30 de setembro de 2021 - por Jaíne Jehniffer
A Bolha da Internet passou por todos os estágios típicos de uma bolha. Primeiro, ela nasceu com a euforia do mercado com o grande crescimento do setor de serviços online durante os anos 90.
Depois ela inflou com os aportes que os investidores faziam nessas empresas. Sendo que eles não se preocupavam em analisar os fundamentos do negócio, eles eram movidos pelos preços das ações e a rápida valorização das empresas.
Porém, muitas dessas empresas cresceram com o capital especulativo e passaram a ter dificuldades em apresentar lucros aos acionistas. Depois disso veio o pânico dos investidores, que passaram a colocar as ações à venda. O resultado foi o estouro da bolha e o prejuízo de muitos investidores e empresas.
O que foi a Bolha da internet?
A Bolha da Internet foi uma crise financeira causada pela supervalorização das ações de companhias de tecnologia dos Estados Unidos. Grande parte dessa valorização foi sustentada por especulações. Como a Nasdaq é uma bolsa norte-americana focada em empresas de tecnologia e inovação, ela foi o palco principal da crise.
A Bolha da Internet também é conhecida como “bolha ponto com”, como uma espécie de sátira ao excesso de confiança que guiavam os especuladores. A piada é que essas pessoas estavam dispostas a investir em qualquer empresa que tivesse “.com” no nome.
Muitas pessoas se questionam se existe o risco de uma bolha das techs hoje em dia. As opiniões divergem. Algumas análises apontam não apenas para o risco de uma nova bolha das techs, como também uma bolha das criptomoedas e uma bolha dos títulos públicos.
Em contrapartida, a maior parte dos analistas acredita que atualmente os investidores são guiados por dados mais complexos sobre as empresas, diferente dos investidores dos anos 90, que não se importavam tanto com os dados.
Como ocorreu?
A Bolha da Internet passou por algumas fases:
1- Surgimento da internet
A internet comercial foi criada em 1991, por Tim Berners-Lee. Anteriormente, as redes de transferências eram utilizadas somente pelo governo e universidades. O acesso à internet cresceu rapidamente na década de 90 e deu espaço para o nascimento dos serviços online, o que inclui varejo, jogos, comunicação e finanças.
Nesse contexto, houve uma procura crescente por computadores, o que fez com que o seu preço fosse reduzido e serviu de estímulo para o desenvolvimento das empresas ponto.com.
O mercado ficou eufórico com esta revolução tecnológica e comercial, o que fez com que investidores fossem totalmente seduzidos pela perspectiva de grandes lucros. Sendo assim, muitos investidores começaram a investir em startups e empresas que ainda estavam começando no mercado.
2- Inchaço da Bolha da Internet
Durante o inchaço da bolha, surgiram diversas empresas que, assim como os investidores, desejavam altos lucros de forma rápida e fácil. Logo, essas empresas eram criadas somente com a perspectiva de lucros, sem nenhum planejamento, sendo que muitas delas se envolveram em fraudes para forçar indicadores contábeis para atrair os investidores.
Dessa maneira, novas empresas voltadas para a inovação foram listadas na Nasdaq, entre 1995 e 2000. Para você ter uma ideia, somente neste período, foram registrados mais de 2 mil IPOs na Nasdaq. O Nasdaq Composite quintuplicou e pulou de aproximadamente mil pontos em 1995 para mais de 5 mil pontos no ano 2000.
Durante esse período de crescimento da bolha, ela se alimentava da especulação e do excesso de confiança que os investidores tinham em relação ao setor. Sendo assim, quando uma empresa abria o capital, era comum o seu preço disparar desde o primeiro dia.
Basicamente, a crença dos investidores era de que as empresas do setor iriam trazer lucros ilimitados, já que este setor era visto como a Nova Economia. Olhando para o passado pode parecer óbvio que o mercado estava reagindo de maneira exagerada. Entretanto, quando uma bolha está inchando, é muito difícil perceber os sinais de alerta.
Desse modo, os investidores ignoram os sinais e continuam a investir de maneira irracional em qualquer empresa que fosse do setor de serviços online. Ou seja, a situação chegou em um ponto onde os investidores não analisavam as empresas, simplesmente investiam.
3- O estouro
A Nasdaq atingiu a sua máxima de 5.048.62 pontos no dia 10 de março de 2000, data em que a bolha estourou. Após passarem anos investindo nas empresas do setor de tecnologia, os investidores começaram a cobrar os tão esperados rendimentos.
