11 de maio de 2022 - por Raul Sena (Investidor Sardinha)
O mundo como você conhece está prestes a mudar. Não vou, aqui, alimentar nenhuma teoria conspiratória, mas abordar um tema sensível a respeito da chegada da próxima crise mundial. Uma crise que não é somente política e econômica, mas, sobretudo, social. A ascensão da China, como principal potência econômica, vai implementar uma nova ordem no mundo?
A resposta para esta pergunta está diretamente ligada à proteção dos seus investimentos. E, um pouco mais à frente, eu te explico o porquê.
Primeiramente, é interessante notar que o que está acontecendo nos dias atuais é similar ao que houve na chamada Guerra do Peloponeso (431–404 a.C.).
A história relatada pelo ateniense Tucídides (431–400 a.C.) é um marco no que se refere às grandes obras acadêmicas produzidas no mundo.
Com riqueza de detalhes, o historiador e general narra a ascensão de Atenas, num momento em que Esparta era a principal potência da Grécia Antiga.
Os espartanos se sentiram ameaçados não apenas pelo poderio econômico, militar e cultural de Atenas. Estava em jogo, sobretudo, a perda do trono de maior cidade-Estado da época.
Assim, o conflito entre a Liga do Peloponeso (liderada por Esparta) e a Liga de Delos (liderada por Atenas) se tornou inevitável.
Armadilha de Tucídides
Devido ao relato da Guerra do Peloponeso, um cientista político norte americano – Graham T. Allison – batizou a expressão “Armadilha de Tucídides”.
O termo é usado nas relações internacional para definir o momento em que uma potência emergente ameaça destronar outra, já consolidada e estabelecida. Um embate direto acaba sendo a consequência fatal.
Ocorre que, neste exato momento, estamos diante dessa armadilha, que tem colocado, frente a frente, os Estados Unidos e a China.
Crises e ascensão da China: padrões se repetem
Um dos grandes pensadores da economia do nosso tempo é o gestor e escritor Ray Dalio.
O americano, um dos investidores mais influentes da atualidade, é fundador da Bridgewater Associates, o maior e mais lucrativo fundo de hedge do planeta.
O fundo, portanto, tem nada menos que 1.500 funcionários e 240 bilhões de dólares sob gestão.
É importante destacar que fundos de hedge são focados em garantir proteção aos investidores.
Então, quando citamos Ray Dalio, estamos falando de um dos maiores especialistas na arte de identificar problemas.
Dessa forma, o gestor se tornou famoso por mapear padrões de crises econômicas e políticas. E tirar proveito disto.
Ele entendeu, resumidamente, que os ciclos econômicos sempre se repetem, de maneira alternada.
Nova ordem mundial: 3 fatores que precedem a disrupção
No seu último livro, “Princípios para a Ordem Mundial em Transformação”, Ray Dalio faz uma provocação bastante pertinente sobre a nova ordem mundial.
O escritor traz um panorama de quatro impérios – holandês, britânico, americano e chinês – demonstrando porque as nações prosperam e fracassam.
Nesse contexto, ele chama a atenção para 3 fatores que vão culminar numa forte crise mundial e na disrupção da hegemonia global.
Primeiramente, Ray Dalio cita o problema do alto endividamento de longo prazo dos países.
De fato, as nações estão extremamente alavancadas, muito em função dos esforços empreendidos no sentido de conter os efeitos socioeconômicos da crise do coronavírus.
Com isso, os bancos centrais têm promovido o chamado Quantitative Easing (QE) – ou flexibilização quantitativa.
É quando o governo lança mão de todas as armas possíveis para estimular a atividade econômica.
Isso passa, por exemplo, pela criação de dinheiro novo para comprar títulos públicos e privados pelo Banco Central, com a intenção de aumentar a oferta de capital em circulação.
Ocorre que, neste aspecto, a ação dos governos têm surtido pouco efeito prático na recuperação econômica dos países.
Em síntese, os bancos centrais não estão mais conseguindo estimular ou desestimular a economia por meio da política monetária (juros).
E, por outro lado, eles acabam gerando ainda mais desigualdades: o 2º problema apontado por Ray Dalio.
Desigualdade de riqueza e polarização política
O segundo fator que afeta os mercados globais é a chamada “desigualdade de riqueza”, aliada à forte polarização política.
De um lado, temos um cenário de defasagem na distribuição de renda, o que distancia mais os pobres dos ricos.
Neste aspecto, o avanço tecnológico tem desempenhado um papel determinante, ao simplificar processos e tornar mais eficientes os lucros.
E isso faz com que os trabalhadores, na base, percam espaço para as máquinas.
Dessa forma, temos um menor consumo na base e um distanciamento maior na distribuição das riquezas, o que acaba por agravar as crises.
