Padrão-ouro: o que foi e como funcionava o sistema monetário?

O padrão ouro vigorou no sistema monetário internacional do século 19 e foi até a primeira guerra mundial, com o lastro das moedas em ouro.

12 de outubro de 2021 - por Nathalia Lourenço


Entender a história e a origem do padrão ouro é essencial para compreender a economia moderna e o conceito de lastreamento monetário.

Esse sistema foi predominante no cenário monetário internacional durante o século XIX e até a Primeira Guerra Mundial. No padrão ouro, o valor das moedas era garantido diretamente por reservas de ouro, embora a proporção de reservas variava entre os países, o que influenciava o valor da moeda em diferentes nações.

Hoje, vamos explorar como esse sistema funcionava e o que levou ao seu desaparecimento!

O que foi o padrão-ouro?

O padrão-ouro era um jeito de fazer o dinheiro funcionar baseado em ouro. Isso quer dizer que o valor das moedas de um país estava diretamente ligado a uma quantidade específica de ouro. Se você quisesse, podia trocar sua moeda por ouro na mesma proporção estabelecida.

A adoção do padrão-ouro, que começou a se popularizar no final do século 19, tinha vários objetivos:

  • Estabilidade Monetária: Ao vincular a moeda ao ouro, os países buscavam criar uma âncora para a moeda, ajudando a controlar a inflação e a promover a confiança na moeda.
  • Facilitação do Comércio Internacional: Com taxas de câmbio fixas entre as moedas dos países que adotaram o padrão-ouro, o comércio internacional se tornou

Como o padrão-ouro funcionava?

Troca Garantida: O sistema garantia que você podia trocar uma certa quantidade de dinheiro por ouro. Por exemplo, um país poderia prometer que cada unidade da sua moeda poderia ser trocada por uma quantidade fixa de ouro.

Reservas de Ouro: Os países precisavam manter reservas de ouro para garantir que poderiam cumprir essa promessa de troca. Ou seja, o valor do dinheiro dependia de quanto ouro o país tinha.

Taxas Fixas: Com o padrão-ouro, as taxas de câmbio entre diferentes moedas eram fixas. Isso facilitava o comércio entre países e fazia com que as trocas internacionais fossem mais previsíveis.

História do padrão ouro

1. Origens e Início do Padrão-Ouro

Embora a prática de usar metais preciosos, como ouro e prata, para criar moedas seja antiga, o padrão-ouro moderno começou a se consolidar no início do século 19, substituindo os diversos sistemas monetários individuais de cada país.

O Reino Unido foi um dos pioneiros na adoção oficial do padrão-ouro em 1821, criando um sistema no qual o valor da moeda estava diretamente vinculado a uma quantidade específica de ouro. Isso trouxe maior estabilidade e confiança à moeda.

Encantados com os benefícios de um sistema monetário mais previsível, outros países seguiram o exemplo britânico, e o padrão-ouro se espalhou pela Europa e Américas.

2. Consolidação e Expansão

O padrão-ouro estabeleceu-se como a norma global, oferecendo maior estabilidade monetária e facilitando o comércio internacional. Em 1867, a Conferência Internacional do Ouro em Paris buscou padronizar e promover o uso do ouro nas transações internacionais.

O sistema estava solidamente estabelecido, com muitos países adotando políticas de conversão em ouro e fixando taxas de câmbio com base na quantidade de ouro.

3. Desafios e Mudanças

A Primeira Guerra Mundial afetou profundamente o padrão-ouro, com muitos países abandonando temporariamente o sistema para financiar o esforço de guerra. Isso resultou em uma emissão excessiva de moeda e em instabilidade econômica.

Depois da guerra, alguns países tentaram retomar o padrão-ouro, mas com resultados variados. A Grande Depressão de 1929, agravou as dificuldades econômicas, levando muitos países a abandonar o padrão-ouro para obter maior flexibilidade monetária.

4. O Padrão-Ouro e a Segunda Guerra Mundial

Durante a Segunda Guerra Mundial, o padrão-ouro foi amplamente abandonado, pois as economias precisavam de maior flexibilidade para enfrentar os desafios da guerra e financiar o esforço militar.

Terminada a guerra, foi criado o sistema Bretton Woods, que usava o dólar americano como a principal moeda de reserva internacional, atrelada ao ouro, enquanto outras moedas eram fixadas ao dólar.

