14 de dezembro de 2020 - por Jaíne Jehniffer
Os fundos de inflação são um tipo de fundo de investimento que busca investir nos mesmos ativos que compõem a carteira do índice inflacionário, o IMA-B.
O que são fundos de inflação
Os fundos de inflação são conhecidos como Fundos IMA-B ou Fundos de Renda Fixa de Índice.
Isso porque, o intuito desse tipo de fundo é aplicar nos títulos que compõem a carteira do índice inflacionário, IMA-B.
Esses fundos podem ainda buscar superar o IMA-B 5 ou o IMA-B 5+. Com isso, ele pode ter características de prazo mais curto ou mais longo para a carteira.
Vale destacar que, apesar de ser caracterizado como um fundo de renda fixa, ele pode passar por oscilações.
Desempenho dos fundos de inflação nos últimos anos
Os fundos de inflação apresentam um comportamento cíclico. Isso porque, eles estão expostos às taxas de juros e aos índices inflacionários.
Ou seja, esse tipo de fundo está exposto diretamente ao comportamento da inflação. Além disso, a sua performance também depende da política monetária do país.
Por exemplo, quando as taxas de juros estão baixas, se torna mais barato se endividar e a confiança do consumidor cresce.
Dessa forma, o aumento do consumo resulta no aumento de preços, resultando na inflação. Isso contribui de forma positiva para os resultados dos fundos de inflação.
Desempenho dos fundos de inflação entre 2012 e 2013
Lá em 2012, o governo reduziu a taxa Selic. A redução da taxa básica de juros resultou em um bom retorno para os fundos de inflação. Para você ter uma ideia, naquele ano, o IMA-B acumulou uma alta de 26,68%.
Essa situação atraiu muitos novos investidores para esse tipo de aplicação. No entanto, com o começo do descontrole inflacionário e a iminente alta dos juros, o mercado ficou com ânimos exaltados.
O resultado é que em 2013 os fundos acumularam grandes perdas para quem entrou atrasado. Isso porque, o IMA-B em 2013 foi de -10,02%.
Desempenho dos fundos de inflação em 2016
Com o novo cenário se desenrolando, boa parte dos profissionais do mercado apontavam a realocação de carteira como a melhor alternativa.
Contudo, isso foi um pouco tarde demais para grande parte das pessoas que entraram no momento de euforia do mercado.
Entretanto, estamos falando de um produto cíclico, onde ocorre uma alternância entre euforia e depressão.
Por exemplo, em 2016 ocorreu um novo movimento na baixa de juros. Logo, o IMA-B teve uma alta de 24,81%. Como você pode imaginar, o mercado ficou animado, de novo.
Desempenho dos fundos de inflação em 2021
Acima nós analisamos os resultados de anos distantes. Mas e como foi o resultado desses fundos em 2021, quando a taxa Selic atingiu a mínima histórica de 2% ao ano?
Nesse cenário, o governo realizou uma injeção de capital na economia, com o intuito de combater os impactos que a pandemia teve na economia. Logo, a inflação voltou a subir.
Consequentemente, os fundos de inflação tiveram altos retornos com a alta da inflação. De fato, eles tiveram um resultado bem acima do CDI no período:
Contudo, após o período de pandemia, o governo voltou a subir as taxas de juros para controlar a inflação. Isso é perceptível no gráfico anterior com a inclinação no resultado do CDI.
Novamente, o investidor que decidiu entrar em fundos de inflação no momento errado, não conseguiu aproveitar o retorno oferecido pelo aumento da inflação.
Enfim, ao longo do ano, o IMA-B teve uma rentabilidade negativa de 1,31%.
Desempenho dos fundos de inflação em 2022
Já em 2022, estamos vivendo um cenário misto. Com o aumento da taxa de juros a tendência é que os fundos de inflação não tenham um resultado tão bom.
No entanto, mesmo com a Selic alta, a inflação ainda não parou de subir.
Sendo que fatores como a guerra na Europa, Rússia e Ucrânia contribuíram de forma negativa para o índice inflacionário, sobretudo em relação ao preço do petróleo.
Apesar disso, o esperado é que a taxa de juros continue subindo. Logo, a expectativa é que o CDI passe a render mais do que os fundos de inflação.
Relação entre taxa de juros e fundos de inflação
Como você já deve ter notado, os rendimentos dos fundos de inflação funciona quase de forma contrária à taxa Selic. Sendo assim, quando a taxa de juros cai, os preços dos títulos tendem a subir e vice-versa.