Por outro lado, a polarização política tem chegado a níveis insustentáveis.
Infelizmente, se tornaram comuns, em todo o mundo, episódios de intolerância e violência motivados por ideologia política.
Essa combinação explosiva de fatores comumente precede grandes recessões econômicas, a exemplo da depressão de 1929.
Ascensão da China como potência econômica
O último fator observado por Ray Dalio é a ascensão de uma potência emergente.
A verdade é que, hoje, não se discute mais se – mas quando – a China vai ultrapassar os Estados Unidos.
E isso, por consequência, pode acarretar sérios problemas na economia mundial.
Ocorre que esse novo poder emergente traz uma cultura totalmente diferente da dos países ocidentais.
Além disso, o sistema político chinês também é muito diferente e, até, contestado por lideranças do Ocidente.
Não por acaso, uma guerra entre as duas maiores potências do mundo já está em pleno vigor. Aliás, uma não; quatro guerras.
Segundo Ray Dalio, Estados Unidos e China estão travando as guerras comercial, tecnológica, geopolítica e por capitais.
De um lado, a parte que concentra a maior produção mundial; a fábrica do mundo!
De outro, a sede do sistema financeiro mundial.
A vencedora deste embate – já sabemos quem será – vai conduzir um forte processo de ruptura. E, consequentemente, implementar a nova ordem mundial.
Como proteger meus investimentos
Como você deve ter percebido, toda essa contextualização em torno do “Princípios para a Ordem Mundial em Transformação” tem um único objetivo: proteger os seus investimentos.
Não podemos ignorar os efeitos devastadores de uma recessão econômica, nos moldes da depressão de 1929 e, mais recentemente, da crise do subprime de 2008.
Então, o que fazer para proteger o seu patrimônio?
Como bem observado, Ray Dalio é o mestre quando o assunto é proteção (hedge).
Dessa forma, ele desenvolveu uma estratégia bem pragmática para não sucumbir numa eventual recessão econômica.
Santo Graal dos investimentos
Em cenários de crise, a tendência natural é que os investidores busquem os ativos mais seguros e estáveis, como os títulos públicos e outros papéis de renda fixa.
Entretanto, o mais correto é se posicionar do lado da cadeia de produção, com empresas sólidas e imunes às crises.
Eu sempre reforço que as crises abrem ótimas oportunidades em empresas de setores de consumo não-cíclico (comida, bebida, limpeza e higiene), financeiro (bancos e seguradoras) e de utilidade pública (água, luz, saneamento e gás).
São empresas que oferecem produtos e serviços de primeira necessidade. Por isso, quando sólidas, tendem a jamais quebrar.
Com isto em mente, Ray Dalio criou o que chama de “Santo Graal” dos investimentos.
Em síntese, trata-se de evitar a correlação!
Isso quer dizer que, na prática, você deve investir em negócios que não estão correlacionados.
Assim, você consegue proteger seus investimentos. E, melhor ainda, sem abrir mão da rentabilidade.
Evite ativos correlacionados
Para te ajudar a entender o conceito vamos a alguns exemplos práticos.
Na imagem acima, temos a variação dos últimos 6 meses das ações de Bradesco e Itaú.
Quando juntamos as duas imagens, podemos perceber que ambas as ações caminham praticamente juntas.
Por outro lado, temos – na imagem abaixo – o Ibovespa e o dólar, sempre se movimentando em sentido contrário. Ou seja, não correlacionados ou com correlação negativa.
O que Ray Dalio propõe, no entanto, não é um nem outro.
Tenha ativos com correlação neutra
Para formar uma carteira de investimentos mais segura, o ideal é buscar ativos com correlação neutra.
Assim, o escritor afirma que uma boa carteira tem de ter entre 10 e 15 ativos descorrelacionados.
Seguindo a recomendação, você vai ter pouquíssima chance de perder dinheiro.
Ray Dalio chegou a desenhar isto.
Ele montou um gráfico que demonstra como o porcentual de correlação influencia o risco/retorno e aumenta ou diminui as chances de perder dinheiro num determinado ano.
Dessa forma, temos o seguinte:
- Ao investir em ativos 60% correlacionados, sua chance de perder dinheiro é de 38%;
- Reduzindo a correlação para 20%, a chance de perder cai pra 30%;
- Com 0% de correlação, você tem apenas 12% de chance de ficar mais pobre.
Então, temos uma ótima estratégia, montada por Dalio, que é uma das maiores referências do mercado financeiro.
Portanto, você tem mais uma ferramenta para enfrentar uma eventual crise econômica e encarar, de forma mais segura, a nova ordem mundial.
Gostou do conteúdo? Então, não deixe de assistir ao vídeo acima (do canal Investidor Sardinha) em que detalho a ascensão da China, a nova ordem mundial e a proteção dos seus investimentos.
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