Década perdida: a economia da América Latina nos anos 80

A chamada década perdida foi anos 1980, quando o Brasil e outros países passaram por estagnação econômica. Descubra quais foram as causas.

30 de abril de 2021 - por Nathalia Lourenço


Você provavelmente já ouviu a expressão “década perdida” em noticiários políticos e econômicos. Mas você sabe exatamente o que ela significa? Esse termo se refere ao período dos anos 1980, quando vários países da América Latina, incluindo o Brasil, enfrentaram uma série de crises econômicas e de desenvolvimento.

Apesar dos muitos desafios, a década de 1980 teve um impacto positivo para o Brasil, marcando o fim do regime militar e o retorno à democracia, culminando na promulgação de uma nova Constituição. Para saber mais sobre esse período, continue a leitura!

O que foi a década perdida?

A expressão “década perdida” se refere à economia brasileira nos anos 80, quando o país enfrentou uma estagnação econômica, baixo crescimento do PIB e alta inflação.

Durante essa década, o Brasil e vários países da América Latina passaram por uma série de eventos que impactaram profundamente tanto a economia quanto a democracia. O Brasil tentou várias vezes estabilizar sua economia com políticas monetárias, mas só conseguiu realmente alcançar a estabilização em 1994, com o Plano Real.

Esses problemas não afetaram apenas o Brasil, mas também outros países latino-americanos. Os anos 80 foram marcados por uma retração acentuada na produção industrial e um aumento da desigualdade social, já que a inflação alta beneficiava quem conseguia proteger seu capital com mais facilidade.

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Causas dessa crise

A crise econômica dos anos 80 foi resultado de um processo gradual em que vários fatores se combinaram para desestabilizar a economia. A “década perdida” não foi uma exceção.

Um dos principais fatores foi a forma como os militares gerenciaram a economia durante a Ditadura Militar. Naquela época, o crescimento econômico do país dependia fortemente de capital externo, o que fez a dívida externa do Brasil disparar.

Em 1973, a economia sofreu o impacto do primeiro choque do petróleo, quando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) reduziu a produção, levando a um aumento nos preços do petróleo.

Pouco depois, ocorreu o segundo choque do petróleo, agravando ainda mais a situação dos países dependentes de importação, como o Brasil. Esses eventos afetaram profundamente a economia brasileira e de outros países, contribuindo para a crise que marcou a “década perdida”.

Quais foram os antecedentes da década perdida?

A “década perdida” dos anos 1980 na América Latina teve várias causas que contribuíram para a crise econômica e social daquela época. Entre os principais antecedentes estão:

Elevadas Dívidas Externas

Nos anos 1970, muitos países latino-americanos, incluindo o Brasil, contraíram grandes empréstimos internacionais para financiar projetos de desenvolvimento e industrialização. Com o aumento das taxas de juros internacionais e a desaceleração da economia global, esses países enfrentaram dificuldades para pagar suas dívidas, o que precipitou uma crise da dívida.

Choques do Petróleo

Os aumentos nos preços do petróleo nas décadas de 1970 e 1980 tiveram um impacto considerável em países que dependiam de importações de petróleo. O aumento dos custos de importação e a deterioração dos termos de troca agravaram a crise econômica.

Modelos Econômicos e Políticas de Desenvolvimento

Durante as décadas anteriores, muitos países da região adotaram políticas de substituição de importações e intervenção estatal intensa. Embora essas abordagens tenham oferecido benefícios iniciais, elas eventualmente levaram a ineficiências econômicas e à falta de competitividade.

Instabilidade Política e Regimes Autoritários

Vários países latino-americanos viveram sob regimes militares e autoritários nas décadas de 1960 e 1970. Essas administrações muitas vezes implementaram políticas econômicas que resultaram em concentração de renda e corrupção, criando um ambiente de instabilidade política.

Crises Econômicas Globais

A recessão global no início dos anos 1980, exacerbada pelo aumento dos juros nos Estados Unidos, afetou negativamente as economias latino-americanas, que eram altamente dependentes de exportações e financiamento externo.

