13 de novembro de 2020 - por Nathalia Lourenço
A guerra cambial é um fenômeno econômico que ocorre quando países desvalorizam suas moedas em relação a outras, com o objetivo de obter vantagens comerciais. Além disso, essa prática pode afetar diretamente as exportações, importações e a estabilidade econômica global. Mas como exatamente funciona essa dinâmica? Quais são os impactos e as implicações legais envolvidas?
Neste texto, você encontrará uma análise detalhada do que é a guerra cambial, como ela opera e sua legalidade no cenário internacional. Continue a leitura para saber mais!
O que é guerra cambial
A guerra cambial acontece quando países desvalorizam suas moedas. Eles fazem isso para ganhar vantagens no comércio. Os principais objetivos são:
- Aumentar as exportações: Quando um país desvaloriza sua moeda, seus produtos ficam mais baratos no mercado internacional. Assim, mais pessoas compram esses produtos.
- Desestimular importações: Uma moeda mais fraca torna os produtos importados mais caros. Isso faz com que os consumidores comprem produtos locais, ajudando a indústria nacional.
- Combater a deflação: Em economias com crescimento lento, a desvalorização da moeda pode ajudar a aumentar os preços. Isso pode estimular a economia.
Assim, essa situação cria tensões entre os países. Ela leva a represálias e gera um ciclo de desvalorizações. Isso aumenta a incerteza no comércio e a instabilidade nos mercados financeiros.
Origem
A guerra cambial envolve duas potências: a China e os Estados Unidos. Primeiramente, tudo começou quando os EUA aumentaram a quantidade de dólares em circulação. Assim, com muitos dólares disponíveis, a moeda se desvalorizou em comparação com outras, incluindo o Real.
Os EUA fizeram isso para se recuperar da crise financeira de 2008. Com isso, muitas pessoas ficaram desempregadas e evitaram gastar dinheiro. Consequentemente, o mercado interno não estava aquecido. Portanto, o governo decidiu desvalorizar o dólar. Isso tornaria seus preços mais competitivos, especialmente em relação à China.
Por outro lado, a China também tomou medidas para aumentar sua competitividade. Ela fez isso adotando o câmbio fixo. Nesse sistema, o estado define o valor da moeda. Na maioria dos países, entretanto, o câmbio é livre e o valor é determinado pelas operações do mercado.
Dessa forma, essa disputa entre os EUA e a China foi chamada de guerra cambial pela primeira vez em 2010. O ministro da Fazenda na época, Guido Mantega, usou esse termo. Além disso, com essa disputa, a economia de vários países foi afetada. Como resultado, muitos países começaram a entrar na guerra cambial.
O Brasil também participou da disputa. Entre as medidas tomadas pelo governo, estavam o aumento de impostos em operações de curto prazo, a taxação de derivados de câmbio, a compra de dólares à vista pelo Banco Central e o estabelecimento do IOF sobre financiamentos externos com prazos acima de 3 anos.
Como identificar uma manipulação de câmbio?
Para identificar manipulações cambiais, analise diversos fatores, incluindo:
1) Intervenções do banco central
O banco central pode aumentar ou diminuir significativamente as reservas de moeda estrangeira, o que indica intervenções no mercado cambial. Além disso, os bancos centrais podem usar políticas monetárias não convencionais, como afrouxamento quantitativo, para influenciar a taxa de câmbio.
2) Movimentos de taxa de câmbio:
Observe variações abruptas na taxa de câmbio que não podem ser explicadas por fundamentos econômicos, como mudanças nas taxas de juros ou crescimento econômico. Por fim, analise gráficos de taxa de câmbio para identificar padrões de volatilidade irregular.
3) Fundamentos econômicos:
Compare a performance econômica e a taxa de câmbio. Por exemplo, se um país tem um PIB crescente e sua moeda se desvaloriza, isso pode indicar manipulação. Além disso, utilize indicadores econômicos, como inflação e balanço de pagamentos, para fornecer contexto para movimentos cambiais.
4) Relatórios e análises:
Instituições financeiras como o FMI e o Banco Mundial emitem relatórios sobre práticas cambiais e podem identificar manipulações. Adicionalmente, analise as declarações e políticas do governo sobre a taxa de câmbio para obter insights adicionais.
A guerra cambial é ilegal?
A guerra cambial em si não é ilegal; no entanto, algumas práticas que a sustentam podem violar normas e acordos internacionais. Os pontos importantes incluem:
- Normas da OMC: O comércio internacional deve ser justo e transparente, e práticas que distorcem esse equilíbrio podem ser questionadas.
- Diretrizes do FMI: O FMI monitora a política cambial dos países e investiga possíveis manipulações. Contudo, as consequências legais podem variar.
- Acordos bilaterais e multilaterais: Os países assinam acordos que proíbem práticas de manipulação cambial, mas a aplicação dessas regras pode ser difícil e depende da vontade política.
Por que o assunto voltou a ser comentado?
A guerra cambial aconteceu a alguns anos atrás, porém, atualmente o assunto voltou à ficar em alta. Isso porque, com a disputa entre China e Estados Unidos, existe uma incerteza internacional referente à possível desaceleração global.
Dessa forma, a China sinalizou um corte de juros, já a Europa tomou medidas de estímulos locais.
Essas atitudes foram vistas com apreensão pelo restante do mundo, já que uma guerra cambial pode acarretar inúmeras consequências não apenas para os países que participam diretamente da disputa.
Enfim, agora que você sabe como funciona a manipulação de câmbio, aproveite também para aprender sobre uma das protagonistas da crise de 2008 a Freddie Mac – O que é, características e relação com a crise de 2008
Fontes: Mais retorno, Uol e Suno