Em outras palavras, acreditava-se que éramos totalmente racionais.

Mas as pesquisas mostraram que a história é bem diferente. Na real, nossas decisões são influenciadas por várias coisas e, no fundo, a gente não é tão racional assim.

No texto te hoje te explico melhor sobre o assunto!

O que são finanças comportamentais

Finanças comportamentais é um campo que mistura economia e psicologia para entender como a gente decide o que fazer com o dinheiro. Em vez de achar que somos sempre racionais e calculistas, essa área explora como nossas emoções, crenças e comportamentos influenciam as nossas escolhas financeiras.

Descobriu-se que nossas decisões financeiras são moldadas por uma série de fatores pessoais, como nossas crenças sobre dinheiro, influências sociais e até mesmo nossos hábitos e emoções. Assim, finanças comportamentais nos ajuda a entender por que, muitas vezes, fazemos escolhas financeiras que parecem não ser as mais racionais ou vantajosas.

Como as finanças comportamentais surgiram

Durante décadas, a economia e a psicologia tiveram momentos de aproximação e afastamento. Desde que os termos economia e psicologia foram usados juntos pela primeira vez no século XX na obra Psicologia Econômica do sociólogo Gabriel Tarde, muita coisa mudou até surgirmos com o campo das finanças comportamentais.

Antes de começarmos a explorar o que realmente influencia as decisões financeiras das pessoas, a ciência acreditava que éramos totalmente racionais ao lidar com o dinheiro. Naquela época, a Teoria da Utilidade Esperada dizia que a gente avaliava todas as opções possíveis antes de tomar uma decisão.

Finanças comportamentais, o que são? Como surgiu e importância
Anti-frágil

Além disso, os cientistas acreditavam que as pessoas eram totalmente avessas ao risco e sempre escolhiam a opção mais segura. Contudo, os estudos dos psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky colocaram esta certeza científica à prova.

Acontece que os pesquisadores descobriram que as pessoas aceitaram correr riscos, desde que acreditassem que o risco evitava a perda de parte do dinheiro. Outro dado descoberto pelos psicólogos, é que emoções como o medo possuem uma forte influência na tomada de decisão. Portanto, não somos totalmente racionais nas nossas decisões financeiras.

A importância de entender as finanças comportamentais

Entender finanças comportamentais é crucial para quem investe, porque ajuda a compreender como as decisões financeiras são realmente feitas. Isso pode esclarecer por que você tomou certas decisões, mesmo quando tinha planejado o oposto.

Além disso, finanças comportamentais é fundamental para investidores que querem entender como as emoções influenciam suas escolhas e por que podem ter aversão a alguns produtos financeiros. Com esse conhecimento, fica mais fácil identificar esses padrões e tomar decisões mais conscientes e informadas.

Equívocos de Lógica

Nas finanças comportamentais, estudamos os equívocos de lógica, que são os erros que nosso cérebro comete ao tomar decisões. Esses erros podem ser divididos em dois grandes grupos: vieses e heurísticas. Embora sejam categorizados separadamente, é comum que diferentes padrões apareçam juntos.

1. Vieses

Vieses são padrões de julgamento errados que afetam nossas decisões financeiras.

Confirmação: O viés de confirmação ocorre quando damos mais importância às informações que confirmam nossas crenças ou desejos. Por exemplo, se um investidor está interessado em investir em uma empresa, ele tende a valorizar mais os dados que apoiam essa decisão e desconsiderar as informações contrárias.

Energy capsule

Custo Afundado: Esse viés acontece quando temos dificuldade em abandonar projetos nos quais já investimos muito tempo ou dinheiro. Mesmo percebendo que cometemos um erro, é difícil desapegar, pois queremos justificar o investimento já feito.

Informação: O viés da informação se refere à busca incessante por dados e detalhes na tentativa de resolver um problema. Esse comportamento pode prejudicar as decisões financeiras, pois a pessoa nunca se sente satisfeita com a quantidade de informações que tem, e isso pode atrasar ou complicar a decisão final.

Retrospectiva: Também conhecido como viés de retrovisor, esse viés descreve nossa tendência de reinterpretar eventos passados. Após os acontecimentos, é fácil acreditar que poderíamos ter previsto o que ia acontecer, superestimando nossa capacidade de antecipar o futuro.

2. Heurísticas

Heurísticas são atalhos mentais que usamos para tomar decisões rápidas.

Disponibilidade: Esse atalho mental faz com que avaliemos a probabilidade de um evento acontecer com base em exemplos recentes ou memoráveis que temos em mente. Se lembramos de um evento parecido que ocorreu recentemente, achamos que é mais provável que aconteça de novo.

Afeto: Com esse atalho, tomamos decisões baseadas nas emoções que sentimos no momento. O impacto das emoções nas nossas escolhas financeiras pode ser tão forte que muitas vezes nem percebemos que estamos deixando nossos sentimentos guiarem nossas decisões.

