28 de maio de 2021 - por Jaíne Jehniffer
O Banco Central do Brasil (Bacen) divulgou, no dia 24 de maio de 2021, as diretrizes gerais para o desenvolvimento do real digital. Sendo que a moeda digital brasileira deve ser oficialmente lançada daqui a dois ou três anos.
A intenção é que a nova moeda digital possa baratear as operações de pagamento e aumentar as possibilidades de transações. Inclusive, o real digital deve funcionar de maneira offline, para que ele possa ser utilizado em locais sem conexão com a internet.
O Brasil não é o único país na corrida para o lançamento da própria moeda digital. Inclusive, em 2020, Bahamas foi o primeiro país a lançar uma moeda digital e, em 2021, a China lançou sua própria moeda.
O que é real digital?
No mês de agosto de 2020, o Bacen montou um grupo de estudos para o desenvolvimento da moeda digital.
Depois de meses discutindo questões sobre o desenvolvimento da moeda, ele divulgou em maio de 2021 as diretrizes gerais do desenvolvimento e afirmou que nos próximos seis meses questões relevantes sobre a moeda serão discutidas com a sociedade através de seminários.
O real digital é uma moeda digital que o Banco Central está desenvolvendo. Sendo assim, ele vai servir como uma concorrente das criptomoedas disponíveis no mercado, como, por exemplo, o Bitcoin. Entretanto, o funcionamento do real digital será diferente das criptomoedas, já que ele terá lastro no real.
Como o real digital ainda está sendo desenvolvido, ainda não existe uma definição sobre a equivalência entre R$ 1,00 da moeda digital e R$ 1,00 do real convencional.
Desse modo, existe a possibilidade de que as duas moedas tenham o mesmo valor, mas depois os valores podem divergir, já que a cotação do real digital em relação ao real convencional ainda não foi estabelecida.
No entanto, o objetivo do Bacen é permitir que os brasileiros transformem o real digital em real convencional caso desejem. Nesse sentido, será possível sacar em cédulas o dinheiro que anteriormente estava no formato de real digital. Sendo que, o real digital também será compatível com os sistemas existentes como o PIX e o TED.
Diferenças entre o real digital e as criptomoedas
A principal diferença entre o real digital e as demais criptomoedas, é que as moedas digitais, em geral, não possuem lastro, enquanto que o real digital será lastreado na moeda brasileira.
Essa é uma diferenciação muito importante, já que o real digital não é uma criptomoeda, ele é apenas uma moeda digital, uma espécie de extensão do real convencional.
Existe ainda a diferença de que o real digital não será minerável. Na verdade, ele será emitido pelo Bacen e custodiado pelos bancos comerciais.
Ou seja, o saldo permanecerá nos bancos e as transações serão intermediadas pelo sistema bancário. Isso significa que não será possível a realização de transferências entre duas pessoas sem a intermediação do sistema bancário, como ocorre com as criptomoedas.
A intenção do Bacen ao manter a necessidade do sistema bancário é reduzir as probabilidades de que o real digital seja usado em atividades ilegais, como a lavagem de dinheiro. Para isso, algumas garantias legais serão tomadas, como por exemplo, a permissão para o rastreio envolvendo operações ilícitas.
Como vai funcionar?
O real digital vai funcionar como uma extensão do real convencional. Ele será emitido pelo próprio Banco Central e a custódia da moeda ficará com os agentes do sistema financeiro. Em outras palavras, a moeda será emitida e garantida pelo Bacen, e a custódia e a intermediação das operações, será de responsabilidade dos bancos.
Uma grande diferença entre o real digital em relação ao real tradicional é a dinâmica da custódia. Isso porque os bancos podem utilizar os valores que estão nas contas dos clientes, para realizar outras transações, como, por exemplo, conceder empréstimos para outros clientes. Dessa forma, o real convencional que está depositado na conta do cliente, está ligado ao risco de quebra do banco.
Contudo, o real digital terá apenas o risco soberano. Em síntese, o risco soberano que o Bacen irá carregar ao emitir moedas digitais, é o risco do país quebrar, um fator que é considerado baixo em comparação com outros riscos de mercado.
Nesse sentido, os brasileiros poderão escolher entre deixar o dinheiro no banco de forma convencional e correr o risco de quebra dos bancos, ou deixar os recursos no formato de real digital e correr apenas o risco soberano.
Moedas digitais no mundo
Além do Brasil, diversos outros países estão estudando a criação de uma moeda digital lastreada em sua moeda oficial. Alguns exemplos são: Coréia do Sul, Suécia e Estados Unidos.
Sendo que, em outubro de 2020, Bahamas se tornou o primeiro país a lançar a própria moeda digital, o sand dollar. Posteriormente, em 2021 a China lançou o young digital.
A intenção dos países que estão nessa corrida pelo desenvolvimento das próprias moedas digitais é a visão de que o sistema financeiro do futuro será digital.
Além disso, a intenção é que o lançamento de novas moedas digitais possibilite o desenvolvimento de diversas funcionalidades e tecnologias.
Impactos do real digital
O lançamento de uma moeda digital brasileira poderá trazer diversos impactos para as pessoas e instituições. Isso porque, atualmente o sistema bancário utiliza o dinheiro dos clientes nas suas operações.
Em contrapartida, os clientes deixam o dinheiro nos bancos por diversos motivos. Por exemplo: por ser mais seguro do que ficar com o dinheiro em casa.
Entretanto, com a moeda digital, as pessoas terão a possibilidade de usar o real digital ao invés do real convencional. Ou seja, neste caso os bancos não poderão usar esses recursos para as suas atividades. É claro que algumas contas, como, por exemplo, a conta poupança, proporcionam uma pequena rentabilidade para as pessoas.
Contudo, a rentabilidade da poupança é bem baixa e boa parte dos brasileiros deixa o dinheiro na poupança apenas para a realização de pagamentos e transferências no dia a dia.
Enfim, os bancos não se posicionaram sobre o comunicado do desenvolvimento do real digital, então ainda não sabemos como os bancos serão impactados.
Outro ponto a se considerar é o risco das moedas digitais para o sistema financeiro como um todo. Se esse dinheiro for “criado do nada” e as pessoas começarem a sacar esses recursos, a economia como um todo pode ser impactada.
É importante considerar também o fato de que com o real digital o governo terá acesso a todas as transações que as pessoas realizarem, o que pode prejudicar a privacidade nas operações.
Para saber mais sobre as possíveis consequências do governo ter conhecimento de todas as transações dos brasileiros, veja o vídeo de Raul Sena:
Agora que você conhece o real digital, aprenda como funciona o WhatsApp Pay – Como ativar, utilização e quais são os bancos parceiros
Fontes: Ig, Tecnoblog e Infomoney
Imagens: Blocktrends, Exame, Norte tecnologia, Tecmundo, Panorama crypto e Onze