Flexibilização quantitativa: o que é e como funciona

16 de julho de 2021, por Jaíne Jehniffer

Tempo de leitura médio: 8 min, 54 seg


A flexibilização quantitativa é um programa de estímulo econômico que funciona por meio da injeção de dinheiro artificial na economia. Para injetar dinheiro, o Banco Central do país cria dinheiro novo para ser usado na compra de títulos dos bancos.

Ao comprar esses títulos, o Banco Central está injetando dinheiro indiretamente no mercado, já que os bancos ficam um capital maior e podem reduzir as taxas de juros dos empréstimos, financiamentos e cartões.

Sendo assim, o objetivo é aumentar o dinheiro em circulação e facilitar o acesso ao crédito, resultando no aumento do consumo de bens e serviços. O problema é que se trata de um dinheiro artificial, ou seja, não houve geração de riqueza.

O que é flexibilização quantitativa?

A flexibilização quantitativa ou quantitative easing (QE) é uma estratégia de estímulo monetário. Ela ocorre por meio da compra de títulos públicos e privados pelo Banco Central, com a intenção de aumentar a oferta de dinheiro em circulação. Essa estratégia é normalmente usada em momentos de crise ou estagnação econômica.

Afinal de contas, o intuito com o aumento de dinheiro em circulação na economia é justamente estimular o desenvolvimento econômico. Os principais motivos que levam à adoção desse mecanismo é: aumentar a atividade econômica, elevar a inflação e diminuir as taxas de juros.

Flexibilização quantitativa: o que é e como funciona

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Alguns países que são conhecidos por recorrer a esta ferramenta são os Estados Unidos, o Japão e a Zona do Euro. Enfim, o quantitative easing é um mecanismo tão potente que é considerado como a maior forma de intervenção pública realizada nas economias ocidentais, com exceção das guerras mundiais. 

Origem da flexibilização quantitativa

Para que um país continue a se desenvolver e crescer economicamente, é preciso que ocorra a circulação de dinheiro ao longo do tempo. Contudo, quando as empresas e pessoas não se sentem seguras com os empréstimos, essa circulação é reduzida.

A consequência disso é a diminuição da procura por bens e serviços, o que causa a redução da produção das empresas e resulta no aumento do desemprego. Da mesma maneira, quando os bancos não se sentem seguros para conceder empréstimos para os clientes, a circulação de dinheiro é reduzida.

Se as pessoas e empresas pararem de pagar os empréstimos, as instituições podem falir. Sendo que, essa situação de falências pode ser agravada se as pessoas ficarem com medo e correrem até os bancos para sacarem suas reservas.

Portanto, antes que as pessoas, empresas e bancos se sintam inseguros em relação ao cenário econômico, o Banco Central precisa intervir para incentivar o consumo e o acesso ao crédito por meio da diminuição da taxa básica de juros. No entanto, dependendo da situação econômica, essa taxa pode já ter sido reduzida a quase zero.

Flexibilização quantitativa: o que é e como funciona

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Nessa situação, é utilizada a flexibilização quantitativa para injetar dinheiro artificial na economia. O conceito de quantitative easing é relativamente moderno, já que foi usado pela primeira vez nos anos 90 no Japão.

Exemplos

Em 2001 o Banco do Japão aplicou o quantitative easing e comprou títulos de dívida pública de forma massiva. A medida não trouxe efeitos positivos, já que não acabou com o período deflacionário que durava mais de uma década e pode ter contribuído com um segundo período deflacionário maior ainda.

Em 2008 os EUA adotaram o quantitative easing. A intenção do país era comprar a maior quantidade de ativos financeiros possível em todo o mundo.

Dessa forma, inicialmente ele comprou os empréstimos hipotecários que eram ativos mais baratos, já que no final de 2008 ninguém estava interessado nesses títulos. Depois ele passou a comprar outros títulos e no final das contas, foi injetado US$ 3,7 trilhões e de fato a economia mostrou sinais de recuperação.

Flexibilização quantitativa: o que é e como funciona

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Em 2014 o Banco da Inglaterra também aderiu à flexibilização quantitativa e injetou aproximadamente 410 trilhões de libras. Contudo, ao invés da economia mostrar sinais de melhora, na verdade o resultado foi inverso do esperado.

Enfim, por meio desses exemplos de usos, podemos notar que apesar de ser um mecanismo agressivo, a flexibilização quantitativa nem resulta em efeitos positivos e pode piorar a situação econômica do país.

Como a flexibilização quantitativa funciona?

A flexibilização quantitativa funciona como uma ferramenta para aumentar a quantidade de dinheiro em circulação na economia. Nesse sentido, ela é uma estratégia de macroeconomia, pois ela é voltada para todos os blocos da nação e não para um setor ou região específica.

Em períodos normais, quando a economia não está passando por crises ou estagnações, o Banco Central exerce a função principal de garantir a estabilidade do sistema econômico. Sendo que, para isso ele usa diversas ferramentas para controlar a inflação, como, por exemplo, a taxa básica de juros do país.

