30 de março de 2021 - por Jaíne Jehniffer

Você já sabe que os fundos de investimento são uma ótima pedida para quem busca diversificar a carteira e deixar a gestão nas mãos de especialistas. Agora, se um fundo já é interessante, imagine o poder dos fundos de fundos (FOFs)! Eles têm o potencial de multiplicar essa diversificação e espalhar ainda mais os riscos dos seus ativos.
Mas, afinal, o que eles são e como eles funcionam na prática? Continue lendo para desvendar todos os detalhes dessa aplicação!
Leia também: Diversificação de investimentos – Quantas ações ter em carteira?
O que são Fundos de Fundos (FOFs)?
Eles são um tipo específico de fundo imobiliário que aplica seus recursos principalmente na compra de cotas de outros fundos. Em outras palavras, eles captam dinheiro de investidores para montar uma carteira diversificada de fundos imobiliários já existentes.
Diferente dos fundos tradicionais, que adquirem ativos diretos como shoppings ou galpões logísticos, os FOFs focam em investir em diversos fundos. Isso significa que, ao aplicar em um, você automaticamente passa a ter uma pequena participação em vários outros fundos imobiliários, e cada um deles já possui sua própria gama de ativos. Desse modo, através dessa estrutura, quem investe neles consegue uma ampla diversificação, com apenas um único investimento.
Para ser classificado oficialmente como fundo de fundos perante a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ele precisa destinar pelo menos 95% do seu patrimônio à compra de cotas de outros fundos.
Como funcionam?
Eles funcionam como um “investimento dentro do investimento”. É como se você entrasse num fundo que, em vez de comprar imóveis ou galpões diretamente, comprasse cotas de vários outros fundos imobiliários que já existem.
Veja como funciona na prática: primeiro, um fundo imobiliário comum compra ativos reais – pode ser um shopping, uns galpões logísticos, prédios de escritórios, etc. – e monta sua carteira. O gestor entra em cena analisando esse e outros fundos, escolhendo os que considera bons para investir. Ele usa o dinheiro dos cotistas do FOF para comprar cotas desses fundos selecionados.
Quando você investe num deles, acontece algo interessante: você está comprando uma cota que te dá acesso indireto a todos aqueles fundos que ele escolheu. E cada um desses fundos, por sua vez, já tem uma variedade de imóveis na sua carteira. É uma diversificação em camadas: com uma única aplicação, você espalha seu dinheiro por um monte de fundos diferentes e, consequentemente, por um monte de ativos imobiliários variados.
Conforme os fundos que compõem o FOF se valorizam e pagam seus dividendos (aqueles 95% do lucro que eles são obrigados por lei a distribuir), ele também vai crescendo de valor e repassando esses rendimentos pra você, o investidor final. É um jeito de colher os frutos de vários lugares com um único investimento.
Leia mais: Rentabilidade: o que é, quais os tipos e como calcular?
Quais são os tipos de FOFs?
Olha, eles não são todos iguais! Existem alguns tipos que se destacam pela forma como investem. É bom conhecer para saber qual combina mais com o seu perfil:
1) FIIs de tijolo
Estes focam em comprar cotas de fundos imobiliários que investem diretamente em imóveis “de verdade”, como shoppings, escritórios, galpões logísticos ou até hospitais. É uma forma de ter uma fatia de vários empreendimentos físicos sem precisar comprar um imóvel inteiro.
2) FIIs de papel (ou de CRIs)
Aqui a pegada é outra. Eles investem em cotas de fundos que compram títulos de dívida imobiliária, tipo os famosos CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários). Tipo, como se você emprestasse dinheiro para o setor imobiliário, recebendo juros por isso.
3) Híbridos
Como o nome já diz, esses são os mais mistos! Eles podem ter na carteira tanto cotas de FIIs de tijolo quanto de FIIs de papel. A ideia é justamente pegar o melhor dos dois mundos, buscando diversificação tanto em imóveis físicos quanto em títulos de dívida.
Leia mais: Fundos imobiliários híbridos: vantagens e desvantagens desses FIIs
4) FOFs de renda
O objetivo principal desses é gerar um fluxo constante de rendimentos para o investidor. Eles buscam fundos que pagam dividendos regularmente, seja porque alugam imóveis ou porque recebem juros dos seus títulos. É ideal para quem busca uma “renda extra” vinda dos investimentos.
