30 de abril de 2025 - por Sidemar Castro
Um fundo soberano é um instrumento financeiro utilizado por alguns países como parte de suas reservas internacionais. Ele costuma ser alimentado por lucros obtidos com a exploração de recursos naturais, como minerais, além de royalties gerados por essas atividades.
Esses recursos costumam ser alocados em investimentos diversificados, como ações de grandes empresas estrangeiras, títulos públicos e imóveis localizados em diferentes partes do mundo.
Leia e entenda o que é o fundo soberano, como funciona e sua importância.
O que é fundo soberano?
Um fundo soberano é como uma poupança gigante criada por um governo para administrar o dinheiro público de forma estratégica. Por exemplo, quando um país tem lucros altos com a venda de petróleo, gás ou outros recursos naturais, parte desse dinheiro pode ser guardado nesse fundo. Além disso, alguns países usam reservas de moeda estrangeira ou superávits comerciais para alimentá-lo.
A principal ideia é que esse dinheiro seja investido em projetos que gerem mais riqueza para o país, como compra de ações de empresas internacionais, infraestrutura ou até em educação e tecnologia. Dessa forma, o fundo ajuda a proteger a economia em momentos de crise, garante recursos para futuras gerações ou financia projetos de longo prazo.
Vale destacar que esses fundos são comuns em nações com grandes recursos naturais ou economias estáveis. A Noruega, por exemplo, tem um dos maiores fundos soberanos do mundo, alimentado principalmente pela receita do petróleo.
Para que serve o fundo soberano?
O principal objetivo de um fundo soberano é criar uma reserva financeira estratégica, que possa ser utilizada pelo país em momentos de instabilidade ou eventos imprevistos, como crises econômicas severas. Além disso, esses recursos podem ser direcionados ao financiamento de projetos e obras voltados à melhoria da qualidade de vida da população.
Entre os principais motivos para a criação de um fundo soberano, destacam-se:
- Superávits significativos na conta-corrente do país;
- Acúmulo de uma poupança nacional relevante;
- Necessidade de preservar recursos e aumentar a rentabilidade obtida com a comercialização de riquezas naturais.
Como funciona o fundo soberano?
Um fundo soberano funciona como uma ferramenta de investimento utilizada por governos para aplicar os excedentes financeiros do país. Estes, são geralmente oriundos de superávits comerciais, receitas com exportações de commodities, royalties de recursos naturais ou lucros de estatais.
O objetivo principal é preservar e aumentar o patrimônio público no longo prazo, garantindo maior estabilidade econômica e segurança financeira para as futuras gerações. Esses recursos são administrados por uma entidade específica, geralmente ligada ao banco central ou a um órgão público de investimentos.
O fundo pode aplicar seu capital em diversos tipos de ativos, como:
- Ações de grandes empresas internacionais;
- Títulos da dívida pública de outros países;
- Fundos imobiliários e propriedades no exterior;
- Projetos de infraestrutura;
- Participações em empresas estratégicas.
A estratégia de investimento varia conforme os objetivos de cada país: alguns fundos buscam estabilidade e preservação do capital, enquanto outros assumem mais riscos em busca de retornos maiores.
Origem
O conceito moderno de fundo soberano começou a ganhar força nos anos 1950, com os primeiros exemplos sendo implementados pelo Kuwait (em 1953, com o Kuwait Investment Authority) e pela Arábia Saudita. Com o tempo, diversos países adotaram esse modelo como forma de gestão eficiente dos seus excedentes financeiros.
Apesar de seu potencial, operar um fundo soberano exige planejamento e cautela. Más decisões de investimento, má governança ou falta de transparência podem levar à desvalorização dos ativos e, consequentemente, à perda de parte do patrimônio do fundo. Por isso, muitos países adotam regras rígidas de governança, auditoria e transparência para proteger esses recursos.
Fundo Soberano do Brasil (FSB)
O Fundo Soberano do Brasil (FSB) foi instituído em 24 de dezembro de 2008, sob a responsabilidade do Ministério da Fazenda. Sua criação ocorreu em um contexto de incertezas econômicas globais, com o objetivo de funcionar como uma reserva estratégica para enfrentar crises macroeconômicas, além de promover investimentos no país e no exterior.
O fundo iniciou suas atividades com um capital aproximado de R$ 14,25 bilhões. No entanto, ao longo dos anos, esse montante sofreu uma considerável redução devido a uma série de decisões de investimento mal planejadas e de baixo retorno, o que comprometeu significativamente seu desempenho.
