O que é circuit breaker: como funciona e histórico na Bovespa

15 de novembro de 2021, por Jaíne Jehniffer

Tempo de leitura médio: 9 min, 10 seg


Quando você ouve falar em circuit breaker, você fica com medo? Isso é compreensível. Afinal de contas, esse termo sempre nos remete a períodos de crise.

Mas o fato é que o circuit breaker é um mecanismo que funciona como uma proteção aos investidores, quando o mercado está passando por um período de alta volatilidade.

Ou seja, ele ajuda os investidores a pensar bem antes de negociar os ativos. Portanto, ele ajuda a diminuir a volatilidade.

O que é circuit breaker?

O circuit breaker é um mecanismo da bolsa de valores. O seu intuito é proteger os investidores, quando muitas vendas estão sendo feitas.

Isso porque, se o número de vendas de um ativo sobe e a demanda não aumenta, o preço tende a cair. Nesse sentido, para impedir que o preço dos ativos continue a cair, a bolsa faz a paralisação das negociações por um certo tempo.

Essa paralisação é feita de acordo com alguns critérios e estágios pré-determinados. Por exemplo, o primeiro é o estágio I.

Circuit Breaker: o que é, como funciona e histórico na Bovespa

Nele ocorre a interrupção das negociações por 30 minutos. Ele entra em ação caso o Ibovespa tenha uma queda de 10% em relação ao fechamento do índice no dia anterior.

É importante destacar que o circuit breaker não é um procedimento típico. Ou seja, não é sempre que você vai ser um circuit breaker acontecer.

No entanto, quando a bolsa volta de uma pausa, podem ocorrer novos estágios do circuit breaker.

Apesar de não ser um mecanismo usado com frequência, é importante que ele tenha regras predefinidas para que seja possível agir de forma rápida.

Para que serve?

O circuit breaker serve para rebalancear as ordens de venda e compra. De maneira geral, a quantidade de vendedores sobe quando o país ou o mundo está passando por períodos de grande incerteza.

Nesses momentos, os investidores ficam preocupados e optam por vender suas ações. Acontece que quando muitas pessoas estão querendo vender seus ativos, os preços caem. É a velha lei da oferta e demanda.

Sendo assim, esse mecanismo busca proteger o investidor de vender os ativos por um preço muito baixo. Sendo que o grande número de vendedores pode fazer com que tenha início o efeito dominó.

Circuit Breaker: o que é, como funciona e histórico na Bovespa

Neste caso, muitos investidores optam por vender suas ações apenas porque os preços estão caindo. Com isso, o número de vendedores aumenta ainda mais e os preços continuam a cair.

É por isso que o circuit breaker é tão importante. Ele protege o mercado de continuar caindo apenas porque as pessoas estão com medo de perder dinheiro.

Com a paralisação das negociações, a intenção é que as pessoas pensem melhor sobre colocar os ativos à venda. Se muitos investidores desistirem de vender, ocorre o rebalanceamento do mercado.

Portanto, o intuito do circuit breaker é dar um tempo para os investidores pensarem. Com isso, as pessoas podem passar a agir racionalmente e não tomadas pelo medo ou seguindo o efeito manada.

Regras do circuit breaker

Agora que você sabe que o circuit breaker serve para te impedir de vender ações por impulso ou por medo, vamos falar sobre as suas regras.

Conhecer essas regras é muito importante para que você entenda os motivos do acionamento do circuit breaker e saiba o que vai acontecer depois.

Primeiramente, é preciso destacar que o circuit breaker está relacionado com o índice Bovespa. Em resumo, o Ibovespa é o principal índice da bolsa brasileira.

Circuit Breaker: o que é, como funciona e histórico na Bovespa

Isso porque ele é composto pelas ações com maior volume de negociação. Logo, ele representa a performance do mercado de ações como um todo. Enfim, as regras do circuit breaker são:

1- Estágio I

O Estágio I ocorre quando o Ibovespa cai 10% em relação ao valor que ele fechou no pregão anterior.

Por exemplo, se o Ibovespa começar o dia em 80 mil pontos e começar a cair, o circuit breaker é acionado quando ele chegar nos 72 mil pontos.

Afinal de contas, 8 mil pontos de queda representam uma queda de 10%. Sendo assim, ocorre a interrupção das negociações por 30 minutos. Desse modo, ninguém consegue comprar ou vender ações na B3.

2- Estágio II

Se após a interrupção de 30 minutos do estágio I o Ibovespa continuar a cair, no estágio II ocorre a interrupção das negociações de novo.

Dessa forma, se o índice cair em 15% em relação ao valor do índice do dia anterior, é feita uma nova paralisação das negociações por 1 hora.

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Vale ressaltar que a queda de 15% não é em comparação com a queda anterior, mas sim em relação ao Ibovespa do pregão anterior.

No nosso exemplo, os 15% de queda é em comparação com os 80 mil pontos e não os 72 mil. Dessa maneira, o circuit breaker entra em ação novamente se o Ibovespa chegar a 68 mil pontos. 

3- Estágio III

No estágio III ocorre a paralisação das negociações se o Ibovespa chegar a 20%. Novamente, essa queda é em comparação com o fechamento do índice do dia anterior.

Sendo que dessa vez, a suspensão das negociações é feita pelo tempo que a B3 decidir e divulgar nos meios de comunicação oficiais.