Embora não fosse um padrão-ouro puro, ainda havia uma conexão com o ouro através do dólar.

Por que o padrão-ouro chegou ao fim?

O padrão-ouro durou até mais ou menos a Primeira Guerra Mundial. Na época, a Inglaterra estava no comando desse sistema, conhecido como padrão libra-ouro.

O principal motivo para o fim do padrão-ouro foi a necessidade de emitir mais dinheiro para bancar os custos da guerra. Países como os EUA, Reino Unido, França e Alemanha acabaram abandonando o sistema por causa dos gastos exorbitantes.

Além disso, a quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929 também teve um impacto enorme na crise do padrão-ouro. O sistema foi oficialmente abandonado em 1944, quando uma nova ordem monetária internacional entrou em cena.

Essa nova ordem veio com o acordo de Bretton Woods e trouxe o padrão dólar-ouro. Mas, em 1971, o presidente Richard Nixon decidiu acabar com esse padrão.

A razão principal foi que os EUA não conseguiam mais garantir a quantidade prometida de ouro. A partir daí, passamos a ter um sistema de flutuação livre, baseado em moedas como o dólar, a libra esterlina, o euro e o iene.

Quais são as vantagens do padrão-ouro?

1. Estabilidade Monetária

Controle da Inflação: Uma das maiores vantagens do padrão-ouro era seu controle sobre a inflação. Com a quantidade de dinheiro em circulação limitada pela quantidade de ouro disponível, era muito mais difícil para os governos imprimirem dinheiro sem lastro, o que ajudava a evitar aumentos excessivos nos preços.

Previsibilidade Econômica: O valor da moeda atrelado ao ouro proporcionava uma maior previsibilidade nas transações financeiras. Isso era crucial para empresas e investidores, pois permitia um planejamento econômico mais seguro e a longo prazo.

2. Confiança na Moeda

Segurança e Credibilidade: O padrão-ouro conferia uma base sólida e tangível para a moeda, o que aumentava a confiança dos consumidores e investidores. A garantia de que a moeda poderia ser trocada por ouro a uma taxa fixa ajudava a manter a estabilidade financeira e a confiança na economia.

Menos Risco de Desvalorização: Com o valor da moeda garantido pelo ouro, havia menos risco de desvalorização súbita, o que contribuía para um ambiente econômico mais estável e previsível.

3. Facilitação do Comércio Internacional

Taxas de Câmbio Fixas: O padrão-ouro estabelecia taxas de câmbio fixas entre as moedas dos países que adotavam o sistema, tornando o comércio internacional mais simples e previsível. Isso reduzia os riscos associados às flutuações cambiais e incentivava o comércio global.

Menos Barreiras ao Comércio: A estabilidade proporcionada pelo padrão-ouro ajudava a promover o comércio internacional e os investimentos, pois os participantes do mercado podiam operar com maior segurança em relação ao valor das moedas estrangeiras.

4. Disciplina Fiscal e Monetária

Limitação na Emissão de Moeda: O padrão-ouro impunha uma disciplina fiscal e monetária aos governos. Como a quantidade de dinheiro que podia ser emitida estava limitada pela quantidade de ouro disponível, os governos eram incentivados a manter políticas econômicas mais equilibradas e evitar déficits orçamentários excessivos.

Prevenção de Políticas Monetárias Excessivas: Com o padrão-ouro, os governos tinham menos flexibilidade para adotar políticas monetárias expansivas, o que ajudava a evitar a criação descontrolada de dinheiro e a inflação resultante.

5. Estabilidade Econômica Global

Uniformidade no Sistema Monetário: A adoção global do padrão-ouro contribuiu para uma maior uniformidade no sistema monetário internacional, criando um sistema de moeda mais integrado e estável a nível global.

Facilitação da Cooperação Internacional: Com um padrão comum, havia mais cooperação entre os países em relação às práticas monetárias e financeiras, o que ajudava a promover uma maior estabilidade econômica internacional.

E as desvantagens do padrão-ouro?

1. Rigidez Econômica

Flexibilidade Limitada: Uma das maiores desvantagens do padrão-ouro era a falta de flexibilidade. A oferta de dinheiro estava restrita pela quantidade de ouro disponível, o que tornava difícil para os governos e bancos centrais ajustarem a oferta de moeda em resposta a mudanças econômicas. Isso podia levar a uma economia muito rígida e pouco adaptável.

