Custos afundados, saiba como esse viés cognitivo pode te prejudicar

2 de agosto de 2022, por Jaíne Jehniffer

Tempo de leitura médio: 5 min, 25 seg


O fenômeno de custos afundados é um tipo de viés cognitivo. Nele, as pessoas tomam decisões tendo como base as perdas que não podem ser recuperadas.

Esse viés pode afetar os investimentos, pois a pessoa pode optar por aumentar os aportes em uma empresa que está com as ações em queda, na tentativa de recuperar o prejuízo. No fim, o prejuízo pode ser ainda maior.

O que são custos afundados?

O fenômeno de custos afundados ou sunk cost, é um viés cognitivo. Nele os recursos, depois de aplicados, não podem ser recuperados.

Sendo assim, as pessoas que não percebem que este fenômeno está acontecendo, podem ter prejuízos ainda maiores do que teriam.

No mercado financeiro, isso costuma ocorrer quando o investidor decide aumentar a sua participação em ações que estão em queda, com o intuito de recuperar o dinheiro perdido.

Basicamente, os custos afundados têm relação com a resistência da pessoa em abandonar algo que não apresenta um bom desempenho e que já mostrou sinais de não recuperação.

Nessa situação, o ser humano é tomado por um grande apelo emocional. Com isso, a escolha da pessoa acaba sendo bem subjetiva, apesar de parecer que existe um argumento racional.

Origem do conceito de custos afundados

O conceito de custos afundados teve origem na economia comportamental. Em resumo, essa é uma área que relaciona a psicologia e a economia.

De acordo com a teoria da utilidade esperada, que é a base das finanças tradicionais, os agentes econômicos são avessos ao risco.

Além disso, quanto maior for a proporção de patrimônio representada pelo valor de uma aposta, maior a aversão ao risco.

Para os defensores da teoria da utilidade esperada, nas apostas onde o retorno é menor do que o valor justo, os valores apostados são muito pequenos em relação ao patrimônio das pessoas.

Mas será que somos avessos ou propensos ao risco? Avessos. O ser humano é avesso ao risco. Sendo que somos mais avessos à medida que o valor aumenta em relação ao nosso patrimônio.

Mas isso ocorre apenas quando estamos no campo dos ganhos. Se estivermos no campo das perdas, somos propensos ao risco.

Como esse viés pode prejudicar os investimentos?

O viés cognitivo de custos afundados pode prejudicar a sua tomada de decisões ao investir.

Isso porque, guiado por este viés, você pode aumentar a sua participação nas ações de uma empresa que está em queda, por exemplo. Isso com o intuito de recuperar o que você perdeu com a desvalorização.

Ou seja, com base nesse viés você pode acabar se expondo a mais perdas por não aceitar que teve prejuízo e querer recuperar o que perdeu.

Para evitar isso, você deve seguir uma estratégia de investimentos racional que sirva de guia nas suas decisões de compra e venda de ativos. Por exemplo, vamos supor que uma empresa que você investe passou por uma queda.

Se você tiver critérios claros para comprar e vender ativos, basta voltar para esses critérios para entender se faz sentido continuar aplicando na empresa.

Com isso, você consegue tomar uma decisão racional e não com base no seu emocional.

Exemplos de custos afundados

Alguns exemplos do custo afundado são:

1- França e Inglaterra

A França e a Inglaterra assinaram um tratado, em 1962, para desenvolver uma aeronave supersônica comercial.

O projeto foi chamado de Concorde, já que tem o mesmo significado na língua francesa e inglesa. Além disso, a intenção era marcar a união das duas nações em um projeto que revolucionaria a aviação mundial.

No começo dos anos 1980 a inviabilidade comercial do projeto já era notável. Contudo, os governos consideraram que os altos valores investidos não davam a opção de desistirem do projeto.

Portanto, eles continuaram a aplicar grandes quantias de dinheiro na tentativa de salvar o projeto. No fim das contas, um acidente em 2000 encerrou definitivamente o projeto.

Vale destacar que isso que ocorreu com a França e Inglaterra foi tão marcante, que o fenômeno dos custos afundados passou a ser conhecido também como “falácia do Concorde”.

2- Custos afundados nas empresas do Eike Batista

Outro exemplo de custos afundados é o caso das empresas X de Eike Batista.

Em resumo, quando a empresa de petróleo entrou em decadência, muitos investidores passaram a comprar ações da empresa, na tentativa de baixar o preço médio.

Isso porque eles não acreditavam que o negócio estivesse em direção à total insolvência. Sendo que essa tentativa de diminuir o preço médio é conhecida como pirâmide invertida. Por exemplo:

  • O investidor compra 100 ações por R$ 20,00 cada = O preço médio é de R$ 20,00

  • A ação então cai para R$ 14,00 e o investidor compra mais 100 ações = Logo, o seu preço médio cai para R$ 17,00

  • O preço da ação continua em queda e chega a R$ 10,00, o investidor então compra mais 200 ações = o preço médio cai para R$ 13,50.

  • A ação cai para R$ 5,00 e o investidor comprar mais 500 ações = o preço médio agora está por R$ 6,78

  • A ação cai para R$ 1,00 e o investidor compra mais 1.000 ações = o preço médio chega a R$ 4,68.

  • Por fim, a empresa vai à falência e o investidor pede todo o dinheiro aplicado.

Para evitar seguir o caminho dos custos afundados, não deixe de tomar suas decisões de investimentos de forma racional.

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Fontes: Warren, André Bona e Sgs group.