8 de setembro de 2021 - por Jaíne Jehniffer
A inflação chegou com uma força que não é vista desde o início do Plano Real. Com o aumento generalizado dos preços de bens e serviços, muitos investidores começaram a se questionar sobre o efeito da maior inflação desde o Plano Real nos investimentos.
Primeiramente, é preciso lembrar que a inflação é um efeito esperado. Com a pandemia da Covid-19, houve a injeção de dinheiro na economia, o que causou o aumento da demanda frente a oferta e, consequentemente, o aumento dos preços de bens e serviços.
Apesar de falarmos sobre os efeitos da inflação em cima dos investimentos e como proteger a carteira de investimentos, este texto não deve ser considerado como uma recomendação ou indicação de investimentos.
A maior inflação desde o Plano Real
No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação bateu os 8,99%. Isso significa que houve um aumento generalizado nos preços de bens e serviços. Por exemplo, um pacote de arroz que antes custava R$ 12,00 hoje em dia custa em torno de R$ 20,00.
Esse aumento, que pode ser percebido nos mais diversos produtos, é resultado da injeção de dinheiro na economia. Em síntese, quando a pandemia teve início os governos mundiais ficaram sem saber o que fazer, já que ninguém sabia como lidar com o vírus e não existia uma perspectiva de vacina.
Como medida de contenção do vírus, foi adotado o lockdown. Sendo assim, os estabelecimentos foram fechados e as pessoas tiveram que ficar em casa. Sem as pessoas poderem trabalhar, o governo teve que tomar alguma medida, já que sem trabalho as pessoas não têm dinheiro para sua subsistência.
Nesse cenário, foi criado o Auxílio Emergencial. Vale destacar que este tipo de auxílio foi criado não apenas no Brasil, mas em diversos países como, por exemplo, na Alemanha. Os governos sabiam que se não dessem dinheiro para a população, as pessoas não iam cumprir o lockdown, já que não teriam dinheiro nem para comprar alimentos.
A injeção de dinheiro e a volta da inflação
Apesar da injeção de dinheiro ter sido necessária para que as pessoas permanecessem em casa e o número de contágios fosse reduzido, ela trouxe problemas. Até porque, no Brasil já houve uma transferência direta de dinheiro do governo para a população por meio de programas como o Bolsa Família.
Nesse processo de transferência de dinheiro para a população, o governo aproveitou para bancarizar a população, já que era preciso ter uma conta no banco para acessar o benefício. Ao transferir dinheiro para a população, ela começou a consumir.
O problema é que foi transferido uma grande quantidade de dinheiro. Com apenas o Bolsa Família a transferência de dinheiro era pequena e esses recursos eram absorvidos de maneira relativamente fácil pelo mercado. Contudo, com o Auxílio Emergencial as pessoas correram para o supermercado para gastar e, em um primeiro momento, houve escassez.
Além disso, como o dólar estava descontrolando, pois estávamos injetando dinheiro as importações começaram a valer mais a pena. Com o aumento da demanda é natural que tenha faltado produtos. Isso ocorreu, pois apenas a demanda aumentou e não a oferta de produtos.
A volta da inflação
A injeção de dinheiro na economia causou um aumento da demanda que não foi antecipado pela oferta e resultou no aumento generalizado dos preços.
No entanto, antes do aumento dos preços houve um período onde tudo eram flores: o número de clientes aumentou, as empresas passaram a vender cada vez mais, os negócios começaram a expandir e as empresas começaram a contratar pessoas.
Nessa época várias empresas bateram recordes de vendas, impulsionados pelo estímulo de consumo do Auxílio. As empresas passaram a faturar mais e tentaram aumentar a produção. Entretanto, demora um certo tempo para a oferta de produtos se ajustar à demanda. Como não houve esse ajuste, os preços começaram a subir.
Esse é um fenômeno natural: se várias pessoas estão querendo comprar determinado item e existem poucos desses itens, a tendência é que o seu preço seja elevado. Enfim, é a velha lei da oferta e demanda. Além disso, com o aumento da produção, o Brasil está passando por um problema que ele não enfrentava há muito tempo: a escassez de insumos.
