Tesouro Direto: o que é, como funciona e como investir?

O Tesouro Direto é um programa do Tesouro Nacional que visa permitir que pessoas físicas comprem títulos do governo. Saiba como funciona.

24 de agosto de 2020 - por Millena Santos


Se a ideia é sair da poupança e buscar uma alternativa mais rentável, o Tesouro Direto pode ser o primeiro passo ideal. Isso porque investir em títulos públicos é uma das formas mais seguras e acessíveis de aplicar dinheiro no Brasil, o que atrai tanto quem está começando agora quanto investidores mais experientes que buscam estabilidade ou desejam diversificar sua carteira.

Neste texto, a gente te explica o que é Tesouro Direto, como funciona, se é seguro e muito mais.

Veja também: Qual a diferença entre renda fixa e renda variável? Entenda agora

O que é o Tesouro Direto?

O Tesouro Direto é um programa criado em 2002 pelo Tesouro Nacional com um objetivo bem simples: permitir que qualquer pessoa possa investir em títulos públicos, mesmo com pouco dinheiro. Ou seja, não é preciso ser um expert em finanças para participar.

Na prática, quem investe no Tesouro está emprestando dinheiro para o governo e, em troca, recebe esse valor de volta com juros.

Um dos grandes atrativos do Tesouro Direto é justamente essa acessibilidade. Dá para começar com valores baixos, o que atrai principalmente quem está dando os primeiros passos no mundo dos investimentos. Além disso, o processo é todo feito online, por meio de uma corretora, de forma bem simples e transparente.

Outro ponto importante é a chamada liquidez diária. Isso significa que, se surgir uma necessidade e for preciso resgatar o dinheiro, basta solicitar a venda do título até as 13h em um dia útil, que o valor estará disponível na conta da corretora no próximo dia útil.

No entanto, é sempre bom lembrar: quanto mais tempo o investimento ficar aplicado, maior tende a ser o rendimento. Por isso, o Tesouro costuma ser mais vantajoso para quem consegue manter o dinheiro investido por um bom período.

Dentro do Tesouro Direto, há diferentes tipos de títulos. Alguns têm rentabilidade atrelada à Selic, outros ao IPCA, e há também os prefixados, que indicam desde o início qual será o retorno. A escolha depende dos objetivos e do perfil de cada investidor.

Como o Tesouro Direto funciona?

Entender como o Tesouro Direto funciona pode parecer um pouco complicado. Porém, é bem mais simples do que parece.

Esse programa foi criado pelo Tesouro Nacional em parceria com a B3, que é a Bolsa de Valores do Brasil, justamente para facilitar o acesso de pessoas físicas aos títulos públicos federais.

A lógica por trás do Tesouro Direto é basicamente essa: o governo precisa de dinheiro para financiar obras, projetos sociais, saúde, educação, entre outras áreas.

Para isso, então, ele “emite” títulos públicos, que nada mais são do que uma espécie de contrato de empréstimo. Quem compra esses títulos está, na verdade, emprestando dinheiro ao governo e vai receber de volta no futuro, com juros.

Funciona mais ou menos assim:

  1. Emissão dos Títulos: O governo cria e disponibiliza os títulos públicos, que são instrumentos de renda fixa.
  2. Disponibilização na Plataforma: Esses títulos são oferecidos por meio do site oficial do Tesouro Direto, integrando o sistema da B3.
  3. Abertura de Conta em uma Corretora: Para começar a investir, é necessário ter conta em uma corretora autorizada. Muitas delas não cobram taxa alguma para aplicação no Tesouro Direto.
  4. Transferência do Dinheiro: Depois de abrir a conta, basta transferir o valor desejado da conta bancária para a corretora.
  5. Escolha do Título: Com o dinheiro disponível na corretora, o próximo passo é escolher o título que mais se encaixa nos objetivos financeiros, seja para formar uma reserva de emergência, planejar a aposentadoria ou guardar dinheiro para um objetivo específico.

Leia também: Investimentos de alta liquidez: CDB, Fundos DI e Tesouro Direto

Rentabilidade do Tesouro Direto

A rentabilidade do Tesouro Direto depende de dois fatores: o tipo de título escolhido e o cenário dos juros no país. Assim como em outros investimentos de renda fixa, o retorno pode variar de acordo com as condições da economia e o prazo da aplicação.

Inclusive, existem 3 tipos de rentabilidade: Prefixada, Pós-fixada e Híbrida.

Vale lembrar que a rentabilidade prometida só é garantida se o investidor mantiver o título até a data de vencimento. Caso contrário, o valor resgatado pode ser maior ou menor, dependendo das condições do mercado no momento da venda.

Títulos disponíveis no Tesouro Direto

No Tesouro Direto, existem três tipos principais de títulos públicos. Veja a seguir:

1- Títulos Prefixados

Nos títulos prefixados, a taxa de juros é definida no momento da compra. Ou seja, o investidor já sabe exatamente quanto vai receber no vencimento, desde o início. É uma ótima opção para quem busca previsibilidade e quer fugir de surpresas ao longo do tempo.