5) FOFs de desenvolvimento
Esses são um pouco mais arriscados, mas podem ser bem interessantes. Eles investem em fundos que aplicam em projetos de desenvolvimento imobiliário, ou seja, na construção ou reforma de imóveis. A rentabilidade costuma vir da venda desses imóveis depois de prontos, e não tanto dos aluguéis.
6) FOFs de FOFs
Sim, é isso mesmo! Existem FOFs que investem em outros FOFs. Parece complexo, mas a ideia é levar a diversificação a um nível ainda mais profundo, pulverizando ainda mais o risco e a gestão.
Quais são as vantagens dos Fundos de Fundos?
Eles têm umas vantagens bem interessantes, principalmente pra quem busca praticidade ou está começando no mundo dos fundos imobiliários. As principais são:
- Diversificação em Cascata com Facilidade: Com uma única cota, você automaticamente investe em vários fundos imobiliários diferentes, e cada um desses fundos já tem uma cesta variada de imóveis (shoppings, galpões, prédios…). É diversificação dupla (ou tripla!) sem você precisar se preocupar em escolher e comprar dezenas de fundos sozinho. Menos risco espalhado, menos trabalho pra você.
- Gestão Profissional no Volante: Você deixa o trabalho pesado de analisar e escolher os melhores fundos por conta do gestor do FOF. Ele (e o time dele) fica o tempo todo fuçando o mercado, avaliando fundos, e montando a carteira com o que consideram as melhores oportunidades. É como ter um especialista farejando boas opções pra você.
- Praticidade Total (Menos Enrolação): Em vez de ficar acompanhando relatórios, proventos e performances de um monte de fundos diferentes, você só precisa olhar para o seu FOF. Tudo vem consolidado: a performance e os dividendos chegam de uma fonte só. Muito mais simples de administrar no dia a dia.
Entenda: Como montar uma carteira de investimentos?
Quais são as desvantagens e riscos?
Alguns dos principais “poréns” deles:
- Taxa Sobre Taxa: Você paga a taxa do FOF e indiretamente banca as taxas dos fundos que ele investe. Isso come seu rendimento no longo prazo. É o maior calcanhar de Aquiles.
- Dividendo Diluído: O rendimento que chega pra você tende a ser menor do que se investisse direto nos fundos. Os dividendos vão “murchando” ao passar pelas camadas (fundo original -> FOF -> você) e pagar taxas.
- Depende do Olho do Gestor: Se o gestor dele escolher mal os fundos (investir em fundos ruins ou problemáticos), seu investimento sofre junto. Toda a promessa de diversificação cai por terra se a seleção for ruim.
- Falsa Diversificação?: Cuidado! Às vezes, o fundo pode estar muito concentrado em poucos fundos ou em fundos que investem todos no mesmo tipo de imóvel (ex.: só shoppings). Aí, você acha que está diversificado, mas na verdade não está tanto assim.
Saiba mais: O que é uma gestora de investimentos?
Quais são os custos associados aos FOFs?
Ao investir neles, é importante estar ciente de alguns custos envolvidos, que são comuns a boa parte dos investimentos.
O principal é a taxa de administração. Ela é um valor anual, cobrado para remunerar o gestor que cuida do FOF, escolhendo os outros e fazendo toda a movimentação.
Alguns também podem ter uma taxa de performance. Essa só entra em jogo se o fundo superar uma meta de rentabilidade pré-definida, ou seja, se o gestor for super bem e render mais que o esperado.
Um ponto chave é que, como ele investe em outros fundos, você acaba “pagando” as taxas desses fundos também, além das taxas do próprio FOF. É como uma camada extra de custos.
Fora isso, considere os custos de corretagem e custódia (se a corretora cobrar) e o Imposto de Renda sobre os seus ganhos.
Sempre vale a pena consultar o regulamento do FOF antes de investir para entender todos esses custos e planejar-se bem!
Como analisar e escolher FOFs?
