17 de outubro de 2025 - por Sidemar Castro

Enquanto a depreciação representa a perda de valor de ativos materiais, que sofrem desgaste com o uso, a amortização se aplica a bens imateriais, como licenças e direitos autorais, cujo valor é distribuído ao longo dos anos. Saber distinguir esses dois conceitos ajuda a compreender melhor o funcionamento contábil e a real situação patrimonial de um negócio.
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O que é amortização?
Uma empresa compra uma licença de uso de software por 5 anos. Você sabe que esse direito de uso não vale para sempre: com o tempo, ele vai “perdendo valor” porque o contrato vai vencendo, novas versões podem surgir, ou simplesmente aquele direito vai ficando menos útil. A amortização é justamente o registro contábil dessa perda de valor, mês a mês ou ano a ano, até que o valor do ativo intangível (a licença, no caso) seja considerado totalmente “consumido”.
Quando registramos amortização, dividimos o custo do ativo intangível pelo seu tempo de vida útil estimado. No caso da licença, se custou R$ 10 mil e valerá por 5 anos, a empresa poderá amortizar R$ 2 mil por ano, capturando contábilmente que parte do valor “se esvaiu” com o tempo.
Uma empresa pode ter também dívidas ou financiamentos. Nesse cenário, “amortizar a dívida” significa pagá-la aos poucos: cada parcela que você paga inclui uma parte que reduz o valor principal (o que foi emprestado) e outra que é juros sobre o saldo restante. No final do prazo, a dívida estará quitada.
Então, de forma simples: amortização é a forma como contabilizamos a “desvalorização” de algo que não é físico, mas que tem valor (como licenças, direitos, concessões), e também é o nome dado ao processo de parcelar e liquidar uma dívida ao longo do tempo.
Como funciona a amortização?
Pense em um software que uma empresa compra e vai usar por alguns anos. Ela sabe que esse software não valerá para sempre, talvez daqui a cinco ou dez anos ele fique obsoleto ou precise ser renovado. Com isso em mente, a empresa vai “amortizar” o custo desse software ao longo do tempo. Ou seja: ela vai registrar, periodicamente, que parte daquele valor está sendo consumida, usada ou “gasta” no dia a dia.
Para fazer isso, a empresa define quanto pagou (ou investiu) no ativo, estima por quantos anos ele vai ser útil e, se for o caso, considera um valor residual (o que ainda pode ser recuperado no fim). A partir daí, ela divide o valor a ser amortizado pelos períodos de vida útil.
Então, todos os anos (ou meses) ela lança no resultado uma despesa de amortização, tão constante quanto for aplicável. Ao final do prazo, o valor do ativo será considerado totalmente amortizado, ou quase isso, salvo situações extraordinárias.
Quando o ativo deixa de ser utilizado, ou é alienado ou tornado disponível para venda, a amortização cessa. Também não se continua amortizando além do tempo estimado ou depois que o bem está totalmente amortizado.
Se você pensar em outra situação: no caso de um financiamento, “amortizar a dívida” é parecido na ideia de distribuir algo ao longo do tempo, mas ali é pagar uma parte do principal (o valor emprestado) periodicamente, junto com juros.
Exemplo de amortização
Uma empresa compra um sistema por R$ 60.000 para usar por 5 anos. Em vez de registrar todo o gasto de uma vez, ela divide o valor ao longo do tempo: R$ 12.000 por ano. A cada ano, essa quantia é lançada como despesa de amortização, mostrando que o ativo está sendo “consumido” aos poucos.
Se a empresa parar de usar o sistema antes do prazo, pode interromper ou ajustar a amortização. No fim do período, o valor total do ativo terá sido reconhecido como despesa, refletindo o uso real do bem durante sua vida útil.
Saiba mais: Tabela Price: o que é, como funciona, como calcular?
O que é depreciação?
A depreciação pode ser vista como o registro do envelhecimento dos seus ativos tangíveis. Assim como seu celular ou seu computador têm uma “validade” para serem úteis, os bens de uma empresa, como máquinas, móveis, veículos e instalações, também perdem valor gradualmente.
Essa perda é causada principalmente por três motivos: o uso constante na produção, o desgaste natural provocado pelo tempo e a obsolescência tecnológica, que faz um equipamento mais antigo se tornar menos eficiente que um modelo novo.
