7 de junho de 2022 - por Sidemar Castro
A lista das moedas mais desvalorizadas do mundo em relação ao dólar pode variar bastante ao longo do tempo. É preciso ressaltar que o mercado financeiro é dinâmico e a posição de cada moeda pode mudar rapidamente.
De acordo com um levantamento realizado pela agência classificadora de risco Austin Rating, em 2024, diversas moedas enfrentaram uma desvalorização significativa em relação ao dólar este ano. As principais razões para essa desvalorização variam de país para país e incluem fatores como instabilidade política, alta inflação, queda nos preços de commodities e políticas monetárias expansionistas.
Essa lista que apresentamos abaixo, portanto, está sujeita a diversas mudanças. É importante lembrar que a ordem das moedas pode variar ao longo do tempo. Confira!
Quais são as 10 principais moedas mais desvalorizadas em relação ao dólar?
Além dos fatores mencionados acima, eventos mundiais, como crises financeiras ou geopolíticas, podem afetar o apetite global por risco, levando investidores a buscar ativos mais seguros, como o dólar, e desvalorizando outras moedas. Por exemplo, a pandemia de Covid-19, a Guerra da Ucrânia ou os conflitos na Faixa de Gaza.
Segundo o levantamento da agência classificadora de risco Austin Rating, é da Naira, da Nigéria, na África, o troféu de moeda mais desvalorizada do mundo, até o momento, em meados de 2024.
O Brasil está entre os 10 países da lista, assim como, surpreendentemente para muitos, moedas de países como o Japão e a Suíça. Mas a realidade da moeda de cada nação, independente de sua classificação, é muito diferente.
1) Naira (Nigéria)
A naira nigeriana liderou a lista, com uma desvalorização acentuada, impulsionada principalmente pela queda nos preços do petróleo, principal fonte de renda do país. A moeda oficial da Nigéria teve uma queda acumulada de 41,3% até junho.
O recém-empossado presidente Bola Tinubu implementou uma série de reformas monetárias visando harmonizar a rede de taxas de câmbio da Nigéria. Principalmente visando o fim do sistema de taxas de câmbio múltiplas usado anteriormente para manter, de forma artificial, o naira forte.
O resultado é que investidores retiraram centenas de milhões em moeda estrangeira da Nigéria, fazendo com que as reservas em dólares do país caíssem para apenas 20%. Isso enfraqueceu muito o naira.
O governo da Nigéria tomou medidas para tentar reverter a forte queda do naira, incluindo ameaças de bloquear o acesso de cidadãos a sites de corretoras de criptomoedas que estariam contribuindo para a fraqueza da moeda. Dois executivos da Binance chegaram a ser detidos no país por ajudarem a exchange a operar ilegalmente.
2) Libra Egípcia
A desvalorização da libra egípcia em relação ao dólar se deve a uma combinação de fatores econômicos e políticos que afetam a estabilidade da moeda. Em 2024, a libra egípcia registrou uma queda de aproximadamente 35,2% em relação ao dólar, tornando-se uma das moedas mais desvalorizadas do mundo.
O Banco Central do Egito adotou um regime de câmbio flutuante, permitindo que a libra egípcia se desvalorizasse livremente. Essa medida, embora tenha sido implementada para estabilizar a economia, resultou em uma desvalorização acentuada da moeda.
O Egito enfrenta uma crise econômica severa, caracterizada por alta inflação e dificuldades fiscais. A inflação elevada reduz o poder de compra da moeda, contribuindo para sua desvalorização.
3) Libra Sul Sudanesa (Sudão do Sul)
A libra sul sudanesa enfrentou uma desvalorização ainda maior, agravada por conflitos internos e uma crise humanitária. Ela foi introduzida em 2011, substituindo a libra sudanesa após a separação do Sudão.
No entanto, a moeda enfrentou desafios significativos, incluindo conflitos internos e crises econômicas severas. Esses fatores contribuíram para sua desvalorização frente ao dólar, com uma queda de 29,9%.
4) Cedi (Gana)
Em 2024, a moeda de Gana registrou uma desvalorização de 29% até o momento, colocando-a na quarta posição entre as moedas que mais perderam valor frente ao dólar, segundo o levantamento da agência classificadora de risco Austin Rating.
Esse cenário de desvalorização do cedi e de outras moedas emergentes está associado a diversos fatores, incluindo incertezas econômicas, conflitos civis e a política monetária dos Estados Unidos. A valorização do dólar é impulsionada por expectativas em relação às taxas de juros nos EUA e pela busca de segurança em tempos de instabilidade.