Dificuldade em Responder a Crises: Durante crises econômicas ou guerras, a rigidez do padrão-ouro tornava difícil para os países expandirem a oferta de dinheiro para estimular a economia. Isso podia exacerbar recessões e levar a deflações severas.

2. Problemas de Deflação

Redução da Oferta de Dinheiro: A limitação na quantidade de dinheiro que podia ser emitida de acordo com a quantidade de ouro disponível podia resultar em deflação. Em períodos de baixa atividade econômica, a falta de dinheiro em circulação podia reduzir ainda mais a demanda e agravar as crises econômicas.

Impacto na Economia: A deflação, causada pela restrição na oferta de moeda, podia levar a um ciclo negativo de diminuição dos preços e do consumo, o que prejudicava o crescimento econômico e aumentava o desemprego.

3. Impactos Econômicos Desiguais

Desigualdade Regional: O padrão-ouro podia causar desigualdades regionais, especialmente em países que tinham reservas de ouro limitadas.

Regiões ou países com menos reservas de ouro poderiam enfrentar dificuldades econômicas maiores em comparação com aqueles que tinham mais acesso ao metal precioso.

Desafios para Países em Desenvolvimento: Para países em desenvolvimento ou economias menos robustas, a adoção do padrão-ouro poderia ser um desafio, pois eles poderiam enfrentar dificuldades para acumular ouro suficiente para sustentar suas economias, o que poderia limitar seu crescimento econômico.

4. Crises Bancárias e Falências

Vulnerabilidade a Crises Bancárias: A rigidez do padrão-ouro podia aumentar a vulnerabilidade a crises bancárias. Em situações de pânico financeiro, a demanda por ouro poderia superar a capacidade dos bancos para fornecer, levando a falências e instabilidade financeira.

Fuga de Ouro: Em tempos de crise, os investidores podiam retirar suas reservas de ouro dos bancos em massa, o que poderia levar a uma escassez de ouro e à falência de instituições financeiras.

5. Complexidade no Comércio Internacional

Desafios nas Taxas de Câmbio: Embora o padrão-ouro oferecesse taxas de câmbio fixas, isso não significava que o comércio internacional fosse sempre suave. O sistema ainda enfrentava desafios relacionados à disponibilidade de ouro e às flutuações econômicas que podiam impactar o equilíbrio do comércio entre países.

Problemas de Ajuste: Ajustar as reservas de ouro para corrigir desequilíbrios comerciais podia ser um processo complicado e demorado, o que podia criar incertezas econômicas.

Funcionamento da balança comercial

No padrão-ouro, a ideia principal era que os países precisavam manter uma boa quantidade de ouro como parte de seus ativos. Na prática, países como a Inglaterra, que exportavam mais do que importavam, acabavam acumulando ouro. Isso acontecia porque países com déficits enviavam ouro para equilibrar suas contas comerciais.

Quando um país exportava ouro, sua quantidade de dinheiro em circulação diminuía, o que ajudava a controlar a inflação e a tornar sua economia mais competitiva.

Por outro lado, países que importavam ouro viam um aumento na quantidade de dinheiro disponível, o que fazia a inflação subir e tornava suas economias menos competitivas no mercado internacional.

Isso limitava a capacidade desses países de ter superávits comerciais e afetava sua posição econômica no cenário global.

A volta do padrão ouro é possível?

O modelo atual é baseado na moeda fiduciária e a moeda que centraliza este conceito é o dólar. Porém , alguns analistas como Marc Friedrich, defendem que este modelo tende a fracassar.

A comprovação deste fenômeno de fracasso da meda fiduciária é o fato da Rússia, Irã e China terem aumentado seus investimentos em ouro. Portanto, este aumento de compra de ouro demonstra a desconfiança crescente no dólar.

Fatores que demandam a volta do padrão ouro:

  • Perda de 80% de poder de compra do dólar
  • Tendência de desvalorização do dinheiro em geral
  • Situação futura de hiperinflação
  • Economia cíclica e especulativa

Em tese, o padrão ouro foi um sistema com maior estabilidade para a economia. Contudo, é muito pouco provável a sua volta, pois não existe volume de ouro no mundo capaz de cobrir o lastro do dinheiro que é gasto. Assim, os gastos com tecnologia, armamentos, saúde atingiram um patamar tão alto que fica impossível vincular qualquer lastro.

Fontes: suno, capitalresearch e jusbrasil

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