A taxa de juros SELIC bateu novamente a mínima histórica. Fixada em 3.75% ao ano, nunca esteve tão baixa desde sua criação.
O cenário dos juros no Brasil vem se desdobrando de uma forma atípica. Por isso, entender a SELIC é indispensável para qualquer investidor, seja de renda fixa ou variável.
Neste artigo, vamos te ajudar a se inteirar sobre o tema e compreender a relação entre a SELIC e os investimentos.
O que é a taxa SELIC?
A SELIC nada mais do que uma taxa de juros. Contudo, ela é tida como a taxa básica de juros da nossa economia.
Primeiramente, é necessário compreender o sentido e a definição da palavra, em si. “Juros” é a remuneração cobrada pelos empréstimos, ou seja, o quanto o empréstimo de dinheiro custa.
Definição da SELIC segundo o Banco Central do Brasil
A definição da taxa SELIC é a seguinte: “taxa média ajustada dos financiamentos diários apurados no sistema especial de liquidação e custódia para títulos federais.”
Provavelmente, você não entendeu, certo?
Mas, pelo conceito do BC, podemos extrair principalmente que é uma taxa média de juros, tem por base os financiamentos apurados, dentro de um sistema, que se utiliza de títulos públicos.
Na prática, preparamos uma explicação simples, mas que vai te fazer entender com exatidão.
Como funciona na prática?
De maneira simplificada, a SELIC funciona da seguinte maneira: todos os dias você e eu colocamos e retiramos dinheiro dos bancos. Ao final do dia, a quantidade de dinheiro no banco pode ser alta ou baixa.
A propósito, o Banco Central estipula uma “quantidade de dinheiro” que cada banco tem que ter em caixa. Isso se chama depósito compulsório. Ele serve para garantir o crédito, que é o dinheiro que foi emprestado.
Alguns bancos, ao final do dia, podem ter menos do que o necessário exigido. Contudo, isto é perfeitamente normal.
Para manter o sistema estável, os bancos emprestam dinheiro entre si, de um dia pro outro.
Com isso, na hora do pagamento, os bancos devolvem este empréstimo com juros. Isto é o que chamamos de juros SELIC.
Os empréstimos, por sua vez, são feitos com base em títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional e são lastreados por estes títulos.
Essas movimentações entre os bancos são registradas pelo Sistema Especial de Liquidação e Custódia, ou abreviando, SELIC.
Ou seja, a SELIC diária nada mais é do que o resultado – mediante uma fórmula complexa – do registro de todas as operações feitas pelos bancos naquele dia.
Já a SELIC, como a taxa que nós conhecemos, é apenas uma meta da taxa básica de juros estipulada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central, o COPOM, do Banco central.
Mas o que é o COPOM?
É importante entender que o COPOM não é uma entidade de outro mundo, nem se quer um mostro de sete cabeças.
Basicamente, é um órgão constituído no âmbito do Banco Central, composto por um presidente e oito diretores.
O Comitê se reúne a cada 45 dias para definir a política monetária e a nossa taxa de juros básica, levando em consideração diversos fatores – como o controle da inflação. Mas, além de definir a taxa SELIC, o órgão a função de regular a liquidez da economia.
Desta forma, usando instrumentos de política monetária, o COPOM também controla quesitos importantes da economia como, por exemplo, a quantidade de circulação de moedas no mercado e o controle da inflação.
Como o COPOM controla a SELIC?
O controle do Comitê sobre a taxa de juros referencial não é feito por meio de decretos, imposições, nem nada do tipo. Para definir a taxa SELIC, o Copom utiliza a lei mais importante da economia: a da oferta e demanda.
Como dissemos anteriormente, os empréstimos realizados entre os bancos são feitos em títulos públicos. Eles utilizam deste meio para garantir os pagamentos, da maneira mais segura possível.
E nada mais seguro do que títulos emitidos pelo Tesouro Nacional para intermediar estas operações.
Então, na prática, vamos usar um exemplo para entender como o Banco Central controla a SELIC.
Imagine que a taxa SELIC esteja baixa. Um título público do Tesouro Direto está sendo negociado por R$ 800 – lembrando que, ao final do prazo de vencimento, este título valerá R$ 1.000.
Assim, para fazer os juros caírem, o BC começa a vender títulos, como este, por R$ 700. Ou seja, força o preço para baixo e, assim, aumenta o interesse dos investidores.
Como resultado, o mercado compra mais deste título, porque está barato. E os juros serão maiores, para o investidor, devido à diferença entre o quanto ele pagou e o quanto recebeu.