Desse modo, o Banco Central consegue aumentar ou reduzir o acesso ao crédito e a circulação de dinheiro. Entretanto, em situações extremas a diminuição da taxa de juros próxima a zero pode não ser o suficiente. A solução encontrada por países como o Japão, a Inglaterra e os EUA, foi injetar uma grande quantidade de dinheiro novo na economia.

Flexibilização quantitativa: o que é e como funciona

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Dinheiro artificial

Em contexto normais de mercado, o ajuste do mercado é feito por meio da emissão de dinheiro físico, porém, com a flexibilização quantitativa, é criado capital eletrônico que deve ser utilizado apenas para a compra de títulos bancários e títulos de dívidas públicas ou privadas.

Como os bancos são as instituições com maior quantidade de títulos, ocorre uma transferência indireta, já que o dinheiro passa do Banco Central para as instituições, quanto é feita a compra de títulos. Posteriormente, esse capital passa para a sociedade, já que o acesso ao crédito é facilitado por meio da redução das taxas de juros em empréstimos, cartões e financiamentos.

Portanto, o quantitative easing funciona da seguinte maneira: o Banco Central cria dinheiro artificial. Esse dinheiro é repassado para os bancos quando o Banco Central compra títulos. Os bancos passam esse dinheiro artificial para a população ao facilitar o acesso ao crédito.

Lembrando que, trata-se de um dinheiro artificial, isto é, não houve geração de riqueza, somente a criação e injeção de dinheiro novo na economia.

O resultado final é o aumento do dinheiro artificial na economia que faz com que as pessoas passem a comprar mais. Logo, com o aumento da procura frente à oferta, a lei da oferta e demanda entra em ação e os preços são elevados, gerando inflação.

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Ou seja, a inflação é causada pelo excesso de dinheiro em circulação. O quantitative easing tem impactos também no mercado de investimentos, já que a compra massiva de títulos faz com que o preço seja elevado, o que estimula as trocas entre os investidores e faz o capital girar.

Riscos e consequências da flexibilização quantitativa

Um grande risco da flexibilização quantitativa é o Banco Central errar no diagnóstico da situação econômica e injetar uma quantidade de dinheiro muito maior do que o necessário. Se isso ocorrer, ele pode perder o controle da inflação e gerar a hiperinflação que é um problema sério e difícil de ser resolvido.

Além disso, se a taxa de juros permanecer baixa durante muito tempo, existe o risco do surgimento das bolhas de ativos. Apesar de a alta dos ativos ser insustentável, as bolhas podem se espalhar e contaminar a economia de outros países.

Existe ainda o risco de que a flexibilização quantitativa não seja utilizada apenas em caráter temporário, mas sim como uma forma permanente de financiar a dívida pública e privada. Por fim, existe o risco da chamada Guerra de QEs.

Em síntese, ela ocorre quando vários países adotam o quantitative easing ao mesmo tempo e a desvalorização da moeda tem pouco efeito na balança comercial, o que faz com que esses países passem a competir pelo volume injetado para superar uns aos outros.

Uma das principais consequências do quantitative easing, é a desvalorização da moeda local em comparação com as moedas estrangeiras. Outros resultados também podem ser percebidos caso a medida não funcione, como, por exemplo, hiperinflação, perda do poder de compra da população e bolhas.

G1

Críticas e apoios

Existem várias críticas à adoção da flexibilização quantitativa. Uma dessas críticas argumenta que o quantitative easing é um investimento improdutivo que em última instância causa uma situação deflacionária. Isso porque, ao colocar dinheiro nos bancos privados, esses recursos seriam usados no mercado financeiro e não na concessão de empréstimos para a população.

Outra crítica é que o quantitative easing pode causar o aumento da inflação acima do esperado. Essa situação pode gerar uma hiperinflação, o que além de destruir o poder de compra do consumidor, pode causar instabilidade no mercado.

Temos ainda a crítica de que o quantitative easing causa uma depreciação muito forte no valor da moeda nacional, o que pode resultar no aumento do valor pago em produtos importados. Em contrapartida, alguns especialistas financeiros apoiam o uso de medidas agressivas como o quantitative easing.

Estes especialistas acreditam que a flexibilização quantitativa é capaz de suavizar a recessão e retirar as economias dos seus ciclos de negócios, o que contribui também na suavização do boom econômico pós-recessão.

Assista ao vídeo de Raul Sena, o Investidor Sardinha, para entender sobre a próxima crise econômica e como ela está relacionada com a flexibilização quantitativa:

Agora que você sabe o que é flexibilização quantitativa, não deixe de descobrir sobre o fim do dólar e a relação com o quantitative easing, leia: Dólar vai acabar? Dinheiro em excesso e crise econômica

Fontes: Mais retorno, Admiral markets e Suno

Imagens: Ideias radicais, News, Investec, Iti seguros, Infomoney, Veja e G1