1) Olhe para o histórico de rentabilidade
Ninguém garante rentabilidade futura, mas dar uma olhada no que ele entregou no passado é um bom começo. Veja como ele se saiu em diferentes períodos (últimos 12 meses, 24 meses, 36 meses). Compare com outros fundos parecidos e com índices de referência. Um bom histórico mostra que o gestor sabe o que está fazendo.
2) Entenda a estratégia do fundo
É fundamental saber em que tipo de fundos o FOF investe. Ele foca mais em fundos de “tijolo” (imóveis físicos), de “papel” (títulos de dívida) ou é híbrido? Ele busca fundos que pagam bastante dividendo ou aqueles que visam mais a valorização das cotas? A estratégia precisa fazer sentido pra você e para seus objetivos.
3) Analise os custos
A gente já conversou sobre isso, mas é bom reforçar: as taxas de administração e, se houver, de performance podem “comer” uma parte da sua rentabilidade. Compare as taxas entre os FOFs e veja se elas se justificam pela qualidade da gestão e pelo histórico de resultados. Lembre-se que você paga a taxa dele e as taxas dos fundos que ele investe.
4) Conheça a equipe de gestão
Quem está por trás dele? Qual é a experiência do gestor e da equipe? Uma equipe renomada e com um bom histórico de gestão pode fazer toda a diferença. Às vezes, o “toque humano” de um bom gestor é o que faz o fundo se destacar.
5) Verifique a diversificação da carteira
Um dos grandes atrativos do fundo é a diversificação. Mas será que ele realmente diversifica bem? Veja em quantos e quais fundos ele investe. Uma boa carteira terá fundos de diferentes setores, tipos e, se possível, gestores, para não ficar dependente de poucas apostas.
6) Fique de olho na liquidez
Se você precisar vender suas cotas no futuro, é importante que ele tenha boa liquidez, ou seja, que seja fácil encontrar compradores sem grandes perdas. Sempre vale a pena conferir o volume de negociação diário.
7) Leia o regulamento e o prospecto
Sim, é chato, mas é super importante! Lá estão todas as informações detalhadas sobre o FOF: objetivos, política de investimento, taxas, riscos e muito mais. É a sua “bula” do investimento, e ler com atenção evita surpresas desagradáveis.
Informação: Lâminas de fundos: o que são, como funcionam e como analisar?
Como investir em Fundos de Fundos (FOFs)?
Aqui vai um guia prático, passo a passo de como investir neles:
1) Escolha uma boa corretora de valores
Esse é o primeiro passo para qualquer investimento na bolsa. Procure uma corretora confiável, com plataforma fácil de usar e que não cobre taxas absurdas pra comprar/vender fundos imobiliários (geralmente é taxa zero pra FIIs em corretoras sérias). É onde você vai abrir sua conta e colocar o dinheiro.
2) Faça sua lição de casa (Análise é fundamental!)
Não saia comprando qualquer FOF por aí! Pesquise fundos específicos. Olhe o site da corretora, do próprio fundo ou sites especializados para ver em quais fundos ele investe (a carteira), a taxa de administração (lembre-se da dupla tributação!), o histórico de dividendos, a liquidez (volume de negociação) e quem é o gestor. Compare diferentes FOFs.
3) Analise bem o gestor e a estratégia
Como você depende MUITO da escolha do gestor, veja a experiência dele e da administradora. Qual é a estratégia do FOF? Ele busca fundos de setores específicos (logística, shoppings) ou é mais geral? Ele busca renda ou crescimento? Isso deve bater com o seu objetivo.
4) Fique de olho nas taxas (principalmente!)
Essa é a pedra no sapato dos FOFs. Confira a taxa de administração do próprio FOF. Lembre-se que você também “paga” indiretamente as taxas dos fundos que ele compra. Compare essa taxa com FOFs similares e pense: o trabalho do gestor justifica esse custo extra? Taxa alta come muito seu rendimento no longo prazo.
5) Defina quanto quer investir e compre as cotas
Veja o valor da cota do FOF que escolheu. Na plataforma da sua corretora, busque pelo código do fundo (ex: `RFOF11`, `AFOF11`) e faça uma ordem de compra, igual você compra uma ação. Pode investir o valor que quiser, geralmente não tem valor mínimo além do preço de uma cota.
