18 de abril de 2025 - por Sidemar Castro
A composição do endividamento (CE) representa um importante indicador financeiro, pois revela como uma empresa estrutura suas dívidas. Por meio dele, é possível identificar a proporção entre as diferentes fontes de financiamento utilizadas para captar recursos.
Em outras palavras, esse indicador mostra como a empresa está financiando suas atividades e projetos. Além disso, permite avaliar com mais clareza sua capacidade de cumprir os compromissos assumidos. Nesse contexto, a composição do endividamento abrange diversos tipos de dívidas, como empréstimos bancários, debêntures, financiamentos, entre outros.
Ao analisar esse indicador, o gestor consegue observar a distribuição entre dívidas de curto e longo prazo, os juros envolvidos, as garantias oferecidas e outras informações relevantes. Entenda como interpretar esse indicador.
O que é composição do endividamento (CE)?
A composição do endividamento (CE) é um indicador financeiro que mostra como uma empresa estrutura suas dívidas, detalhando a proporção entre obrigações de curto e longo prazo. Ela revela se a organização prioriza empréstimos com vencimento em até um ano (curto prazo) ou em períodos maiores (longo prazo).
Por exemplo, dívidas de curto prazo incluem fornecedores a pagar ou linhas de crédito bancário, enquanto as de longo prazo abrangem financiamentos imobiliários ou títulos corporativos.
Além disso, essa composição ajuda a entender o risco financeiro: um alto endividamento de curto prazo pode indicar pressão por liquidez, exigindo capital rápido para honrar compromissos. Por outro lado, dívidas de longo prazo sugerem planejamento estratégico, mas podem trazer custos elevados com juros.
Investidores e analistas usam essa métrica para avaliar a saúde financeira da empresa. Se a composição for equilibrada, com prazos alinhados à geração de receita, há menor risco de inadimplência. Portanto, empresas buscam ajustar suas dívidas conforme sua capacidade de pagamento e ciclos operacionais.
Leia também: Índice de Endividamento Geral (EG): o que é e como calcular?
Como calcular a composição do endividamento?
Calcular a composição do endividamento (CE) é simples e envolve uma fórmula direta. Para isso, você deve dividir o valor total dos passivos de curto prazo (passivo circulante) pelo total do passivo exigível da empresa, que inclui tanto os passivos de curto quanto de longo prazo. Em seguida, multiplica-se o resultado por 100 para obter o percentual.
A fórmula é a seguinte:
CE = (Passivo Circulante / Passivo Exigível Total) x 100
Vamos a um exemplo prático:
Suponha que uma empresa tenha R$ 3.000.000 em passivos de curto prazo, e mais R$ 1.000.000 em passivos de longo prazo. Assim, o passivo exigível total será:
R$ 3.000.000 (curto prazo) + R$ 1.000.000 (longo prazo) = R$ 4.000.000
É importante lembrar que o patrimônio líquido não entra nesse cálculo, já que representa uma dívida da empresa com os seus sócios. E, portanto, não se configura como uma obrigação exigível no curto ou longo prazo.
Agora, aplicando os valores na fórmula:
CE = (3.000.000 / 4.000.000) x 100 = 75%
Esse resultado indica que 75% das obrigações da empresa vencem no curto prazo. Ou seja, a maior parte do endividamento está concentrada em dívidas que exigem liquidez imediata. Se, além disso, a empresa não tiver reservas de caixa ou investimentos de alta liquidez, ela pode enfrentar dificuldades para honrar seus compromissos no prazo.
Quais são os tipos de dívidas?
1) Empréstimos e financiamentos
São valores que uma pessoa ou empresa toma emprestado para realizar investimentos, comprar bens ou expandir negócios. Geralmente, envolvem pagamento de juros e prazos definidos para quitação. Por exemplo, um financiamento imobiliário ou um empréstimo para abrir um negócio.
2) Adiantamentos
Consistem em valores recebidos antecipadamente, que precisam ser devolvidos posteriormente. Podem ocorrer em contratos de trabalho, contratos comerciais ou empréstimos pessoais. É uma forma de antecipar recursos, mas exige cuidado para não criar uma dívida difícil de pagar.