Se considerarmos de novo o nosso exemplo anterior, o circuit breaker seria acionado quando o Ibovespa chegasse a 64 mil pontos.

4- Minutos finais do pregão

Por fim, temos ainda a regra de que a interrupção das negociações não pode ser feita nos 30 minutos finais das negociações do dia.

Sendo assim, se o circuit breaker for acionado na última hora do pregão, será feita uma prorrogação do horário de encerramento, por no máximo 30 minutos.

Circuit breaker versus leilão

O leilão de ações é mais um mecanismo para proteger os investidores da alta volatilidade. Neste caso, ocorre a retirada das ações do pregão.

O leilão tem duração de apenas 5 minutos, que podem ser prorrogados por mais cinco. Neste prazo, as ordens de compra e venda ainda são registradas.

No entanto, é feita a efetivação das transações apenas quando os preços se encaixam. Com isso, o leilão ajuda a prevenir o descontrole dos valores.

Circuit Breaker: o que é, como funciona e histórico na Bovespa

Nesse sentido, a diferença entre o leilão e o circuit breaker é a possibilidade de compra e venda. No circuit breaker ninguém pode comprar ou vender ações durante a suspensão.

Outra diferença é que o circuit breaker tem como base a queda do Ibovespa para suspender as negociações. Já o leilão se baseia no valor individual das ações. Sendo que o leilão entra em ação quando:

  • Ocorre uma oscilação (para cima ou para baixo) de mais de 10% no valor da ação em comparação com o pregão do dia anterior. Isso antes da abertura da sessão de negociações ou durante.
  • Ocorre uma oscilação entre 10% e 19,99% sobre o último preço da ação antes dela entrar no leilão.

Histórico de circuit breaker na Bovespa

Você certamente se lembra de quando a pandemia explodiu e a bolsa caiu? Naquele momento, muitas pessoas estavam preocupadas com o futuro. Logo, elas decidiram vender suas ações, o que causou a queda dos preços.

Apesar do circuit breaker de 2020 estar bem fresco na nossa memória, essa não foi a primeira vez que o mecanismo foi usado. Algumas outras vezes foram:

2017: Em 2017 o Brasil estava passando por um período bem estável. Porém, com a divulgação da conversa entre Joesley Batista e Michel Temer, o circuit breaker teve que ser acionado.

2008: A crise de 2008 teve início nos EUA, mas muitos países sofreram. Desse modo, o circuit breaker foi acionado 6 vezes no Brasil entre setembro e outubro.

1999: Por causa de uma mudança no regime cambial, as ações passaram por forte queda. Logo, o circuit breaker entrou em ação nos dias 13 e 14 de janeiro de 1999.

1998: Em 1998 a Rússia enfrentou uma crise econômica. Com a economia globalizada, a Bolsa de Valores de São Paulo também foi impactada. Dessa forma, a bolsa passou por circuit breaker em cinco momentos no decorrer do ano, entre agosto e setembro.

1997: Por fim, no ano de 1997 vários países asiáticos passaram por uma forte crise financeira. Isso causou uma grande queda na bolsa de Hong Kong.

Dessa maneira, a bolsa brasileira foi impactada e tivemos circuit breaker em três ocasiões no final do mês de outubro e metade de novembro.

Vantagens

Se você já passou por um momento de crise com ações em carteira, sabe que em períodos de baixa a tentação de vender é muito grande. Quando vemos os preços das nossas ações caindo, a vontade é vender tudo.

Isso acontece porque quando estamos no meio da crise, parece que não existe uma saída. Mas depois que a crise passa, os ativos podem se valorizar bastante.

Nesse sentido, a vantagem do circuit breaker é que o investidor tem tempo para pensar e analisar os motivos pelos quais está vendendo suas ações.

Muitas vezes as pessoas entram em pânico ou fazem parte do efeito manada. Logo, uma pausa nas negociações serve para que os investidores possam pensar bem e se tornem mais racionais.

Durante a suspensão das negociações, ocorre o cancelamento automático de todas as ordens de compra e venda. Se depois do intervalo você quiser vender seus ativos, você terá que enviar uma nova ordem.

Circuit breaker nos EUA

Talvez você esteja se perguntando: mas o circuit breaker existe apenas no Brasil? Não. Esse mecanismo também existe na NYSE e na Nasdaq.

Na verdade, o conceito de circuit breaker surgiu em 1987 nos EUA, em um evento chamado Black Monday. Na época, o índice Dow Jones tinha caído 23% em apenas um pregão.

Entretanto, depois que foi criado, o mecanismo ficou mais de 20 anos sem ser usado nos EUA. Depois disso, ele foi útil novamente em 2020.

Apesar de também existir nos EUA, o circuit breaker tem regras diferentes por lá. Ele é acionado pela primeira vez quando o S&P 500 apresenta uma queda de 7%.

A segunda paralisação é feita quando a desvalorização atinge 13%. O terceiro circuit breaker é acionado com uma queda de 20% do S&P 500.

Diferente do Brasil, nos EUA não existe um tempo de pausa pré-estabelecida. Contudo, ela não pode ser menor que 15 minutos.

Quando o terceiro circuit breaker é acionado, as negociações voltam apenas no pregão do próximo dia. Aproveite para saber mais sobre as bolsas dos EUA: Bolsas americanas – Quais são, características e como investir