O problema é que a maioria das empresas não tinha previsão de gerar lucros tão cedo. Quando os investidores perceberam que as valorizações das ações eram insustentáveis, o pânico tomou conta e eles passaram a colocar seus ativos à venda, o que levou à desvalorização das ações.
O resultado do estouro da folha foi um prejuízo estimado de US$ 5 trilhões entre 2000 e 2002. Durante o crescimento da bolha, centenas de empresas foram criadas ou abriram o capital. Com o estouro da bolha, essas empresas tiveram que fechar as portas.
Alguns exemplos de empresas que foram afetadas pela Bolha da Internet foram: Pets.com (pet shop), TheGlobe.com (redes sociais) e eToys (brinquedos). No entanto, nem todas as empresas de tecnologia quebraram.
Na verdade, as cinco empresas que lideravam o mercado durante a bolha sobreviveram à crise: Microsoft, Cisco, Intel, Oracle e IBM. Vale destacar que o aumento da taxa de juros dos EUA também é considerado como um dos fatores que levou ao estouro da bolha.
Consequências da bolha
Quando os investidores perceberam que as ações das empresas de tecnologia tinham crescido sem fundamento justificado, eles entraram em pânico. Logo, as pessoas começaram a colocar suas ações à venda. A lei da oferta e demanda entrou em ação e os preços despencaram.
O resultado foi que grande parte das empresas ponto com quebraram. As que sobreviveram tiveram que reavaliar o seu modelo de negócio para se adequar à nova realidade e assim pudessem sobreviver. Algumas empresas que tiveram grandes desvalorizações, mas que conseguiram sobreviver foram: Amazon, Yahoo, Paypal e Ebay.
Brasil
Quando a Bolha da Internet estourou, ainda não existiam empresas de tecnologia na bolsa brasileira. Sendo que empresas como a Pontofrio e a Booknet que já estavam presentes no e-commerce, ainda não estavam listadas na bolsa.
Apesar disso, a bolsa brasileira sofreu os impactos do estouro da bolha. Desse modo, entre março de 2000 e novembro de 2000 a Bovespa apresentou uma queda de cerca de 25%. Além disso, alguns sites que eram financiados com capital norte-americano, não conseguiram sobreviver.
Lições da Bolha da Internet
A Bolha da Internet deixou algumas lições para os dias atuais, tais como:
1- Valor de mercado não é geração de caixa
Enquanto a bolha inchava, os investidores estavam focados principalmente nos preços das ações e procuravam por companhias que apresentassem rápida valorização.
Contudo, muitas empresas não ofereciam garantia de lucro no futuro próximo e estavam sendo precificadas sobretudo pelo momento que o mercado passava e não pela atratividade. A lição que fica é para o investidor permanecer atento aos indicadores de geração de caixa, receita e patrimônio.
Isso porque o valor de mercado de uma empresa representa apenas o valor que os agentes do mercado dão para o negócio. Ou seja, esse valor pode variar de acordo com as expectativas e percepções individuais e não representa a rentabilidade da companhia.
2- O venture capital nem sempre está certo
Os investidores focados em venture capital contribuíram com a alimentação da euforia do mercado. Em síntese, este tipo de investimento, considerado de alto risco, tem como foco a injeção de dinheiro em empresas tidas como promissoras. Nesse sentido, a lição que fica é que uma empresa não vai se desenvolver e dar lucros simplesmente porque ela recebeu aplicações de investidores qualificados.
3- Diversificação é fundamental
Em 1999 quase 40% das aplicações realizadas de venture capital foram voltadas para empresas de serviços online. Isso indica que os investidores estavam concentrando capital em um único setor.
Em outras palavras, os investidores não estavam diversificando o que além de contribuir para o crescimento da bolha, também fez com que o cenário fosse pior quando ela estourou. Portanto, a lição é: por mais promissor que um ativo pareça, nunca coloque todo o seu capital nele, prefira sempre uma boa diversificação.
4- Não ignore os sinais de alerta
Quando o investidor se deixa levar pela euforia do mercado, ele tende a ignorar os sinais de alerta. Sendo assim, a quarta lição que fica da Bolha da Internet é: não ignore os sinais e não se deixe levar pelo mercado.
Uma dica é desconfiar dos ativos que estiverem apresentando uma valorização desproporcional como, por exemplo, ações que triplicam de valor em curtos períodos.
E aí, gostou de aprender sobre a Bolha da Internet? Então aproveite para aprender também sobre a primeira bolha financeira do mundo: Bolha das Tulipas: a história da primeira bolha financeira do mundo
Imagens: Infomoney, Invest news, Medium, V4 company, Terraço, Bhbit e Investificar