Dentro desse grupo, há dois formatos:

  • Prefixado tradicional: o rendimento é fixo e pago apenas no vencimento do título.
  • Prefixado com pagamento de juros semestrais: além da rentabilidade acordada, o investidor recebe parte dos juros a cada seis meses, o que pode ser interessante para quem busca uma renda periódica.

Mas atenção: para garantir a rentabilidade prometida, é fundamental manter o título até a data de vencimento. Se o resgate for antecipado, o valor pode ser diferente, dependendo do comportamento do mercado naquele momento.

2. Títulos Pós-fixados (Tesouro Selic)

Nos títulos pós-fixados, a rentabilidade acompanha um índice econômico, como a Selic, que é a taxa básica de juros da economia. Isso significa que o rendimento pode variar com o tempo, para cima ou para baixo, de acordo com as mudanças nessa taxa.

Características principais:

  • Rentabilidade variável: o rendimento só é conhecido no momento do resgate ou vencimento, já que depende da oscilação da Selic.
  • Boa liquidez: o Tesouro Selic é ideal para quem pode precisar do dinheiro antes do vencimento, já que tem menor risco de perda em vendas antecipadas.
  • Proteção em tempos de juros altos: quando a Selic está subindo, o rendimento do título aumenta junto.
  • Indicado para reserva de emergência: pela segurança e estabilidade, é uma das opções mais recomendadas para quem quer ter o dinheiro disponível sem grandes riscos.

3- Títulos Híbridos (Tesouro IPCA+)

Os títulos híbridos recebem esse nome porque combinam duas formas de rentabilidade: uma parte fixa, acordada na hora da compra, e outra parte variável, atrelada à inflação (medida pelo IPCA, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

Isso quer dizer que, além de garantir um ganho real acima da inflação, esse tipo de título ajuda a preservar o poder de compra do investidor ao longo do tempo.

Entre as características do Tesouro IPCA+, as principais são:

  • Parte fixa: definida no ato da compra, garante um rendimento mínimo.
  • Parte variável: acompanha a inflação, protegendo o valor investido da perda de poder de compra.
  • Ideal para o longo prazo: como aposentadoria, educação dos filhos ou compra de um imóvel no futuro.
  • Pode ter pagamento de juros semestrais: assim como nos prefixados, há a opção de receber parte dos juros a cada seis meses, o que é interessante para quem busca uma renda complementar.

Os títulos híbridos costumam ser muito procurados por quem quer equilibrar rentabilidade e segurança, com a vantagem de manter o dinheiro protegido da inflação ao longo do tempo.

Saiba mais: Os melhores investimentos para superar a inflação

O Tesouro Direto é seguro?

Simples e direto: sim, o Tesouro Direto é considerado um dos investimentos mais seguros do Brasil. Isso porque todos os títulos negociados por meio do programa têm a garantia do Tesouro Nacional.

E como o governo é quem emite o dinheiro e controla a política econômica, a chance de ele “dar calote” nos investidores é extremamente baixa.

No entanto, como todo investimento, o Tesouro Direto também tem seus riscos. Eles são menores se comparados a outras aplicações, mas é importante conhecê-los para tomar decisões mais conscientes.

Aqui estão os principais:

Risco de crédito

É o risco de o emissor do título não pagar o valor combinado, seja os juros, seja o valor total investido. Embora esse risco seja muito pequeno no caso do Tesouro Direto, ele não pode ser totalmente descartado.

Ainda assim, dentro do mercado financeiro, o Tesouro é um dos investimentos mais confiáveis justamente por ter o Estado como garantidor.

Risco de mercado

Esse risco está ligado à oscilação dos preços dos títulos ao longo do tempo. Se o investidor mantiver o título até o vencimento, não precisa se preocupar com isso.

Mas, se decidir vender antes da hora, o valor pode estar abaixo do que foi investido, dependendo das condições do mercado.

Isso costuma acontecer especialmente com títulos prefixados ou atrelados à inflação (Tesouro IPCA+), que são mais sensíveis às mudanças nas taxas de juros.

Risco de liquidez

Esse risco se refere à dificuldade de vender o título rapidamente sem perder dinheiro. No caso do Tesouro Direto, a liquidez é boa, já que o próprio Tesouro recompra os títulos diariamente.

Mas, em certos momentos, pode haver variações de preço ou até atraso na liquidação.

Passo a passo de como investir no Tesouro Direto

Investir no Tesouro Direto é mais simples do que parece. Abaixo, veja como dar os primeiros passos:

1-  Abra uma conta em uma corretora

Antes de qualquer coisa, é preciso ter uma conta em uma corretora de valores autorizada pelo Tesouro Nacional.

Inclusive, hoje em dia, várias corretoras oferecem esse serviço sem cobrança de taxa. Após abrir a conta, é só informar que tem interesse em investir no Tesouro Direto.

