Alavancagem: o que é, como funciona e quais os riscos da prática?

A alavancagem funciona como um crédito das corretoras para que os investidores possam operar com mais dinheiro do que possuem em conta. Para isso, eles devem apresentar uma margem de garantia, que não precisa ser em dinheiro.

Ao operar com alavancagem, o investidor pode potencializar seus ganhos. Sendo assim, quando boas oportunidades surgirem, mesmo sem ter muito dinheiro, o investidor pode aproveitar. No entanto, ao mesmo tempo em que representa uma possibilidade de maximizar os lucros, a alavancagem também torna a operação mais arriscada. Logo, ela não é recomendada para todos os tipos de investidores.

O que é alavancagem

A alavancagem é a possibilidade de investir com mais dinheiro do que se tem na conta da corretora. Ou seja, a alavancagem funciona como uma alavanca, um impulso por meio de um crédito concedido pela corretora, para que o investidor aproveite oportunidades e potencialize seus ganhos.

Entretanto, para operar com alavancagem, o investidor precisa apresentar uma margem de garantia. Isso significa que o investidor deve provar que ele consegue arcar com os prejuízos que uma operação com alavancagem pode ter.

Como funciona a alavancagem

A alavancagem funciona como um empréstimo por parte da corretora. As condições variam entre as corretoras, porém, todas elas pedem uma margem de garantia. Esta margem varia de acordo com a negociação pretendida pelo investidor.

Além disso, ela não precisa ser em dinheiro, pode ser por exemplo, em ações ou títulos do tesouro direto. Um detalhe importante em relação à alavancagem é que, em casos de lucros ou prejuízos, o investidor só precisa pagar a diferença.

Suponhamos que você tenha R$ 7 mil na conta e a sua corretora permitiu que você operasse 8 vezes este valor. Dessa maneira, você negociou com R$ 56.000 e seu investimento resultou em 1% de lucro. Logo, você irá receber 1% de R$ 56.000 ou seja R$ 560,00. Por outro lado, se você tiver 1% de prejuízo, você terá que pagar o mesmo percentual.

• Leia mais: Lucro – entenda melhor esse importante conceito

Quais são os outros tipos de alavancagem?

A alavancagem pode ser aplicada de várias maneiras nos mercados financeiros, além do modelo tradicional de alavancagem de crédito (como o que discutimos em corretoras de dinheiro). Existem diferentes tipos e estratégias de alavancagem, cada uma com características próprias. A seguir, estão alguns dos principais tipos:

1. Alavancagem Financeira

Primeiramente, a alavancagem financeira envolve o uso de dívidas para financiar operações de investimento. Ela é comum em empresas que tomam empréstimos ou emitem títulos de dívida para financiar suas atividades. A ideia central é usar o dinheiro emprestado para gerar lucros maiores do que os custos do financiamento. Assim, a alavancagem financeira também pode ser usada por investidores para amplificar seus retornos.

Exemplo:

• Uma empresa pode tomar empréstimos para investir em novos projetos e expandir suas operações, esperando que o retorno sobre o investimento seja maior do que o custo do empréstimo.
• Da mesma forma, um investidor pode usar um financiamento bancário para comprar mais ações, com a expectativa de que o aumento no valor das ações cubra o custo do empréstimo e ainda gere lucro.

2. Alavancagem Operacional

Em segundo lugar, a alavancagem operacional refere-se ao uso de custos fixos em uma empresa para amplificar os efeitos de variações nas vendas sobre o lucro. Quanto maior a proporção de custos fixos (em comparação com custos variáveis), maior será a alavancagem operacional.

Exemplo:

• Uma empresa que tem altos custos fixos, como aluguel de instalações, pode ter um grande aumento no lucro quando suas vendas crescem, porque os custos fixos não mudam com o aumento das vendas.
• Além disso, empresas de tecnologia ou indústrias com altos investimentos em ativos fixos, como fábricas, são frequentemente mais alavancadas operacionalmente.