Crise e capital estrangeiro

Os países mais afetados foram aqueles que precisavam de mais importação de petróleo, dentre eles, o Brasil, que na época não era autossuficiente. O regime militar decidiu custear parte do aumento para que a população não sofresse os impactos imediatos da crise.

Nesse período, aconteceu de novo a entrada de um grande volume de capital estrangeiro no país para financiar o desenvolvimento de vários setores, como indústria de base, energia e transportes. O intuito era atingir a independência em relação às importações no médio prazo.

Como consequência, a dívida externa subiu para US$ 80 bilhões entre 1974 e 1982. Desse total, US$ 50 bilhões foram destinados para os investimentos e os US$ 30 bilhões restantes para arcar com os custos elevados do petróleo.

Segundo choque do petróleo

Para piorar o cenário brasileiro, em 1979 aconteceu uma nova crise. Com o segundo choque do petróleo, aumentaram os preços do combustível, mas também as taxas de juros nos países industrializados, com o intuito de conter a inflação que estava por vir.

Foi a tempestade perfeita, que impactou fortemente sobre os países latino-americanos, pois as suas dívidas eram feitas, sobretudo, em dólar e taxas de juros flutuantes.

Além disso, dois outros fatores agravaram essa situação: primeiro, a recessão internacional fez com que caísse a demanda pelos produtos exportados pelos países latino-americanos. Em seguida, a alta dos juros tornou mais complicado para que os países pedissem novos empréstimos para fazer a “rolagem” da dívida.

O primeiro país a declarar moratória, isto é, assumir para os credores que não tem como pagar sua dívida, foi o México, em 1982. A partir de então, os fluxos de investimento cessaram. Pouco depois, vieram as declarações do Brasil, em 1987, e da Argentina, em 1988.

O que aconteceu durante a década perdida?

Na década de 1980, conhecida como a década perdida, os países latinos americanos passaram por uma crise econômica que impactou toda a população. Vejamos o que aconteceu em alguns países da região:

1. Brasil

No Brasil, durante a década de 80, o PIB sofreu uma forte redução. O crescimento médio do Produto Interno Bruto, que era de 7% durante os anos 70, foi reduzido para 2%.

Além disso, houve uma elevação nas taxas de juros internacionais, o que resultou no aumento da dívida do Brasil com os Estados Unidos e no aumento do déficit público. Tivemos ainda um crescimento da dívida interna brasileira, causada pela política fiscal expansionista do governo militar.

Nem tudo foi perdido na década, felizmente. A pressão contra o regime militar aumentou até atingir um ponto em que a manutenção da ditadura se tornou insustentável. Em 1985 iniciou-se a retomada da democracia brasileira, por meio da eleição de um presidente civil através de voto indireto. Em 1988 uma nova Constituição foi estabelecida.

Com o fim da Guerra Fria e o Brasil deu maior ênfase no processo de abertura da economia, se alinhando com o Consenso de Washington. Porém, na década de 90, o plano Collor tomou medidas consideradas radicais que levaram a uma crise e ao impeachment. A situação econômica somente seria normalizada com o plano Real.

2. Peru

Em 1980, o Peru voltou à democracia, e o presidente Fernando Belaúnde Terry iniciou uma série de reformas liberais para modernizar a economia do país. No entanto, a crise da dívida e os problemas deixados pelo regime anterior fizeram a economia piorar.

A situação foi agravada pelo fenômeno El Niño, que devastou a agricultura peruana. Para tentar controlar a inflação, o Peru adotou uma nova moeda, o INTI, em 1985, substituindo a antiga moeda.

No mesmo ano, Alan García assumiu a presidência pela primeira vez com um programa econômico heterodoxo que promovia maiores gastos públicos e limitava os pagamentos da dívida externa. Esse enfoque levou ao aumento da pobreza e à hiperinflação.

Em 1990, Alberto Fujimori foi eleito presidente. Seu governo implementou reformas drásticas, como a privatização de empresas, o fim do protecionismo, a eliminação das restrições ao investimento privado e cortes orçamentários significativos. Essas medidas ajudaram a controlar a inflação, muitas vezes de maneira autoritária após o “autogolpe” de 1992.

