3 técnicas de Raul Sena para investir em ações

O primeiro passo do investidor é a análise de boas ações. Conheça as 3 técnicas de Raul Sena para investir e lucrar.

4 de julho de 2022 - por Raul Sena (Investidor Sardinha)


Investir em ações não é, necessariamente, fácil, mas é simples. A jornada do investidor de longo prazo começa com um passo pragmático: a análise de boas ações. E, no meu caso, sempre uso 3 técnicas que são muito eficientes.

Antes de falar sobre isso, contudo, é preciso entender que estamos num bom momento para comprar Bolsa de Valores.

Com o índice Ibovespa abaixo dos 100 mil pontos, grande parte dos investidores acaba fugindo, da renda variável, pra renda fixa. Afinal, títulos como o Tesouro Direto e os CDBs estão oferecendo ótimas taxas, acima de 12% ao ano.

Quem deixa o balcão das ações neste momento, no entanto, acaba deixando passar boas oportunidades. E, no longo prazo, a Bolsa de Valores sempre entrega os melhores resultados.

Isso porque, na prática, o empréstimo (renda fixa) nunca vai render mais que o negócio a que ele se destina. Ou seja, nunca rende mais que a própria atividade econômica.

Se assim fosse, todas as empresas quebrariam e apenas os bancos teriam lucro. O que, obviamente, não acontece.

Dito isto, vamos pontuar as 3 técnicas que eu emprego para investir em ações.

1. Comece pelo setor

O investidor meia boca é muito levado pelas notícias veiculadas na grande imprensa e pelos burburinhos das mídias digitais. Uma ação está badalada? Ele vai lá e compra.

Na realidade, o jeito certo de investir é bem diferente disto. Antes de tudo, você deve se atentar ao setor no qual aquela empresa está inserido.

É um banco? Uma petrolífera? Em empresa de saneamento básico, construção ou energia? A primeira coisa a fazer é entender qual o setor e, principalmente, se este setor é perene.

Uma boa forma de descobrir é se perguntar: esta empresa está num setor que existe há mais de 100 anos? A lógica por trás disso é a seguinte:

Uma empresa ou um setor que existe há 100 anos tem muito mais chance de existir pelos próximos 100. Tal premissa é conhecida como Efeito Lindy.

É claro que empresas de tecnologia não vão se encaixar nesse quadrante. Mas, exatamente por isso, é importante diferenciar o que é mais sólido do que é terreno duvidoso.

É um setor lucrativo?

Dentro da análise de risco, você sempre deve verificar se as empresas de determinado setor apresentam lucros consistentes.

Dois exemplos de empresas com péssimo histórico, neste quesito, são as varejistas e as companhias aéreas.

Nas últimas décadas, dezenas de grandes empresas de ambos os setores acabaram falindo. Entre os exemplos estão Lojas Brasileiras, Arapuã e Mesbla, bem como Varig, Vasp e Avianca.

Então, o mais sensato é fugir de setores que não conseguem dar lucros consistentes às empresas.

É regulado demais ou dependente do estado?

Alguns setores da economia são muito sensíveis. Empresas da área de saúde e as próprias companhias aéreas, por exemplo, são extremamente regulados.

Assim, a presença do Estado acaba engessando demais e comprometendo o andamento – e os lucros – da empresa.

3 técnicas de Raul Sena para investir em ações

Outros setores, como o elétrico, também sofrem com a regulação, mas conseguem sobreviver, mesmo com a intromissão do governo.

No caso das empresas de energia elétrica, elas não apenas sobrevivem, mas têm se mostrado lucrativas e boas pagadoras de dividendos.

As empresas do setor são B2B ou B2C?

Empresas mistas tendem a ter resultados melhores. Logo, aquelas que atendem apenas ao consumidor final (B2C – business to consumer) são, naturalmente, mais arriscadas.

Por outro lado, empresas que também vendem para outras empresas (B2B – business to business) costumam ter contratos maiores e, portanto, são mais robustas.

As empresas do setor são alavancadas?

Uma empresa ter dívida não é, necessariamente, um problema. Pelo contrário! O custo de empréstimos tende a ser bem mais barato que o custo do capital privado.

Por outro lado, alguns setores são extremamente alavancados. Ou seja, têm mais dívidas do que deveriam.

Neste caso, é recomendado muito cuidado para não acabar entrando numa fria, comprando empresas que podem se tornar insolventes.

Quais os indicadores mais repetidos nesse nicho?

Outra coisa importante a considerar, na análise do setor, são os indicadores específicos de determinado nicho.