3. Alavancagem de Mercado (ou alavancagem de ativos)

Outro tipo é a alavancagem de mercado, que envolve o uso de ativos financeiros para aumentar o tamanho da posição no mercado. Esse conceito é comum em mercados de ações, futuros e derivativos. A ideia principal é usar um investimento inicial menor para controlar uma posição maior, assim como na alavancagem de corretoras de dinheiro.

Exemplo:

• Um investidor pode usar opções ou futuros para obter alavancagem, controlando um grande número de contratos por um valor menor do que seria necessário para comprar diretamente os ativos subjacentes.

4. Alavancagem através de Derivativos

Ademais, os derivativos (como opções, futuros, swaps e contratos a termo) permitem que os investidores ganhem exposição a ativos subjacentes com um investimento inicial reduzido. Embora os derivativos em si não sejam um tipo de alavancagem, eles são frequentemente usados como ferramentas para alavancar posições.

Exemplo:

• Usar opções de compra (calls) ou opções de venda (puts) para controlar uma quantidade significativa de ações ou ativos subjacentes por um custo inicial muito menor do que seria necessário para comprar esses ativos diretamente.

5. Alavancagem de Reinvestimento de Lucros

Esse tipo de alavancagem refere-se à reinvestimento dos lucros gerados por um investimento, o que permite ao investidor aumentar o montante investido sem adicionar mais capital externo. Portanto, ao reinvestir os lucros, o investidor aproveita o efeito da capitalização.

Exemplo:

• Se um investidor recebe dividendos de ações e decide reinvesti-los para comprar mais ações, ele está utilizando alavancagem no sentido de aumentar o valor investido e potencialmente aumentar os retornos no futuro.

6. Alavancagem de Capital

Por outro lado, a alavancagem de capital envolve o uso de recursos externos (como empréstimos ou investimentos de terceiros) para aumentar o valor de um investimento, o que pode ser usado tanto em empresas quanto em investimentos individuais.

Exemplo:

• Uma empresa pode emitir ações ou buscar investidores para levantar mais capital e aumentar a sua capacidade de investimento e crescimento.
• Similarmente, um investidor pode buscar capital de terceiros, como um parceiro ou um investidor anjo, para aumentar a quantidade de capital disponível para investir em ativos ou projetos.

7. Alavancagem no Mercado Imobiliário

No mercado imobiliário, a alavancagem é uma das formas mais comuns de investimento. Nesse contexto, os investidores usam financiamentos hipotecários ou empréstimos para comprar imóveis, controlando um ativo de valor maior do que o valor que eles realmente têm disponível.

Exemplo:

• Um investidor compra um imóvel com 20% de entrada e financia os 80% restantes. Isso permite que ele controle um imóvel de R$ 500.000 com apenas R$ 100.000 de capital próprio.

8. Alavancagem de Eficiência

Finalmente, em alguns contextos, a alavancagem também pode se referir à eficiência operacional de uma empresa ou projeto. Quando uma empresa utiliza tecnologias ou processos eficientes para aumentar a produção sem aumentar proporcionalmente os custos, isso é considerado uma forma de alavancagem.

Exemplo:

• Uma empresa que adota tecnologia automatizada para reduzir custos de produção e aumentar a produção pode ser vista como usando “alavancagem de eficiência”.

Usos da alavancagem

A alavancagem pode ser usada em diversos tipos de investimentos na bolsa de valores, sendo que os três mais usuais são:

1- Day Trade

A alavancagem feita pelos traders é a de curtíssimo prazo, já que o intuito dessas pessoas é comprar e vender ativos no mesmo dia. Desse modo, com a alavancagem, o Trader opera com muito mais dinheiro do que ele possui, realizando operações tão rápidas, que podem durar alguns minutos. 

2- Mercado futuro

No mercado futuro as pessoas não negociam ativos, mas sim contratos futuros. Esses contratos possuem o direito de compra ou venda de determinados ativos por um preço em uma data futura.