3) Operações de arrendamento mercantil (leasing)
Na composição de endividamento (CE) entram contratos de aluguel de bens, como veículos ou equipamentos, com opção de compra ao final do período. Essa modalidade, leasing, permite usar o bem sem precisar comprá-lo imediatamente, mas gera uma obrigação financeira contínua.
4) Operações com cartão de crédito
Incluem as compras parceladas ou o uso do crédito rotativo. É uma dívida comum, que pode ser boa se usada com controle, ou ruim se gerar altos juros por atraso ou compras desnecessárias.
5) Dívidas públicas
As dívidas públicas também entram na composição de endividamento (CE). Elas são contraídas pelos governos (federal, estadual ou municipal) para financiar suas despesas. Essas dívidas podem ser de curto ou longo prazo e influenciam a economia do país.
6) Obrigações de crédito
São dívidas que envolvem títulos de crédito, como debêntures ou bonds, emitidos por empresas ou governos para captar recursos no mercado financeiro.
7) Dívidas de consumo
Incluem compras parceladas de bens de consumo, como eletrônicos, móveis ou roupas, que podem ser boas se planejadas, mas ruins se gerarem endividamento excessivo.
8) Dívidas de aluguel ou serviços
Refere-se às contas de água, luz, gás, internet e outros serviços essenciais, que precisam ser pagas em dia para evitar problemas de fornecimento ou multas.
9) Dívidas de empresas ou pessoas físicas
São obrigações financeiras devidas a credores, que variam de acordo com a origem, valor, prazo e condições de pagamento.
Veja também: Dívida bruta: como funciona esse indicador de endividamento?
Exitem dívidas boas e dívidas ruins?
Quando analisamos a estrutura de endividamento, é importante separar os compromissos financeiros em dois grupos: os que trazem benefícios e os que representam riscos. Pode parecer estranho, mas nem toda dívida é ruim — algumas podem até ser estratégicas. Vamos entender melhor?
Dívidas boas são aquelas contraídas para manter o funcionamento do negócio, construir patrimônio ou investir em melhorias de longo prazo, geralmente com custos mais baixos. Exemplos incluem:
- Contas básicas como energia, água, telefone e internet;
- Financiamentos para imóveis ou aquisição de maquinário.
Dívidas ruins, por outro lado, são aquelas que poderiam (ou deveriam) ser evitadas. Elas normalmente envolvem altos custos e não trazem retorno significativo. São exemplos:
- Operações financeiras com juros elevados;
- Passivos que não agregam valor;
- Empréstimos tomados apenas para manter o capital de giro.
Vale lembrar que essa classificação também leva em conta o impacto das dívidas sobre os ativos da empresa. Mesmo compromissos considerados necessários podem se tornar um problema se o pagamento estiver além da capacidade financeira disponível.
Leia: Qual é a diferença entre inadimplência e endividamento?
Como usar e interpretar a composição do endividamento (CE)?
Entender a composição do endividamento é essencial tanto para gestores quanto para consumidores. Aqui está como cada grupo pode usar e interpretar essa informação:
Por gestores
Gestores utilizam a composição do endividamento (CE) para tomar decisões estratégicas e garantir a saúde financeira das organizações. É possível:
- Avaliar os tipos de dívida: Identificar qual proporção é de curto prazo e qual é de longo prazo ajuda a planejar pagamentos e minimizar riscos financeiros.
- Gerenciar custos financeiros: Comparar taxas de juros e condições de financiamento permite optar por dívidas mais vantajosas.
- Planejar investimentos futuros: Quando bem interpretada, a composição do endividamento fornece insights sobre a capacidade de investir e expandir sem comprometer a sustentabilidade do negócio.
- Garantir a solvência: Monitorar o equilíbrio entre capital próprio e dívida evita níveis perigosos de alavancagem financeira.
