Economia comportamental: o que é e como funciona?

11 de julho de 2024 - por Sidemar Castro


A economia comportamental é um campo de estudo que combina psicologia e economia. Seu objetivo é analisar as decisões econômicas dos indivíduos e entender como fatores emocionais, cognitivos e sociais influenciam o comportamento econômico.

Ela busca entender e modelar as decisões de forma mais realista, incorporando influências psicológicas e emocionais aos modelos econômicos.

Entenda melhor o que é e como funciona a economia comportamental na matéria a seguir.

O que é economia comportamental?

A economia comportamental é uma disciplina que estuda como os fatores psicológicos, sociais, cognitivos e emocionais afetam as decisões econômicas e o comportamento dos indivíduos e dos mercados.

Ela crítica à visão tradicional do “homo economicus” como um tomador de decisão racional, ponderado e centrado no interesse próprio. A economia comportamental sugere que as pessoas decidem com base em hábitos, experiências pessoais e regras práticas simplificadas, sendo fortemente influenciadas por fatores emocionais e pelo comportamento dos outros.

Também faz a incorporação de descobertas da psicologia, neurociência e outras ciências sociais para criar modelos mais realistas de como as pessoas realmente tomam decisões econômicas.

A economia comportamental estuda os “atalhos mentais” (heurísticas) e vieses cognitivos que levam as pessoas a tomar decisões que podem ser consideradas não tão boas do ponto de vista da teoria econômica tradicional.

Também faz uso extensivo de métodos experimentais para investigar empiricamente os desvios do comportamento racional. O objetivo é entender e modelar as decisões individuais e dos mercados de forma mais realista, levando em conta a racionalidade limitada dos agentes.

Portanto, a economia comportamental busca complementar a teoria econômica tradicional, incorporando conceitos da psicologia e outras ciências sobre o comportamento humano real, em vez de assumir um agente econômico puramente racional.

Como funciona a economia comportamental?

A economia comportamental estuda como as pessoas tomam decisões financeiras, considerando fatores psicológicos e emocionais. Ela reconhece que nem sempre agimos de forma estritamente racional e leva em conta hábitos, experiências pessoais e influências sociais.

Por exemplo, a teoria do “viés do presente” sugere que tendemos a valorizar mais recompensas imediatas do que futuras, o que afeta nossas escolhas financeiras.

Além disso, a economia comportamental explora como as opções são apresentadas (por exemplo, o “efeito ancoragem”) e como as emoções influenciam nossas decisões. É uma abordagem mais realista e holística para entender o comportamento econômico.

Como a economia comportamental auxilia nos investimentos?

A economia comportamental auxilia nos investimentos ao identificar e explicar os vieses cognitivos e emocionais que afetam as decisões dos investidores, permitindo que eles tomem melhores decisões.

Alguns dos principais benefícios são entender que as pessoas nem sempre agem de forma racional e centrada no próprio interesse ao investir, sendo influenciadas por fatores psicológicos, sociais e emocionais. Isso ajuda a identificar e evitar erros comuns.

Outro é mapear vieses comportamentais prejudiciais aos investimentos, como aversão à perda, excesso de confiança, viés de disponibilidade e ancoragem. Conhecer esses atalhos mentais permite estar atento a eles no processo decisório.

Mostrar a importância da disciplina e do autocontrole emocional para seguir um plano de investimentos racional, evitando tomar decisões impulsivas.

Além disso, recomendar estratégias como diversificação da carteira para reduzir riscos e minimizar o impacto de vieses.

Finalmente, fornecer informações sobre como o ambiente e as circunstâncias influenciam as decisões financeiras, para que o investidor possa se proteger desses fatores.

Como surgiu a economia comportamental?

A economia comportamental surgiu na década de 1950, quando pesquisadores começaram a combinar psicologia e economia para entender como funcionam as tomadas de decisão das pessoas. Antes desse campo de estudo, a economia tradicional presumia que todos agiam de maneira racional ao lidar com dinheiro.

No entanto, a economia comportamental reconhece que fatores emocionais, hábitos e experiências pessoais influenciam nossas escolhas econômicas. Curiosamente, o economista e filósofo Adam Smith, considerado o pai da economia moderna, já abordava aspectos comportamentais em sua obra “Teoria dos Sentimentos Morais” no século XVIII.

Desde então, economistas comportamentais buscam compreender e modelar decisões de forma mais realista, considerando a complexidade humana.