Quando precisa fazer o inverso, o BC começa a comprar os títulos, fazendo com que a oferta diminua no mercado – o que resulta em aumento dos preços e a consequente redução nos juros recebidos pelo investidor.
Pra que serve a SELIC?
É provável que você já tenha entendido a importância da taxa de juros referencial sobre a economia.
Além de coordenar os depósitos compulsórios, sua função primordial é o controle da inflação. Sendo a inflação o aumento generalizado nos preços, a taxa de juros serve como um sistema de freios do temido sistema inflacionário.
Resumidamente, a alta ou a queda dos juros exerce influência direta no consumo das pessoas. Se o crédito é mais barato, as pessoas tendem a se arriscar mais e a consumir mais, consequentemente.
Neste sentido, quando a inflação está muito alta, o que gera uma diminuição do poder de compra, o Banco Central sobe os juros. Assim, o consumo tende a cair e a forçar os preços para baixo.
O processo inverso também acontece.
Com a baixa da inflação, o BC derruba a taxa SELIC para incentivar o consumo.
Juros baixos gera inflação alta
Imagine que Joaquim, um vendedor de geladeiras, vende seu eletrodoméstico por R$ 1.000,00. Com a economia indo bem, o crédito fica mais facilitado e mais clientes conseguem parcelar suas compras.
Isto faz com que 40 pessoas queiram comprar as geladeiras do Joaquim. Mas, seu estoque é de apenas 30 unidades.
Neste cenário, as pessoas estão com poder de compra elevado por conta da baixa dos juros.
Ciente disto, Joaquim aumenta o preço da geladeira, até chegar num ponto em que somente 30 pessoas vão comprar as 30 geladeiras. Este processo de aumento nos preços é a chamada inflação.
Juros altos gera queda na Inflação
Agora, imagine que a economia vai mal, Joaquim está com problemas e o crédito está muito caro.
Ou seja, pegar dinheiro emprestado está saindo salgado no fim das contas.
Joaquim irá perceber que apenas 20 pessoas estão interessadas em comprar uma geladeira. Assim, para atrair compradores, ele vai abaixar o preço e facilitar a forma de pagamento, até que 30 clientes comprem as 30 unidades disponíveis.
Neste exemplo, os juros estão altos, as pessoas estão consumindo menos e, portanto, os preços caem e a inflação desacelera.
Logo, em resumo, juros altos representam menos consumo e queda geral de preços. Juros baixos, por sua vez, fomentam o consumo e elevam os preços.
Como a SELIC influencia seus investimentos?
Os investimentos podem ser afetados pela alta ou baixa da taxa SELIC de duas maneiras, direta ou indiretamente.
Como efeito direto, a rentabilidade dos investimentos em renda fixa sempre acompanha a taxa básica de juros. Ou seja, SELIC alta significa mais ganhos pro investidor, e vice versa.
Renda Fixa
O raciocínio por traz desta conta é simples. Imagine, por exemplo, um título que renda 120% da SELIC.
Se a taxa básica está em 8% ao ano, este investimento renderá, em valor bruto, 9,6% (8 x 120%).
Caso a SELIC suba pros 10%, o mesmo título passará a render 12% a.a. (10 x 120%).
Ou seja, o rendimento automaticamente subirá.
Em nosso artigo sobre Renda Fixa, explicamos essa lógica, em detalhes, e mostramos como são calculadas as rentabilidades da Poupança e de títulos como CDB’s, LCI’s, LCA’s e Tesouro Direto.
Renda variável
Já na renda variável, os efeitos são sentidos indiretamente. Aqui, vale mais a lógica do exemplo do Joaquim.
Se uma empresa encontra mais facilidade em conseguir crédito no cenário interno do que no externo, ela tende a se alavancar mais – operar com dinheiro de terceiros –, trocando dívidas externas, mais caras, pelas internas “com desconto”.
E, quando falamos de fundos imobiliários, o acesso ao crédito exerce um peso enorme, mesmo que de forma indireta, na performance do FII.
Fundos de tijolos, por exemplo, ou de desempenho, que constroem imóveis para aluguel ou com a única finalidade de lucrar, são muito impactados quando o crédito imobiliário está mais, ou menos, acessível.
Assim, os efeitos da taxa básica de juros, em geral, não influenciam diretamente o desempenho dos fundos e das empresas.
No macro cenário, entretanto, juros menores viabilizam o crédito, item indispensável para a saúde financeira de empresas e negócios, sejam iniciais ou em desenvolvimento.
Então, é isso sardinhada!
A taxa SELIC exerce um grande efeito nos seus investimentos, seja você conservador, moderado ou agressivo.
Abraços e bons investimentos!