25 de setembro de 2021 - por Jaíne Jehniffer
A flutuação suja consiste nas intervenções no preço da moeda, realizadas pelo Banco Central de um país e que afetam diretamente a taxa de câmbio.
Sendo que a taxa de câmbio indica o valor da moeda de um país frente à moeda de outro país. Por exemplo, o valor do real frente ao dólar.
Além da flutuação suja, existe também o câmbio flutuante e o câmbio fixo. Em resumo, no câmbio flutuante o mercado é responsável pelas variações nos preços da moeda, ao passo em que no câmbio fixo, esse papel é do Banco Central.
O que é flutuação suja?
A flutuação suja, dirty float, câmbio administrado ou câmbio híbrido, é um termo utilizado para se referir às intervenções que o Banco Central do país realiza no câmbio. Essas ações e decisões do Banco Central impactam diretamente a taxa de câmbio do país.
Na prática, nos países com flutuação suja, o câmbio flutuante é o responsável pelas variações nos preços das moedas. Porém, em determinadas situações, o governo pode realizar intervenções.
Apesar do nome “sujo” ser um pouco depreciativo, a flutuação suja não é uma prática proibida ou ilegal. Este nome é usado apenas porque a alteração no valor de uma cotação cambial não acontece de maneira natural, ela sofre as intervenções do Banco Central.
Em contrapartida, quando não ocorrem intervenções, o câmbio geralmente varia de acordo com o mercado e, por isso, este cenário é chamado de flutuação limpa. Portanto, a flutuação limpa é quando as autoridades monetárias não realizam intervenções com o intuito de controlar a taxa de câmbio.
Como funciona?
A flutuação suja funciona como uma maneira do Banco Central intervir no valor da sua moeda. O governo pode optar por intervir por vários motivos. Um dos principais é fazer a proteção do câmbio local. Sendo que essa proteção pode ser necessária para impedir a desvalorização ou a supervalorização da moeda.
Quando o Banco Central decide intervir em prol da proteção, ele pode realizar negociações de câmbio com moeda estrangeira. A intenção do Banco Central também pode ser a de depreciar a própria moeda ou valorizar a sua moeda.
O objetivo ao desvalorizar a própria moeda é promover condições mais vantajosas para as exportações. Já a valorização da moeda pode ser útil em países com inflação alta. Isso porque, com a valorização da moeda nacional, o preço dos importados é reduzido.
Apesar da intervenção do Banco Central ter diversos motivos e objetivos, de maneira geral ele busca reduzir a volatilidade no mercado de câmbio. Isso é uma necessidade, pois grandes mudanças no preço da moeda estrangeira podem trazer diversas consequências, tais como:
- Inflação;
- Fuga de capital dos investidores estrangeiros;
- Custos com hedge das empresas importadoras e exportadoras;
- Incertezas em relação à administração de empresas.
Tipos de flutuação cambial
De maneira geral, existem três tipos de variação cambial: flutuante, fixo e híbrido. Não existe um consenso de qual é o melhor, mas, no geral, acredita-se que o flutuante e híbrido sejam mais vantajosos. Já o câmbio fixo costuma ser mais criticado, já que ele inibe as ações dos mercados e sofre muitas intervenções do Banco Central.
1- Câmbio flutuante: No câmbio flutuante, o mercado é o responsável pelas variações da moeda de acordo com a lei da oferta e demanda. Ou seja, neste caso o Banco Central do país não realiza intervenções, é o mercado que regula os preços.
2-Câmbio fixo: O governo determina o valor da moeda e passa a realizar intervenções constantes para regular o preço. Este é o modelo que exige maior participação do governo.
3- Híbrido: O modelo híbrido ou flutuação suja, funciona como uma mescla entre o câmbio flutuante e o fixo. Desse modo, o mercado é o responsável por regular a moeda. Contudo, o governo pode realizar intervenções pontuais quando necessário.
Impactos e consequências
Como o governo realiza ações para interferir na cotação cambial, alguns impactos podem ser percebidos. Um dos principais impactos é que com as intervenções, a cotação cambial pode não representar a realidade.
Em outras palavras, como o câmbio é alterado de forma artificial, não existe uma relação natural entre o valor da moeda e o mercado. Existe ainda o impacto econômico externo. Basicamente, a precificação de câmbio pode fazer com que um país seja mais ou menos atrativo para importações e exportações.
Como exemplo dessas consequências, podemos citar o yuan, a moeda chinesa. Como as autoridades monetárias da China estão mantendo a taxa de câmbio artificialmente desvalorizada frente ao dólar, isso aumentou a competitividade chinesa no mercado internacional.
Isso porque a desvalorização do yuan juntamente com o aumento da produção da indústria e baixos salários, faz com que os produtos chineses ganhem espaço internacional. Nesse sentido, os produtos de outros países emergentes como o Brasil, perdem espaço no mercado internacional para a China, que possui uma competitividade maior.
Flutuação suja no Brasil
No Brasil, o Banco Central do Brasil (Bacen) interfere sempre que necessário na cotação do dólar. A intenção do Bacen é manter o valor da moeda dentro dos padrões determinados pela política econômica. Sendo assim, o valor do real frente ao dólar não é estabelecido exclusivamente pelo mercado, já que o Bacen realiza a compra e venda de dólares para controlar o valor do câmbio.
Sendo que essa intervenção do Banco Central do Brasil costuma ser realizada quando ocorrem oscilações bruscas na taxa de câmbio. Nesse sentido, geralmente a intervenção do Bacen visa amortecer choques econômicos externos que poderiam ter impactos ruins na economia brasileira.
Uma curiosidade é que entre 1995 e 1998, foi adotado no Brasil o regime de bandas cambiais, durante a fase de implantação do Plano Real. Neste regime, o Banco Central determinava o mínimo e máximo da cotação da moeda. Dessa forma, ele realizava intervenções para manter a cotação dentro da faixa estabelecida.
E aí, gostou de aprender sobre a flutuação suja? Então aproveite para aprender também o que é CAPM: como funciona este modelo de precificação de ativos
Imagens: Cultura mix, Infomoney, Serpro, Trade works, Akt1 e Cultura mix