5) Peso Argentino
A Argentina enfrenta uma inflação extremamente alta, o que tem corroído o poder de compra da moeda local. Esse cenário econômico gera desconfiança entre investidores e consumidores, levando a uma maior procura por dólares como forma de proteção.
O governo do presidente Javier Milei tem implementado uma agenda de reformas com foco em austeridade fiscal. Embora essas medidas busquem estabilizar a economia, elas também têm implicações sociais significativas, resultando em sacrifícios para a população. As reformas estão ajudando a conter a desvalorização do peso, mas a situação ainda é crítica.
Em 2024, o peso argentino acumulou uma desvalorização de cerca de 10,8% em relação ao dólar, o que o coloca em uma posição crítica, embora não seja a mais desfavorável entre as moedas emergentes. O real brasileiro, por exemplo, teve uma desvalorização ligeiramente maior, de 11,4%; no entanto, a situação econômica e o nível de reservas do país é extremamente melhor que o da Argentina.
6) Real (Brasil)
O real brasileiro, embora tenha apresentado uma recuperação em alguns momentos, ainda se encontra entre as moedas que mais perderam valor, impulsionado por incertezas políticas e econômicas.
A moeda brasileira aparece na sexta posição, com uma desvalorização de 11,40% em relação ao dólar. Apesar disso, é importante lembrar que a cotação da moeda não é o único indicador de seu valor, pois outros fatores econômicos também influenciam.
7) Iene (Japão)
O iene japonês, surpreendentemente, também se encontra entre as moedas mais desvalorizadas. Essa desvalorização está ligada a políticas monetárias expansionistas do Banco do Japão e à fraqueza da economia global.
A moeda japonesa acumulou uma queda de 36% desde o início de 2022, atribuída a vários fatores econômicos e políticos. A principal, é a política monetária acomodativa adotada pelo Banco do Japão (BoJ), com taxas de juros próximas de zero e até negativas.
Apesar das tentativas do BoJ de controlar a desvalorização do iene por meio de intervenções no mercado cambial, essas ações têm sido vistas com ceticismo por outros países e não têm conseguido estabilizar a moeda a longo prazo. A economia japonesa enfrenta desafios estruturais, incluindo uma população envelhecida e baixa taxa de crescimento.
8) Lira Turca
Até meados de 2023, a Turquia implementou o Programa Econômico Turco (TEP), que buscava estimular a economia por meio da redução das taxas de juros. Isso resultou em uma depreciação de quase 60% da lira frente ao dólar entre setembro de 2021 e maio de 2023.
A política monetária do TEP contribuiu para uma inflação galopante na Turquia, que saltou de 19,3% em agosto de 2021 para 85,5% em outubro de 2022. O governo turco adotou uma abordagem mais ortodoxa, elevando a taxa de juros básica de 8,5% para 50% e as taxas de empréstimos comerciais para 70%. O objetivo é reduzir a demanda interna, controlar a inflação e estabilizar a lira.
As projeções para 2024 indicam que a Turquia deve registrar um crescimento real do PIB de 3% e uma queda gradual da inflação para 43% até o final do ano. O déficit em conta corrente também deve diminuir, proporcionando estabilidade adicional à economia. No entanto, o sucesso dessa estratégia dependerá da capacidade das empresas turcas de se adaptarem ao novo ambiente de taxas de juros mais altas e de uma política fiscal mais austera.
9) Peso Mexicano
O peso mexicano (MXN) também sofreu uma desvalorização, embora em menor escala, em relação a outras moedas da lista. Segundo dados compilados pelo Valor Data, a queda acumulada do peso mexicano ante o dólar comercial desde janeiro de 2024 chegou a 7,62%.
Apesar da desvalorização, o peso mexicano se saiu melhor que seus pares da América Latina. Alguns fatores que contribuíram para a desvalorização do peso mexicano incluem o fortalecimento global do dólar americano, diante do adiamento do início do ciclo de cortes de juros nos EUA.
10) Franco Suíço
O franco suíço (CHF), tradicionalmente considerado uma moeda segura, surpreendentemente também registrou uma desvalorização em relação ao dólar.
Essa desvalorização é parte de um contexto mais amplo em que o dólar tem se fortalecido em relação a várias moedas globais, refletindo as altas taxas de juros nos Estados Unidos e as políticas monetárias mais acomodatícias de outros países, incluindo a Suíça, onde o Banco Nacional Suíço (SNB) cortou a taxa de juros recentemente.
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Fontes: G1 Economia, CNN Brasil, Austin