Trata-se, portanto, daqueles indicadores, não tão comuns, que se repetem com mais frequência no RI (Relação com Investidores) das empresas.

Como exemplo, temos o VGV (Valor Geral de Vendas) das construtoras; o SSS (Same Stores Sales) das varejistas e o PDD (Provisão para Devedores Duvidosos) dos bancos.

Quando encontrar indicadores como estes, estude o que são e compare as empresas do setor, antes de comprar a ação.

2. Faça uma análise cega

Quem é melhor: Coca-Cola ou Pepsi? Quem prefere Coca tem uma tendência natural a dar uma “filtrada” nos indicadores, na hora de comparar as empresas. E vice-versa.

Na prática, isso significa que quando você está enviesado, tende a escolher os indicadores que confirmam sua preferência pessoal por determinada ação. “O ROE é pior, mas é claro que é porque a empresa investe mais que a outra”.

Para evitar a ingerência deste viés cognitivo na hora de comparar escolher as ações, uma ótima dica é a seguinte:

Defina, previamente, todos os indicadores que serão usados na comparação. Fazendo isto, você se blinda de “selecionar” os indicadores que convém. 

No fim das contas, você vai evitar fazer um investimento por apego à empresa, ao invés de se basear nos fundamentos.

Pode ser que a escolha demore um pouco mais, mas vai valer a pena. Afinal, pra que tanta pressa, agora, se você vai passar anos – até décadas – casado com aquela ação?

Pessoalmente falando, às vezes chego a passar meses estudando uma empresa, antes de comprar. Tudo com calma, nas horas vagas e sem pressão.

Quem quer correr e se atolar em estudo e pesquisa, gastando horas de trabalho com isto, tem de parar de trabalhar e virar analista do mercado financeiro. Do contrário, não faz nenhum sentido!

3. Defina o nível de risco

Aqui, muita gente peca. Não se trata, apenas, de saber qual empresa comprar. É preciso entender o quanto comprar.

Se você investe quase tudo em empresas arriscadas, está correndo o risco de perder tudo. Neste caso, uma única empresa que der certo não vai compensar a perda de todas as outras.

Na vida real, a maioria dos investidores faz assim: escolhe 10 ações e coloca, por exemplo, R$ 100 em cada uma. Ou, pior, compram um lote inteiro de cada.

Ao fazer isto, você pensa que está diversificando. Mas, na realidade, está fazendo uma bela cagada.

Imagine a seguinte carteira de investimentos, seguindo esta lógica equivocada:

  • Petrobras:10%
  • Vale: 10%
  • Weg: 10%
  • Sinqia: 10%
  • Banco do Brasil: 10%
  • MAHLE-Metal Leve: 10%
  • Vivara: 10%
  • Engie: 10%
  • Fleury: 10%
  • Oi: 10%

Aparentemente, não há nenhum grande problema nesta “diversificação”, não é mesmo? Mas, o problema é que ações diferentes devem ter peso diferente.

Ou seja, é um ato falho colocar na mesma balança, por exemplo, uma small cap e um blue chip. É o mesmo que querer dirigir um chevetão aspirado 1986, a 250 km/h, da mesma forma que se “pilota” um porsche 911 0km.

Ambos os carros poderão atingir os 250 km/h. Mas, com toda a certeza, o bonitão do chevette vai ter muito mais chance de bater as botas.

Defina percentuais para os ativos

Para evitar uma diversificação “burra” dos investimentos, o correto é definir percentuais para cada ativo, com base, principalmente, no fator risco. Usando o mesmo exemplo de carteira, poderíamos definir, a grosso modo:

  • Petrobras:18%
  • Weg: 18%
  • Engie: 17%
  • Vale: 12%
  • Banco do Brasil: 12%
  • Sinqia: 5%
  • MAHLE-Metal Leve: 5%
  • Vivara: 5%
  • Fleury: 5%
  • Oi: 3%

Fazendo uma alocação com base nos riscos, e não em sonhos ou expectativas, você constrói uma carteira muito mais estável.

Se não dá pra comprar todas as ações, vá aportando aos poucos. Não tenha pressa para fazer os investimentos.

Os alunos da nossa escola de investimentos, a UVP (A Única verdade Possível), aprendem a usar uma ferramenta que categoriza, automaticamente, o percentual de cada ação.

Para tanto, basta definir algumas perguntas básicas que deverão ser respondidas, caso a caso, para cada ativo.

Se quiser entender mais sobre esta estratégia, bem como as outras técnicas que uso para investir em ações, assista ao vídeo abaixo, que publiquei no canal Investidor Sardinha.

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