Elevação da taxa de juros
Como uma forma de tentar controlar a volta da inflação e não perder o controle, o governo começou a subir a taxa básica de juros, a Selic. Portanto, o objetivo com a subida da taxa de juros é diminuir a oferta de dinheiro na economia e consequentemente, a inflação.
Basicamente, a Selic influencia em todas as outras taxas de juros. Desse modo, quando ela é elevada o acesso ao crédito é dificultado, o que reduz a quantidade de dinheiro em circulação. Por exemplo, os empréstimos ficam com taxas mais elevadas, logo a população evita pegar empréstimos.
Para completar o cenário econômico brasileiro, nós estamos passando por uma crise energética e os preços do petróleo estão sendo elevados. Como o preço do petróleo está aumentando no mundo, os preços dos combustíveis também estão passando por reajustes.
O grande problema é que o Brasil é extremamente dependente de rodovias para transportar produtos. Isso significa que os preços dos produtos também estão sendo elevados por causa do preço dos combustíveis. Sendo assim, a expectativa de inflação é bem alta para 2021.
Como a Selic começou a ser elevada nos primeiros meses do ano, nós estamos em meio à tentativa de frear a inflação. Isso não significa que os preços irão baixar, a tentativa está em controlar os preços para que eles não continuem a subir na rapidez atual.
Apesar disso, é pouco provável que os preços voltem aos patamares que estavam antes da pandemia. Isso porque, seria necessário um cenário de deflação. Alguns setores, como o de alimentos, pode ter um recuo de preços, pois a elevação de preços era temporária. Mas os bens duráveis dificilmente terão uma redução.
O que pode acontecer no médio prazo com a volta da inflação?
Existem opiniões divergentes sobre o que irá acontecer no médio prazo. Mas Raul Sena, o Investidor Sardinha, acredita que se a Selic subir bastante, será possível evitar a elevação da inflação. Apesar disso, ele não acredita na redução de preços de bens duráveis.
O Raul acredita também que no médio prazo pode ocorrer o chamado Efeito Chicote. Em resumo, como as empresas estão percebendo que os consumidores estão absorvendo facilmente tudo que elas estão produzindo, elas podem tentar aumentar bastante a produção, o que pode resultar no excesso de oferta.
Isso porque, o acesso ao crédito será dificultado por causa da elevação da Selic. Logo, quando a produção aumentar ela pode não encontrar uma demanda tão alta e ficar com produtos em excesso. Essa situação pode causar a redução de preços, já que a oferta será superior à demanda.
O que fazer com os investimentos
Como a inflação reduz o poder de compra da população, ela afeta diretamente o retorno dos investidores. Afinal de contas, se a inflação for maior que os seus rendimentos, significa que na prática você está perdendo poder de compra apesar de investir e ter um ganho nominal. As atitudes a serem tomadas depende da categoria que você se encaixa:
1- Investidor iniciante: Se você está começando a construir seu patrimônio através de pequenos aportes mensais, a sua vida não será tão impactada pela inflação. Isso porque, você ainda vai investir durante muitos anos até construir um patrimônio sólido.
2- Já tem um patrimônio considerável: Se você está começando agora, mas já tem um patrimônio considerável, então o interessante é ir investindo aos poucos, ao invés de aplicar todo o seu dinheiro de uma vez.
3- Grande patrimônio: Por fim, os investidores com um grande patrimônio devem se manter fiéis à sua estratégia de investimentos e lembrar que investir é para o longo prazo.
Enfim, agora que você sabe como está o cenário da maior inflação desde o Plano Real, veja o vídeo de Raul Sena, o Investidor Sardinha e entenda mais sobre como lidar com ela:
Agora que você entende como está o cenário da maior inflação desde o Plano Real aproveite para aprender sobre um investimento que proporciona rendimentos acima da inflação: NTN-B: o que é e como funciona esse tipo de título do Tesouro Direto
Fonte: Roteiro de Raul Sena
Imagens: Mais Retorno, O Petróleo, NewTrade, Jovem Pan, Unaienses e Epic capital