Na prática, a depreciação é um cálculo feito para refletir essa realidade no balanço da empresa. Ela funciona como uma despesa não monetária, ou seja, não há uma saída de caixa direta, mas ela diminui o lucro tributável, oferecendo um benefício fiscal.
É o método que a contabilidade usa para dizer: “gastamos um pedacinho desse ativo neste período para gerar a receita”, garantindo que o valor patrimonial da empresa seja sempre o mais realista possível.
Como funciona a depreciação?
Quando uma empresa compra um carro para trabalhar, ele começa a perder valor com o tempo por causa do uso e do desgaste. A depreciação é o registro contábil dessa perda gradual.
Para calcular, a empresa considera o preço pago, o valor que o carro ainda pode valer no futuro e por quanto tempo vai usá-lo, dividindo esse custo pelos anos de uso.
A cada período, uma parte do valor é lançada como despesa de depreciação, mostrando que o bem está sendo “consumido”. Esse registro não representa um gasto real, mas sim a atualização contábil de que o carro ou equipamento está envelhecendo e valendo menos com o tempo.
Exemplo de depreciação
Uma gráfica investe R$ 100 mil em uma máquina de impressão moderna. Essa máquina tem uma vida útil estimada de 10 anos. A empresa não pode simplesmente abater esse valor todo de uma vez em seu balanço contábil. Em vez disso, ela vai distribuir esse custo ao longo dos anos em que a máquina estiver em uso. Isso é a depreciação.
A cada ano, a gráfica registra uma perda contábil de R$ 10 mil, refletindo o desgaste natural e a obsolescência do equipamento. Mesmo que a máquina continue funcionando bem, ela vai perdendo valor aos olhos da contabilidade.
Esse controle é feito por meio de fichas ou planilhas específicas, garantindo que o valor total depreciado nunca ultrapasse o valor original do bem. É uma forma de manter os registros financeiros alinhados com a realidade e de preparar a empresa para futuras reposições de ativos.
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Qual a diferença entre amortização e depreciação?
Quando sua empresa compra um trator, com o passar do tempo ele vai desgastando com o uso, ficando “velho”, menos eficiente. Essa diminuição de valor do bem físico é chamada de depreciação. Você vai “lançar” nos seus registros contábeis um valor de depreciação todo ano, até que o trator esteja praticamente depreciado ou seja vendido.
Agora imagine que, em vez de um trator, sua empresa invista numa licença de software ou em uma marca registrada. Esses ativos não são físicos, mas também perdem valor com o tempo; talvez porque a licença expire ou a marca não gere tanto valor no futuro. Esse caso é tratado pela amortização. Você vai distribuir esse custo ao longo dos anos em que aquele direito vai gerar benefícios.
A grande diferença entre os dois é exatamente o “tipo” de bem: depreciação para bens materiais; amortização para direitos e bens intangíveis. E embora os dois façam algo parecido (reconhecer perda de valor ao longo do tempo), os critérios que cada um usa, como valor residual, vida útil, métodos de cálculo, podem variar.
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Importância de entender a amortização e a depreciação
Uma empresa que compra uma máquina cara ou investe numa licença de software. Se ela registrasse todo o gasto de uma vez, em apenas um ano, os resultados ficariam esquisitos, um ano mostraria prejuízo absurdo, outro ano quase nada.
Amortização e depreciação ajudam a “espalhar” esse custo ao longo do tempo, para que os resultados mostrem algo mais equilibrado e realista.
Também é importante porque, na hora de pagar impostos, essas perdas de valor “contábeis” diminuem o lucro tributável. ou seja, você paga imposto sobre um valor menor. Isso pode dar mais fôlego para a empresa.
Além disso, quem vai olhar seus números (investidores, bancos, parceiros) quer ver algo confiável. Se ativos estiverem “desvalorizados” de forma crua, pode parecer que a empresa está pior do que realmente está.
Finalmente, entender amortização e depreciação ajuda você a saber quando vale trocar um equipamento, renovar licenças ou interromper um contrato. Se você acompanha como o valor vai se consumindo ao longo do tempo, fica mais fácil decidir o momento certo de agir, com segurança.
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Fontes: Normas Legais, Qive, All Strategy, Tax Thomson Reuters, Fator Contabil, Exame.