Contudo, o mercado precifica os títulos de renda fixa não apenas em relação à Selic, mas também com base nas expectativas futuras dos investidores.
Um detalhe importante sobre os fundos de inflação é que eles costumam investir muito em títulos públicos e privados que remuneram com uma taxa de juros fixo mais o IPCA.
Sendo assim, a carteira dos fundos é composta, sobretudo, de títulos do Tesouro IPCA+ (antigo NTN-B). É por isso que a grande maioria dos fundos usa o IMA-B como benchmark.
Por agora, para compreender esse movimento, será necessário primeiro conhecer alguns conceitos básicos do funcionamento desses fundos. É o caso, por exemplo, de entender que boa parte do capital dos fundos de inflação é aplicada em títulos públicos e privados que remuneram o investidor com um juros fixo + IPCA.
Desta maneira, a carteira dos fundos de inflação é composta predominantemente pelas NTN-Bs (atual Tesouro IPCA+). E é justamente por este motivo, que a maioria desses fundos utiliza como benchmark o IMA-B.
Taxa de juros versus preços dos títulos nos fundos de inflação
Existe uma relação inversa entre a taxa de juros e o preço dos títulos. Sendo assim, quando a taxa de juros sobe, a tendência é que o preço dos títulos diminua.
Nesse sentido, quando os juros sobem e o valor dos títulos é reduzido, o valor atual da carteira de investimentos dos investidores no geral, é reduzido.
Os economistas chamam isso de “efeito riqueza” da política monetária. Com o aumento da Selic, que resulta na diminuição do acesso ao crédito, as pessoas tendem a consumir menos e a inflação para de subir.
Causas das oscilações em fundos de inflação
Os fundos de inflação investem em NTN-Bs, cuja rentabilidade é composta por dois tipos de retorno. A 1º é o juros prefixado na hora da compra. A 2º é pós-fixada e varia de acordo com o IPCA.
Sendo assim, os fundos de inflação passam por oscilações justamente porque o IPCA não permanece o mesmo. O IPCA varia de acordo com os preços dos produtos e serviços do mercado.
Logo, os fundos de inflação também variam de acordo com as mudanças do IPCA, isto é, da inflação.
Cálculo do preços dos títulos
Vamos imaginar um cenário base onde você quer investir em um título prefixado e a taxa básica de juros está em 10% ao ano.
Ao acessar o site do Tesouro Direto, você verificou que o governo se compromete a te pagar R$1.100,00 por cada LTN no final do período de 12 meses.
Esse valor final é chamado de “Valor de Face” de um título (também conhecido como valor nominal ou valor de resgate). Nesse exemplo, o valor máximo que você iria pagar pelo título seria R$1.000,00.
Com isso, ao receber os R$1.100,00 do governo no fim do período de 12 meses, você teria um ganho de R$100,00. Isso significa 10% de retorno sobre os R$1.000,00 que você investiu.
Sendo que esses R$1.000,00 que você pagaria no título é o chamado “Preço de Mercado”, valor atual ou presente.
Aumentado a taxa de juros…
Vamos imaginar um cenário 2, onde o governo suba a taxa de juros para 15% ao ano. Neste caso, as LTNs vão continuar pagando o mesmo valor de R$1.100,00 no final dos 12 meses.
Contudo, você não precisa mais investir R$1.000 para receber esse retorno, já que agora a remuneração dos títulos é maior.
Sendo assim, você teria que investir somente R$956,52. Logo, no final dos 12 meses, levando em conta a taxa de retorno de 15% ao ano, você teria os mesmos R$1.100 como valor final.
Reduzindo a taxa de juros…
O contrário também pode acontecer. Suponhamos então um cenário 3, onde o governo decide diminuir a taxa Selic de 10% ao ano para 5% ao ano.
Neste caso, para que o título chegue a um valor final de R$1.100,00 com 5% de rendimento em 12 meses, você teria que investir R$1.047,62 para comprar o título.
Logo, o rendimento seria de apenas R$52,38 seria equivalente a exatamente 5% de retorno sobre o aporte inicial de R$1.047,62.
Juntando todos os cenários…
Como você viu no exemplo, a partir de um cenário base qualquer, quando o governo sobe a taxa Selic, o preço dos títulos cai, como ocorreu no cenário 2.
Observe que, com um preço de mercado menor, o valor atual da carteira com esses títulos também diminui em um primeiro momento.