Por consumidores
Consumidores podem interpretar a composição do endividamento (CE) para melhorar sua vida financeira pessoal. Aqui está como:
- Identificar os tipos de dívida: Saber a diferença entre dívida boa (que gera valor, como financiamento imobiliário) e dívida ruim (como compras supérfluas no cartão de crédito) ajuda a priorizar pagamentos.
- Controlar o orçamento: Revisar regularmente a composição das dívidas ajuda a evitar gastos excessivos e prever pagamentos futuros.
- Aumentar a educação financeira: Compreender os juros aplicados e a duração das dívidas estimula escolhas mais conscientes.
- Estabelecer objetivos: Ter clareza sobre o endividamento atual é o primeiro passo para planejar a quitação de dívidas ou até mesmo poupar para metas maiores.
Veja: 10 passos para sair das dívidas rápido
Qual a importância da composição do endividamento (CE) ?
Compreender a composição do endividamento (CE) vai muito além de um conceito teórico. Na prática, esse entendimento exerce um papel fundamental na gestão financeira de empresas e também de pessoas físicas.
Primeiro, ela é importante por que direciona a gestão de despesas da empresa. Analisar a composição das dívidas permite enxergar com clareza as diferentes fontes de financiamento utilizadas. Com base nesse diagnóstico, a empresa consegue planejar melhor o fluxo de caixa, alocar os recursos com mais eficiência e manter o controle sobre os custos relacionados ao pagamento das obrigações.
É importante, também, por que permite identificar e avaliar os riscos financeiros envolvidos. Uma composição bem distribuída indica maior estabilidade, enquanto o excesso de dívidas concentradas em fontes de alto risco aumenta a exposição a crises e imprevistos econômicos.
A composição do endividamento (CE) torna o gerenciamento de dívidas mais eficaz. Com uma visão detalhada das características das dívidas, tais como prazos, taxas de juros e garantias, a empresa pode adotar estratégias mais inteligentes para gerenciar suas obrigações. Assim, isso inclui renegociar condições, buscar refinanciamentos vantajosos e elaborar planos de quitação compatíveis com a capacidade financeira do negócio.
Por fim, uma estrutura de endividamento equilibrada não apenas demonstra solidez financeira, mas também abre espaço para novas oportunidades. Investidores tendem a enxergar com bons olhos empresas com dívidas bem administradas, o que facilita a captação de recursos para expansão, inovação e novos projetos.
Veja a opinião de Raul Sena, o Investidor Sardinha: Se você soubesse como funcionam as dívidas, ficaria enojado
Como evitar o endividamento?
Pensando em manter a saúde financeira da sua empresa e evitar o endividamento, algumas ações são essenciais.
Para começar, planeje suas finanças com cuidado. Elabore um orçamento detalhado, prevendo receitas e despesas futuras. Dessa forma, você terá uma visão clara da situação financeira e poderá identificar possíveis gargalos.
Além disso, controle seus gastos de perto. Analise cada despesa e veja onde é possível economizar. Por exemplo, negocie com fornecedores, reduza custos operacionais e evite gastos desnecessários.
Outra dica importante é tentar aumentar a receita da sua empresa. Invista em marketing, melhore seus produtos ou serviços e explore novos mercados. Consequentemente, você terá mais recursos disponíveis e menos necessidade de recorrer a empréstimos.
Ademais, use o crédito com inteligência. Se precisar de um empréstimo, pesquise as melhores condições e avalie se realmente vale a pena. Lembre-se, o crédito deve ser uma ferramenta para impulsionar o crescimento, e não para cobrir furos no caixa.
Em seguida, construa uma reserva de emergência. Tenha um montante guardado para imprevistos, como uma queda nas vendas ou um aumento inesperado nos custos. Assim, você terá um colchão financeiro para evitar o endividamento em momentos difíceis.
Para finalizar, monitore de perto a saúde financeira da sua empresa. Acompanhe indicadores como fluxo de caixa, lucratividade e nível de endividamento. Dessa maneira, você poderá identificar problemas precocemente e tomar medidas corretivas a tempo.
Leia mais: Superendividamento: o que é e o que fazer se acontecer?
Fontes: Suno, Concur, SPC Brasil, Payfy e Mais Retorno.