Grande parte das perdas está associada à gestão do então Ministro da Fazenda, Guido Mantega. Durante sua administração, o fundo foi utilizado para realizar aportes em empresas e projetos com pouca viabilidade econômica, priorizando objetivos políticos e estratégicos em detrimento da rentabilidade real — ou seja, ganhos acima da inflação.
Além disso, o FSB passou a operar bastante no mercado cambial, sendo usado como um instrumento de intervenção na política monetária, função tradicionalmente atribuída ao Banco Central. Essa mudança de finalidade contribuiu para o desgaste da credibilidade e da eficiência do fundo.
Diante dos resultados insatisfatórios e da crescente necessidade de ajuste nas contas públicas, o governo federal anunciou a intenção de extinguir o Fundo Soberano do Brasil ainda este ano. A medida visa utilizar os recursos remanescentes para ajudar a reduzir o atual déficit fiscal enfrentado pela União.
Leia também: Dívida pública: o que é, qual é a origem e para que serve?
Qual a importância do fundo soberano?
Os fundos soberanos são importantes porque ajudam os países a administrar melhor suas riquezas, especialmente quando essas vêm de recursos naturais finitos, como petróleo e minérios. Eles funcionam como uma reserva financeira que garante recursos para as gerações futuras, evitando que a economia dependa apenas das receitas atuais e voláteis dessas commodities.
Além disso, os fundos soberanos estabilizam a economia ao proteger o orçamento contra oscilações bruscas nas receitas, como as causadas por variações nos preços das exportações. Eles também contribuem para a diversificação da economia, investindo em ativos no exterior, o que reduz a dependência de um único setor ou moeda.
Outro ponto importante é que esses fundos podem estimular o crescimento econômico ao fornecer crédito e recursos para investimentos estratégicos, mesmo em momentos de restrição financeira interna, sem a necessidade de o Banco Central reduzir taxas de juros.
Por fim, os fundos soberanos aumentam a presença dos países nos mercados financeiros internacionais, ajudando a fortalecer a economia nacional e a garantir estabilidade fiscal e social a longo prazo.
5 principais países que obtém fundo soberano
1) Noruega
A Noruega lidera o ranking mundial com o maior fundo soberano, o Government Pension Fund Global, que administra cerca de US$ 1,7 trilhão em ativos. O país utiliza principalmente receitas do petróleo para alimentar esse fundo, garantindo estabilidade econômica para as próximas gerações.
2) China
A China possui dois fundos soberanos entre os maiores do mundo: o China Investment Corporation (US$ 1,3 trilhão) e o SAFE Investment Company (US$ 1,09 trilhão). Esses fundos são alimentados principalmente por reservas cambiais e receitas de exportação, consolidando a posição chinesa entre os líderes globais.
3) Emirados Árabes Unidos
O Abu Dhabi Investment Authority, dos Emirados Árabes Unidos, é um dos maiores fundos soberanos, com cerca de US$ 1,05 trilhão em ativos. O fundo investe receitas do petróleo em diversos setores globais, promovendo a diversificação econômica do país.
4) Kuwait
O Kuwait Investment Authority foi o primeiro fundo soberano do mundo e hoje administra cerca de US$ 1,03 trilhão. O fundo é abastecido principalmente por receitas de petróleo e atua como uma reserva estratégica para o país.
5) Arábia Saudita
A Arábia Saudita aparece entre os principais países com o Public Investment Fund, que soma aproximadamente US$ 925 bilhões em ativos. O fundo é fundamental para os planos de diversificação econômica do país, reduzindo a dependência do petróleo.
Esses cinco países lideram o cenário global de fundos soberanos, utilizando suas reservas para garantir estabilidade econômica e investir no futuro.
Qual o maior fundo soberano do mundo?
O maior fundo soberano do mundo é o Fundo Global de Pensões do Governo da Noruega, também conhecido como Fundo Petrolífero da Noruega. Ele é administrado pelo Norges Bank Investment Management (NBIM) e foi criado nos anos 1990 para investir os excedentes da indústria de petróleo e gás do país. O objetivo principal é garantir estabilidade econômica para as gerações futuras.
Esse fundo possui participações em milhares de empresas ao redor do mundo e investe em ações, títulos de dívida e imóveis. Atualmente, ele é avaliado em cerca de 18,53 trilhões de coroas norueguesas (aproximadamente 1,56 trilhões de euros). Apesar de sua grandeza, o fundo enfrenta desafios, como flutuações no mercado e perdas em setores específicos, como o de tecnologia.
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Fontes: Suno, Empiricus e Fuindos Soberanos.