Finanças comportamentais, o que são? Como surgiu e importância
Martinelli Guimarães

Ancoragem: Esse padrão acontece quando nosso cérebro se agarra a números ou informações específicas para tomar decisões rápidas. Por exemplo, ao ver a palavra “promoção”, podemos sentir uma vontade imediata de gastar, mesmo que não precisemos realmente do produto.

Representatividade: A heurística da representatividade é quando tomamos decisões baseadas em como algo ou alguém se encaixa em um grupo ou categoria conhecida. Em outras palavras, julgamos uma situação ou pessoa com base em como ela se parece com algo que já conhecemos ou com nossos preconceitos.

A influência de Richard Thaler

Richard Thaler, um dos pioneiros na combinação de psicologia e economia, criou uma distinção interessante entre dois tipos de pessoas: os Econs e os Humans.

Econs são as pessoas perfeitas da teoria econômica, aquelas que tomam decisões totalmente racionais e seguem à risca o que a economia clássica prega. Mas, segundo Thaler, esse tipo de pessoa não existe na prática.

Já os Humans são bem mais reais e, bem, humanos. Eles são aqueles que vivem no mundo real: endividados, gastando mais do que ganham, não resistindo a uma promoção e frequentemente caindo em armadilhas financeiras.

Thaler até compara esses Humans a personagens como Homer Simpson, que adoram se meter em confusões que acabam criando para si mesmos.

Entre os típicos erros dos Humans estão gastar mais do que o orçamento permite, perder prazos e acreditar em promoções que parecem boas demais para serem verdade. Em resumo, eles são a prova de que o comportamento econômico na vida real é bem diferente da teoria idealizada.

As contribuições de Daniel Kahneman e Amos Tversky

Richard Thaler passou bastante tempo trocando ideias com Daniel Kahneman e Amós Tversky, dois psicólogos israelenses que são grandes nomes na psicologia comportamental e deram continuidade ao trabalho de Herbert Simon.

Kahneman e Tversky são famosos por desenvolverem a Teoria da Perspectiva, um conceito que lhe garantiu o Prêmio Nobel de Economia em 2002 (infelizmente, Tversky já havia falecido).

Leia mais sobre Daniel Kahneman: Daniel Kahneman: biografia e carreira do Nobel de economia

O que influencia as decisões financeiras

Diversos fatores influenciam nossas decisões financeiras, como as crenças que desenvolvemos ao longo da vida e nossas emoções básicas. Além dos vieses e heurísticas, alguns padrões comuns no nosso dia a dia incluem:

Aversão às Perdas: Ninguém gosta de perder, e por isso, muitas vezes buscamos maneiras de evitar isso. No mundo dos investimentos, isso pode se manifestar quando um investidor prefere manter um ativo que está em baixa, na esperança de que ele se valorize, só para não admitir que perdeu dinheiro com aquela aplicação.

Eu sem fronteiras

Rebanho: O comportamento de rebanho é uma tendência forte não só nas finanças, mas em várias áreas da vida. Um exemplo disso é o efeito manada, onde investidores acabam comprando ações simplesmente porque todo mundo está fazendo o mesmo.

Contabilidade Mental: Esse padrão aparece quando pessoas fazem cálculos mentais rápidos antes de gastar ou investir, sem avaliar se a decisão é realmente a melhor. Em outras palavras, a pessoa toma uma decisão com base em uma análise superficial, sem considerar todos os detalhes.

Confiança em Excesso: A confiança excessiva é um grande risco no mundo financeiro. Isso acontece quando investidores que têm bons resultados em algumas aplicações começam a acreditar que sempre terão altos retornos, o que pode levar a decisões arriscadas e pouco fundamentadas.

O teste de Daniel Simons e Christopher Chabris

Os cientistas Daniel Simons e Christopher Chabris, da Universidade de Harvard, realizaram um teste conhecido no livro O Gorila Invisível, que demonstra como nossa atenção limitada pode nos fazer ignorar informações importantes.

Esse fenômeno se reflete também no comportamento dos investidores, que podem focar tanto em um único investimento que acabam perdendo outras oportunidades e riscos.

Um exemplo é o de um empresário que notou uma queda de 50% nas receitas de lava-rápidos em sua cidade. Após investigar, descobriu que a melhoria na precisão das previsões meteorológicas fazia com que os motoristas adiassem a lavagem dos carros quando sabiam que ia chover.

Esse caso ilustra como muitas vezes não percebemos fatores invisíveis que afetam nossos resultados. O risco é a parte mensurável da incerteza, mas a incerteza é muito mais ampla e complexa.

Embora possamos tentar minimizar o risco com base no que sabemos, sempre haverá fatores imprevisíveis e incertezas que não podemos controlar.

O mais aconselhável antes de investir é pesquisar a fundo o ativo, uma boa estratégia é a Análise Fundamentalista, o que é? Conceitos, cálculos e como aplicar.

Fontes: Mais retorno, Suno, Mais retorno, André Bona, Mais retorno e fia

Imagens: Financials, Investidor em valor, Martinelli Guimarães, Anti-frágil, Energy capsule, Eu sem fronteiras e Investnews

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