6) Acompanhe e monitore seu investimento
Depois de comprar, não esqueça no fundo do baú! Acompanhe os relatórios mensais/trimestrais do FOF (disponíveis no site dele), veja se a carteira mudou muito, confira se os dividendos estão sendo pagos conforme o esperado (na sua conta da corretora) e fique de olho no desempenho geral. Reavalie de tempos em tempos se o FOF ainda faz sentido pra você.
Leia mais: Entenda o que são FIIs e como investir
Fundos de Fundos na bolsa brasileira
Basicamente, eles são negociados igual ação. Você compra e vende cotas pelo home broker da sua corretora, usando códigos de 5 letras + número, tipo `RFOF11`, `AFOF11`, `SDIL11` ou `VGIR11`. É o mesmo esquema de comprar um FII “tradicional” ou uma ação.
Você pode perguntar: quais são os mais conhecidos? Tem vários, cada um com seu perfil. Alguns nomes que você provavelmente vai esbarrar são:
- RFOF11 (Riza FOF): Um dos pioneiros e mais líquidos. Busca diversificação ampla.
- AFOF11 (Alianza FOF): Foca bastante em fundos de papel (CRIs, LCAs, LCIs), buscando rendimento mais estável.
- SDIL11 (Suno DI Logística): Como o nome diz, mira forte em fundos do setor logístico (galpões), que é bem popular.
- VGIR11 (Valora RE IV): Outro grande player, conhecido por uma gestão ativa e busca por oportunidades variadas.
- XPCM11 (XP Corporate Macaé): Investe em cotas do fundo XPCM (que por sua vez tem ativos em Macaé/RJ ligados ao setor de óleo e gás). Um exemplo com foco mais específico.
O que você precisa saber antes de investir
- Taxas Duplas (De Novo!): Não canso de falar: você paga a taxa do FOF e indiretamente as taxas dos fundos que ele compra. Isso impacta seu retorno real. Compare sempre a taxa de administração do FOF com as de outros FOFs e com fundos diretos. É o maior ponto de atenção.
- Dividendos “Filtrados”: O rendimento que chega na sua conta (o famoso “dividendo”) tende a ser menor do que o yield médio dos fundos que o FOF possui. Por quê? Porque o dinheiro passa pelo fundo, que desconta suas próprias despesas e taxas antes de te pagar. Não espere o mesmo rendimento de um fundo direto.
- Gestor é Tudo: Na bolsa brasileira, a qualidade do gestor faz MUITA diferença. Ele quem escolhe onde botar o dinheiro. Pesquise a reputação da administradora, a experiência do gestor e a estratégia declarada do fundo (está no regulamento e nos relatórios). Um bom gestor pode valer a taxa, um ruim pode afundar o barco.
- Liquidez Varia: Alguns. como o RFOF11, são bem fáceis de comprar e vender (alta liquidez). Outros, menores ou mais recentes, podem ter menos negociação. Olhe o volume médio diário antes de investir pra não ficar “preso” se precisar vender rápido.
- Diversificação Real?: Olhe a carteira! Não basta ser FOF pra ser diversificado. Veja se ele está espalhado mesmo por vários fundos e setores diferentes (shoppings, logística, tijolo, papel) ou se está concentrado em apenas um ou dois fundos grandes ou num único setor. A diversificação prometida só existe se a carteira for bem montada.
Eles são uma opção prática pra entrar no mercado imobiliário via bolsa com relativa facilidade e uma dose de diversificação “de fábrica”. Você encontra vários ali, com estratégias diferentes. Mas… vem com um custo mais alto embutido (as benditas taxas duplas) e seu sucesso depende muito da competência de quem está escolhendo os fundos por trás.
Vale a pena? Depende. Se você prioriza praticidade e confia no gestor, pode ser um bom caminho. Se busca o máximo de retorno e controle, talvez comprar fundos diretos (apesar de dar mais trabalho) seja mais eficiente. É sempre bom comparar!
Leia também: Fundos multimercados: o que são, como funcionam e como investir?
Fontes: XPI, Toro, Suno, Infomoney, Day Coval, Invest News e Nubank.