3. Chile

Entre 1978 e meados de 1981, a economia do Chile experimentou um período de crescimento, impulsionado pelo baixo preço do dólar, conhecido como o “milagre chileno”. No entanto, no final de 1981, o aumento das taxas de juros e a queda no preço do cobre, um dos principais produtos de exportação do país, levaram a um crescimento elevado da dívida.

Em 1982, o valor do dólar subiu de 39 para 78 pesos chilenos. Além disso, a indústria nacional enfrentava dificuldades em competir com as importações, resultando na paralisia técnica da economia. O governo tentou combater a crise com medidas de corte keynesiano.

No dia 13 de janeiro de 1983, o Estado chileno realizou uma intervenção significativa nos bancos, assumindo o controle de cinco instituições e dissolvendo três. Essas ações ocorreram durante a ditadura militar do general Augusto Pinochet.

Em 1985, a economia chilena tomou um novo rumo com a nomeação de Hernán Buchi como Ministro das Finanças, marcando o início de um longo período de crescimento econômico.

Tentativas de estabilizar a economia

Enquanto o PIB brasileiro derretia, a desigualdade aumentava e a inflação subia, algumas medidas foram tomadas, na tentativa de estabilizar a economia.

Durante a década de 80, ocorreram diversas tentativas de reformas monetárias e planos econômicos: Plano Verão, Plano Bresser e Plano Cruzado, entre outros.O país colocou em prática medidas polêmicas como o congelamento de preços. Mas nenhum plano monetário ou medida desesperada fez com que a economia voltasse a crescer. A estabilidade econômica foi conquistada somente em 1994, por meio do Plano Real.

A recente década perdida

Com o baixo desempenho da economia brasileira nas últimas décadas, estudiosos estão falando sobre uma segunda década perdida. É claro que os impactos causados pelo Covid-19 justificam parcialmente a queda do PIB brasileiro em 2020.

A pandemia foi um grave problema que afetou o mundo no ano de 2020. O baixo desenvolvimento econômico dos anos anteriores não pode ser justificado por uma crise sanitária. As causas desse cenário econômico são mais diversos, como, por exemplo, a volatilidade política e a falta de reformas.

Um dos desafios do Brasil é elevar o padrão de vida de toda a população e dobrar o PIB nos próximos 30 anos. Para conseguir elevar o PIB, o Brasil deve (dentre outras coisas) aumentar o nível de produtividade nacional.

Para isso, o país precisa tomar diversas iniciativas como, por exemplo, melhorar a qualidade do sistema educacional e simplificar o sistema tributário.

Por que chamamos o período de década perdida?

Chamamos o período dos anos 80 de “década perdida” porque foi uma época marcada por sérios problemas econômicos e sociais na América Latina, incluindo o Brasil. Aqui estão os principais motivos:

  1. Estagnação Econômica: Muitos países da região enfrentaram um crescimento econômico muito baixo ou até negativo durante os anos 80. A economia ficou estagnada, com uma queda significativa no PIB e uma produção industrial em declínio.
  2. Alta Inflação: A inflação disparou em vários países latino-americanos. Os altos índices de inflação reduziram o poder de compra das pessoas e desestabilizaram a economia.
  3. Crise da Dívida: Durante essa década, a crise da dívida externa se agravou. Muitos países latino-americanos, que haviam contraído grandes empréstimos nos anos 70, tiveram dificuldades para pagar essas dívidas, levando a crises financeiras e maior dependência de ajuda externa.
  4. Aumento da Desigualdade: A combinação de alta inflação e recessão econômica ampliou a desigualdade social. Enquanto os mais ricos conseguiam proteger seus ativos, os mais pobres sofriam com a perda do poder de compra.
  5. Instabilidade Política: A crise econômica também provocou instabilidade política e social, agravando ainda mais a situação econômica.

Gostou dessa matéria? Agora que você conhece o que foi a década perdida, aproveite para aprender mais sobre as crises do petróleo e como elas impactaram o Brasil e o mundo: Crise do petróleo – Contexto histórico, fases da crise e efeitos no Brasil

Fontes: Suno, Infoescola,Brazil journal, Politize

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