2- Finalize seu cadastro no Tesouro Direto

Em seguida, assim que o cadastro for iniciado pela corretora, você receberá um e-mail com uma senha provisória e orientações para ativar seu acesso na plataforma do Tesouro Direto.

Com isso, o cadastro estará completo, e você poderá acompanhar seus investimentos diretamente pelo site ou aplicativo oficial.

3- Entenda qual título combina com seu perfil

Agora que já tem acesso, é hora de escolher o título ideal. Como já vimos (mas não custa lembrar) existem três tipos principais:

  • Prefixado: a taxa de rendimento é conhecida desde o início.
  • Pós-fixado (Tesouro Selic): acompanha a taxa básica de juros (Selic).
  • Híbrido (Tesouro IPCA+): oferece uma taxa fixa + variação da inflação (IPCA).

A escolha vai depender do seu objetivo: curto prazo, segurança, proteção contra a inflação ou ganhos mais altos no futuro. O ideal é avaliar o prazo, o tipo de rentabilidade e sua tolerância a oscilações no meio do caminho.

4- Escolha o título e comece a investir

Depois de entender qual título faz mais sentido para os seus planos, basta escolher o valor a ser investido e autorizar a operação na plataforma da corretora. Você pode investir a partir de valores baixos, em alguns casos, menos de R$ 50.

A partir desse momento, você se torna oficialmente um investidor do Tesouro Nacional. Dá para acompanhar tudo de forma transparente: rendimento, taxas, valor atualizado e outras informações, tudo em tempo real.

Taxas a tributos do Tesouro Direto

No Tesouro Direto, os impostos cobrados seguem uma lógica chamada de tabela regressiva. Isso significa que, quanto mais tempo o dinheiro ficar investido, menor será a alíquota de imposto sobre o lucro.

O principal imposto que incide sobre os investimentos no Tesouro Direto é o Imposto de Renda (IR), que só é cobrado sobre os rendimentos, ou seja, sobre o lucro obtido. 

Veja como funciona a tabela regressiva do IR:

  • 22,5% para aplicações com prazo de até 180 dias
  • 20% para prazos de 181 a 360 dias
  • 17,5% para prazos de 361 a 720 dias
  • 15% para prazos acima de 720 dias

Além do IR, também há a taxa de custódia da B3, que funciona como uma espécie de “taxa de manutenção” para que os títulos fiquem guardados com segurança. Essa taxa é de 0,2% ao ano e incide apenas sobre o valor que ultrapassar R$ 10 mil por investidor em Tesouro Selic.

Para os outros títulos, o percentual vale para qualquer valor investido.

Vantagens do Tesouro Direto

Investir no Tesouro Direto traz uma série de vantagens. A primeira delas é a segurança. Como os títulos são emitidos pelo governo federal, o risco de calote é muito baixo, o que faz do Tesouro uma das opções mais confiáveis do mercado financeiro brasileiro.

Outro ponto positivo é a variedade de títulos disponíveis. O investidor pode escolher entre opções prefixadas, pós-fixadas e híbridas, adaptando o investimento aos próprios objetivos, seja montar uma reserva de emergência, guardar dinheiro para uma viagem, planejar a aposentadoria ou até investir para os filhos.

Além disso, o acesso é simples e democrático. Dá para começar com valores baixos, e todo o processo é feito pela internet, com transparência e controle na palma da mão.

E ainda tem a liquidez diária, que garante a possibilidade de vender os títulos nos dias úteis, caso seja necessário resgatar o valor antes do vencimento.

Outro benefício é o baixo custo, já que a maioria das corretoras não cobra taxa para aplicar no Tesouro Direto, e a única despesa recorrente costuma ser a taxa  da B3. Ainda assim, é uma taxa pequena, especialmente para quem investe valores menores.

Declaração do Tesouro Direto no imposto de renda

Na hora de declarar o Tesouro Direto no Imposto de Renda, existe uma seção específica para isso no programa da Receita Federal. O procedimento é simples e pode ser feito sem complicação, desde que se tenha os dados corretos em mãos.

O rendimento obtido com os títulos deve ser informado na ficha chamada “Rendimentos Sujeitos à Tributação Exclusiva/Definitiva”, já que o Imposto de Renda sobre o Tesouro Direto é retido automaticamente na fonte no momento do resgate ou no vencimento do título.

Além disso, é importante lembrar que os investimentos em si devem ser declarados na ficha de “Bens e Direitos”, com o código correspondente a títulos públicos. Nessa parte, é necessário informar quanto havia investido até o dia 31 de dezembro do ano-base da declaração.

A tributação segue a tabela regressiva do Imposto de Renda, o que significa que a alíquota diminui conforme o tempo que o valor ficou investido. O próprio sistema da Receita já considera essa tabela no cálculo automático.

Leia também: Tesouro RendA+: o que é e como funciona o título voltado à aposentadoria

Fontes: BTG Pactual, BB, Infomoney, Tesouro Direto, CNN Brasil, Suno, NuInvest, Nubank, Genial

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