Os contratos futuros podem ser, por exemplo: de milho, café, índices ou boi gordo. Um detalhe interessante, é que a alavancagem no mercado futuro pode ser bem maior do que no mercado de ações.

3- Alavancagem em short selling

As operações de short selling ou vendas a descoberto, ocorrem quando o investidor pretende ganhar com a queda de determinado ativo. Este tipo de operação costuma durar menos de um dia e funciona por meio da venda de um ativo e recompra dele por um preço mais baixo.

Quais são os riscos da alavancagem?

A alavancagem pode ser uma ferramenta poderosa para maximizar os lucros, mas também traz uma série de riscos que devem ser cuidadosamente avaliados antes de ser utilizada. A seguir, estão alguns dos principais riscos associados ao uso de alavancagem:

1. Amplificação das Perdas

O risco mais óbvio da alavancagem é a amplificação das perdas. Como a alavancagem permite que você controle uma posição maior do que o valor investido, qualquer movimento negativo no mercado será amplificado. Isso significa que uma pequena queda no valor do ativo pode resultar em uma perda significativa, que pode até exceder o valor do investimento inicial.

2. Chamada de Margem

Quando a posição de um investidor perde valor e o capital disponível não é suficiente para cobrir as perdas, a corretora pode emitir uma chamada de margem. Isso significa que o investidor precisará adicionar mais dinheiro à conta para manter a posição aberta. Caso não consiga, a corretora pode fechar automaticamente a posição, realizando a venda de ativos para cobrir as perdas.

3. Perda Superior ao Investimento Inicial

Em alguns casos, o uso excessivo de alavancagem pode levar a perdas superiores ao valor investido inicialmente. Embora a alavancagem tenha o potencial de amplificar os ganhos, ela também pode gerar perdas que ultrapassam o valor da margem fornecida.

4. Risco de Liquidez

Se você utilizar a alavancagem em mercados menos líquidos, pode enfrentar dificuldades para fechar posições ou realizar transações em momentos críticos. A falta de liquidez pode forçar o investidor a aceitar preços menos favoráveis para fechar suas posições, ampliando ainda mais as perdas.

5. Risco de Volatilidade

A volatilidade do mercado é outro risco associado à alavancagem. Os mercados podem ser imprevisíveis, e movimentos de preços repentinos e abruptos podem gerar grandes oscilações. Para investidores alavancados, essas variações de preço podem resultar em grandes perdas em um curto período de tempo.

6. Custo do Empréstimo

Quando você utiliza alavancagem, muitas vezes está tomando dinheiro emprestado da corretora ou de um banco. Esse empréstimo tem custos, como juros, taxas de financiamento e outras despesas associadas. Esses custos podem reduzir significativamente os lucros ou aumentar as perdas, especialmente se a posição for mantida por um longo período.

7. Risco de Mercado

A alavancagem aumenta a sensibilidade do investidor às condições do mercado. Mesmo que o mercado esteja em uma tendência de alta ou baixa, movimentos inesperados podem afetar rapidamente a posição alavancada, resultando em perdas maiores do que o investidor esperava. Esse risco é especialmente relevante em mercados de alta volatilidade ou em momentos de eventos econômicos inesperados.

8. Risco Psicológico e de Decisão

A alavancagem pode causar estresse emocional, especialmente se o mercado não se mover como o investidor esperava. O medo de grandes perdas pode levar a decisões precipitadas, como vender uma posição em pânico ou aumentar a alavancagem de forma imprudente para recuperar perdas.

9. Risco de Ajustes Regulatórios

Em algumas situações, mudanças nas regulamentações podem afetar o uso da alavancagem. Autoridades reguladoras podem impor limites sobre a quantidade de alavancagem que pode ser utilizada em certos mercados, o que pode impactar diretamente os investidores que utilizam estratégias alavancadas.

E como diminuir esses riscos?