Principais teóricos da economia comportamental

Os principais teóricos da economia comportamental são:

  • Daniel Kahneman e Amos Tversky: Eles lançaram a Teoria da Perspectiva na década de 1960, que foi um trabalho pioneiro para entender as motivações que influenciam o processo decisório das pessoas e como elas tomam decisões “irracionais”.
  • Richard Thaler: Economista que contribuiu significativamente para o desenvolvimento da economia comportamental. Ele escreveu obras importantes como “Misbehaving” e “Nudge” que aplicam conceitos da psicologia à economia.
  • Herbert Simon: Defendeu o uso de modelos que utilizavam mecanismos cognitivos para analisar o comportamento dos indivíduos, cunhando o termo “racionalidade limitada” para descrever como nossas limitações cognitivas afetam a tomada de decisão.

Esses pesquisadores foram fundamentais para estabelecer a economia comportamental como uma disciplina que busca entender como fatores psicológicos, sociais e emocionais influenciam as decisões econômicas, em contraste com a visão tradicional de um “homem econômico” racional.

Quais são as áreas de investigação da economia comportamental?

A economia comportamental investiga diversos aspectos do comportamento humano que afetam as decisões econômicas. Algumas das principais áreas de investigação incluem:

1) Vieses Cognitivos e Heurísticas

A economia comportamental estuda como atalhos mentais (heurísticas) e vieses cognitivos, como aversão à perda, excesso de confiança e ancoragem, influenciam as decisões econômicas dos indivíduos. Ela os leva a se afastar do comportamento racional esperado pela teoria econômica tradicional.

2) Escolha Intertemporal

Esta área investiga como as pessoas tomam decisões que envolvem trade-offs entre custos e benefícios ao longo do tempo, como poupança, investimentos e empréstimos. Fatores como desconto hiperbólico e miopia temporal afetam essas escolhas.

3) Finanças Comportamentais

O campo das finanças comportamentais aplica os insights da economia comportamental para entender como os investidores e os mercados financeiros se comportam, levando em conta vieses e heurísticas que afetam as decisões de investimento.

4) Tomada de Decisão em Grupo

A economia comportamental também estuda como as dinâmicas de grupo, como conformidade social e polarização, influenciam as decisões econômicas tomadas coletivamente, como em empresas e organizações.

5) Economia Experimental

Essa área utiliza experimentos controlados para investigar empiricamente o comportamento econômico dos indivíduos, testando as previsões da teoria econômica tradicional e identificando desvios sistemáticos.

6) Neuroeconomia

A neuroeconomia combina métodos da neurociência, como imagens de ressonância magnética funcional, com a economia comportamental para entender os processos neurais subjacentes às decisões econômicas.

Essas são algumas das principais áreas de investigação da economia comportamental, que buscam complementar a teoria econômica tradicional com uma compreensão mais realista do comportamento humano no contexto econômico.

Principais críticas à economia comportamental

A economia comportamental, apesar de seus avanços, também enfrenta algumas críticas importantes:

1) Aplicabilidade Limitada dos Experimentos de Laboratório

Alguns críticos argumentam que os resultados obtidos em experimentos de laboratório têm aplicações limitadas para situações reais de mercado. Eles afirmam que oportunidades de aprendizagem e competição no mundo real podem levar a um comportamento mais próximo da racionalidade econômica tradicional.

2) Falta de uma Teoria Comportamental Unificada

Outra crítica é que, apesar de muita pesquisa e observações, a economia comportamental ainda não desenvolveu uma teoria comportamental fundamental e consistente que possa competir com a teoria econômica neoclássica de forma abrangente. Até o momento, é vista como uma coleção de observações e modelos fragmentados.

3) Ceticismo quanto a Técnicas Experimentais e de Pesquisa

Economistas tradicionais tendem a ser céticos em relação às técnicas experimentais e de pesquisa amplamente utilizadas pela economia comportamental. Eles enfatizam a preferência revelada (observada no mercado) sobre as preferências declaradas (em pesquisas), argumentando que experimentos e pesquisas correm o risco de vieses sistemáticos.

4) Foco Excessivo em Desvios da Racionalidade

Alguns críticos argumentam que a economia comportamental se concentra excessivamente em documentar desvios do comportamento racional, sem oferecer uma teoria alternativa abrangente que possa substituir a teoria econômica tradicional de maneira satisfatória.

5) Aplicabilidade Limitada a Situações de Mercado

Outra crítica é que as teorias cognitivas e modelos de tomada de decisão da economia comportamental são aplicáveis apenas a determinados tipos de problemas decisórios apresentados em experimentos, não sendo necessariamente generalizáveis para o comportamento econômico em geral.

Essas críticas refletem a necessidade de a economia comportamental continuar a desenvolver uma base teórica mais sólida e demonstrar sua capacidade de fornecer previsões e informações relevantes para o mundo real, além de superar as limitações percebidas em suas abordagens metodológicas.

Fontes: Economia Comportamental, ESPM, Jornal USP, Nubank, Serasa, Suno, In Behavior Lab, Opinion Box, NewWay Faculdade Phorte, Exame

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