Com isso, o investidor “fica mais pobre”, se ele decidir vender o título hoje no valor atual, ao invés de esperar até o vencimento.
Já no cenário 3, temos a situação onde os juros são reduzidos e o preços dos títulos sobe, aumentando o valor patrimonial dos investidores. Enfim, a tabela abaixo resume essas variações:
Cenário | Taxa Selic | Preço da LTN |
Cenário 1 (Base) | 10% | R$1.000,00 |
Cenário 2 | 15% | R$956,52 |
Cenário 3 | 5% | R$1.047,62 |
A correlação negativa da taxa de juros com o IMA-B
Se você duvida que essa situação possa acontecer de verdade, basta dar uma conferida no que ocorreu entre 2003 e 2017 com a Taxa Selic e a cotação do IMA-B:
No gráfico é possível notar que sempre que a taxa Selic caiu nos últimos 15 anos, ela foi acompanhada por um aumento de preço das NTN-B.
Isso ocorre pois os dois indicadores têm uma correlação negativa. Em outras palavras, a queda de um deles, resulta na alta do outro e vice-versa.
Quando investir em fundos de inflação?
A melhor hora para investir em fundos de inflação, é quando a taxa de juros está alta. Isso porque, quando a taxa baixar, você pode aproveitar toda a valorização da inflação e lucrar.
Contudo, enxergar o melhor momento para fazer a aplicação é bem difícil. Por isso, o ideal é montar uma carteira bem diversificada de acordo com o seu perfil de investidor.
Porém, se você quer arriscar acertar o timming perfeito para investir, a regra geral você já conhece:
- Compensa aplicar em fundos de inflação e lucrar com a queda na taxa de juros e alta da inflação.
- Se você esperar uma alta da taxa Selic, não conte com o dinheiro no curto prazo se optar por aplicar nesses fundos.
Lembrando que a taxa Selic é usada pelo governo como uma ferramenta de controle da inflação. Sendo assim, se você for esperar uma alta na inflação, lembre-se que depois virá uma alta na taxa de juros.
Vantagens dos fundos de inflação
Algumas das vantagens de investir em fundos de inflação são:
1- Rentabilidade
Os fundos de inflação possuem um potencial de rentabilidade mais parecido com um fundo de renda variável do que de renda fixa. Ou seja, os fundos podem te proporcionar retornos muito bons.
2- Liquidez
Os fundos de inflação investem muito em títulos públicos, que são bem líquidos. Logo, esses fundos conseguem passar uma boa liquidez para os investidores.
3- Baixo investimento inicial
Você não precisa de muito dinheiro para começar a investir em fundos de inflação. Além disso, eles proporcionam uma boa diversificação da carteira.
4- Baixos custos
Os fundos de renda fixa, geralmente, têm uma taxa de administração mais baixa e não cobram taxa de performance.
5- Gestão profissional
Você não precisa escolher e analisar os ativos. Afinal de contas, o fundo conta com um profissional focado justamente na gestão do fundo.
Desvantagens dos fundos de inflação
Algumas desvantagens dos fundos de inflação são:
1- Renda fixa que varia
Esses fundos têm uma rentabilidade bem atrativa, mas o risco também é alto. Sendo assim, quem não tem estômago para fortes oscilações que o fundo pode passar, é melhor escolher outro tipo de ativo.
2- Curto prazo
Como passa por muitas oscilações, os fundos de inflação não são tão legais para o curto prazo. Portanto, se você for precisar do dinheiro no curto prazo, é melhor escolher aplicações menos voláteis.
3- Escolhas
Nos fundos de modo geral, os investidores não têm poder em relação às escolhas dos ativos que irão compor no fundo.
Sendo assim, os fundos de inflação não são uma boa opção para quem deseja aproveitar o timming do mercado ao escolher ativos.
4- Marcação a mercado
Por fim, os fundos de inflação têm ainda a desvantagem a questão da marcação a mercado. Acontece que quando você compra um título e ele passa a se desvalorizar, você tem a opção de fazer o resgate antecipado.
Contudo, no fundo essa decisão é do gestor. Dessa forma, você pode ter que fazer o resgate da aplicação em momentos não muito bons.
Enfim, agora que você sabe como funciona os fundos de inflação, saiba quais são os Impostos sobre investimentos – Principais tipos e como são cobrados
Fontes: Empreender dinheiro, Mais retorno, Suno e Capital research.