9 de junho de 2022 - por Raul Sena (Investidor Sardinha)
Não é de hoje que o ministro da Economia, Paulo Guedes, defende a criação de uma moeda única na América Latina. Mas será que a ideia de implementar o chamado “Peso Real” realmente faz sentido?
A verdade é que, na visão do Ministro da Economia, haverá, nos próximos 20 anos, pouquíssimas moedas oficiais no mundo.
Assim, Paulo Guedes acredita que, além do dólar, do euro e do Renminbi da China, apenas uma ou outra moeda adicional vai permanecer em circulação.
Com isso, cada moeda responderia por uma fatia importante dos países e do mercado global.
Moeda única: lados opostos convergem
A criação de uma moeda única na América do Sul é um dos poucos pontos relevantes, da política macroeconômica, que unem os antagonistas Lula e Bolsonaro.
Do lado petista, a moeda denominada SUR foi proposta, a princípio, por Fernando Haddad, juntamente com o ex-presidente do Banco Fator, Gabriel Galípolo.
Sem entrar no mérito das diferenças entre as 2 propostas, vamos focar na pergunta que mais interessa:
A ideia de uma moeda única – SUR ou peso-real – é vantajosa pra você, cidadão de bem e pagador de impostos, ou apenas para os políticos?
Euro: exemplo de moeda única
Um exemplo de moeda única que tem funcionado há mais de 20 anos é o euro. Implementado em janeiro de 2022, a moeda é utilizada, hoje, por 19 países da Europa.
No começo, o euro foi criado como produto da Comunidade Econômica Europeia (CEE). O objetivo do grupo era, essencialmente, o de unificar e fortalecer a região.
Isso porque, à época, os países estavam bastante divididos – e fragilizados – em função do pós-guerra e de outros conflitos locais.
Enquanto isso, os Estados Unidos e a União Soviética se consolidavam como grandes potências bélicas e econômicas.
O euro, então, foi uma consequência das tentativas de formar um bloco mais forte e representativo no cenário mundial.
O euro faz sentido como moeda única?
Quando pensamos no euro, a gente tende a imaginar uma moeda quase “perfeita”; um case que deu certo demais.
É inegável que, numa visão mais ampla, a moeda funcionou – e funciona – bem na Europa.
Do ponto de vista prático, a instituição do euro trouxe uma melhora considerável nas relações comerciais entre os países.
Além disso, a moeda promoveu união e pacificação no bloco. Conseguiu a proeza de fazer antigos inimigos se tornarem grandes aliados, a exemplo de França e Alemanha.
A verdade, contudo, é que nem tudo são flores na zona do euro.
Moeda única e inflação
A despeito dos importantes avanços trazidos pelo euro, existe um grande vilão nessa história.
É quase impossível dar uma olhada na quantidade de dinheiro injetada na zona do euro, após a criação da moeda, sem acender uma luz de alerta.
Ou seja, a criação de uma enorme quantidade de dinheiro “virtual” acabou sendo, fatalmente, um convite à inflação.
Inflação recorde na zona do euro
Para agravar a situação na zona do euro, a crise do coronavirus resultou na impressão de ainda mais dinheiro para “salvar” a economia. Como resultado, claro, tivemos mais aumento generalizado de preços.
Dessa forma, a inflação dos países que adotaram o euro atingiu 8,1% no fim de maio. Foi a maior desde o início da série histórica, em 1979.
Ou seja, desde sua criação, o euro já perdeu mais de 80% do poder de compra. Além disso, estamos diante de um cenário raríssimo:
Na França, ao mesmo tempo em que a inflação está nas alturas, o PIB (Produto Interno Bruto) está regredindo.
Em síntese, essa é a linha da morte para qualquer país. É a receita certa pra dar uma merda gigante!
Mas, o que esses exemplos nos ensinam quando o assunto é a criação de uma moeda única na América Latina?
Problemas da moeda única na América Latina
A criação de uma moeda única, como o Peso Real, pode trazer sérios problemas para os países da América do Sul.
Ao meu ver, a proposta tem o objetivo velado de permitir que o governo imprima mais dinheiro, de forma artificial.
Ou seja, seria uma nova ferramenta para fazer populismo barato no Brasil e nos países vizinhos. O problema, porém, é que a conta chega!
Traduzindo, quando o governo enche o peito para falar em “financiar o ciclo de crescimento econômico”, ele quer dizer, na verdade:
Vamos imprimir mais dinheiro, por mais tempo, sem que as pessoas percebam, hoje, que estamos prejudicando todo mundo no amanhã.
Com o tempo, vai dar muita merda. A inflação vai explodir e provocar uma séria crise econômica.
Mas, com um monte de país em torno de uma única moeda, fica bem mais fácil se fazer de vítima e colocar a culpa no José.
O que será da moeda única na América do Sul?
Chegamos, finalmente, a uma conclusão perturbadora: o problema não é a moeda única. Mas o que podem fazer com ela.
Observe que não estamos falando de uma moeda digital, com quantidade limitada.
A ideia, pelo contrário, é criar uma moeda unificada que possa ser cunhada eternamente, sem qualquer limitação.
Afinal de contas, haveria diversos PIBs para “lastrear” este novo ativo, não é mesmo?
O problema, como vimos anteriormente, é o potencial catastrófico de uma hiperinflação provocada pela impressão, sem fim, de dinheiro.
Nos últimos anos, o Brasil já vem aumentando, radicalmente, a injeção de papel-moeda na economia.
Dessa forma, podemos concluir que o Brasil já está muito perto de seu limite.
Ou seja, uma moeda novinha em folha seria “ideal” para manter uma política monetária mais alinhada ao nosso bom e velho populismo.
Vale a pena o Peso Real?
Na minha modesta opinião, analisando o comportamento do euro e, pior, o perfil histórico dos governos sulamericanos, seria péssima ideia uma moeda única por aqui.
Em resumo, os riscos de entrarmos num espiral perigoso de hiperinflação e recessão econômica, simplesmente, não valem a pena.
É se contentar com o real e parar de imprimir dinheiro como se fosse papel higiênico!
E, então, gostou do conteúdo? Então, não deixe de assistir ao vídeo acima (do canal Investidor Sardinha) em que detalho as razões pelas quais uma moeda única na América Latina pode ser ideia de Jerico.
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