Existem várias estratégias que os investidores podem adotar para diminuir os riscos associados ao uso de alavancagem. Embora a alavancagem amplifique tanto os lucros quanto as perdas, é possível gerenciá-la de forma mais segura com uma abordagem cuidadosa e com ferramentas de mitigação de riscos. A seguir estão algumas dessas estratégias:

1. Gestão Adequada de Risco

A gestão de risco é essencial para quem usa alavancagem, já que permite limitar as perdas e proteger o capital. Algumas práticas importantes incluem:

• Definir um limite de perda (stop loss) para cada operação, o que ajuda a evitar perdas excessivas caso o mercado se mova contra a posição.
• Diversificação das posições, ou seja, não colocar todo o capital em uma única operação ou ativo. Isso distribui o risco e pode evitar grandes perdas em um único movimento adverso.

2. Uso Moderado de Alavancagem

Uma forma eficaz de reduzir os riscos é usar alavancagem de forma moderada. Quanto maior a alavancagem, maior o risco de perdas substanciais. Portanto, utilizar uma alavancagem menor reduz o impacto de movimentos adversos no mercado.

3. Acompanhamento e Análise Contínuos

Manter um acompanhamento constante do mercado é crucial para quem utiliza alavancagem. O mercado pode mudar rapidamente, e decisões bem-informadas podem ajudar a minimizar as perdas. Além disso, utilizar ferramentas como análises técnicas e fundamentais pode fornecer uma visão melhor sobre as tendências do mercado e ajudar a prever possíveis movimentos.

4. Estabelecimento de Metas Claras e Limites

Antes de entrar em qualquer operação alavancada, é importante definir metas claras de lucro e limites de perda. Isso ajudará a manter o controle sobre a operação e evitar decisões impulsivas. Definir um valor específico de lucro ou perda pode ajudar a determinar quando encerrar a posição.

5. Adoção de Produtos Derivativos com Menos Risco

Alguns investidores optam por utilizar derivativos com um risco mais controlado, como opções de venda ou opções de compra (puts e calls). Embora esses produtos possam ser alavancados, eles oferecem uma maneira de limitar as perdas a um valor fixo (o prêmio pago pela opção), sem a possibilidade de perdas ilimitadas.

6. Controle de Exposição e Alavancagem de Pequeno Prazo

A exposição a grandes quantidades de alavancagem pode ser arriscada em períodos de alta volatilidade. Reduzir a exposição e a alavancagem durante períodos de incerteza ou eventos inesperados, como anúncios econômicos ou notícias políticas, pode ajudar a evitar perdas significativas.

7. Uso de Garantias e Margens

Algumas corretoras permitem que você forneça garantias adicionais, o que pode ajudar a manter a margem necessária e evitar chamadas de margem. Manter um capital extra disponível ou usar produtos que exigem menos margem pode reduzir o risco de ser forçado a vender ativos em um momento desfavorável.

8. Evitar Overtrading (Excesso de Operações)

O overtrading, ou seja, o excesso de operações, pode aumentar os riscos, especialmente quando se usa alavancagem. Operar constantemente em mercados voláteis pode gerar perdas significativas, especialmente se não houver uma estratégia clara. Limitar o número de operações e operar apenas quando houver uma boa oportunidade pode ajudar a controlar os riscos.

9. Educação e Treinamento

Investir tempo em educação financeira e treinamento sobre o uso de alavancagem pode ajudar a evitar erros comuns e fornecer uma compreensão mais profunda dos mercados. Conhecimento sobre gestão de risco, análise técnica e comportamento do mercado é essencial para reduzir os riscos ao usar alavancagem.

10. Uso de Contas Demo

Muitas corretoras oferecem contas demo (simuladores) onde os investidores podem praticar suas estratégias de alavancagem sem arriscar dinheiro real. Isso é especialmente útil para iniciantes, pois permite testar abordagens de trading e entender os riscos sem enfrentar perdas reais.

E aí, curtiu conhecer sobre o funcionamento da alavancagem? Então, aproveite para aprender como usar a Estratégia borboleta, o que é? Definição, como funciona e quando é usada

Fontes: Toro investimentos, Xpi e Btg pactual