De onde vem o lucro das corretoras taxa zero? 

2 de abril de 2022, por Raul Sena (Investidor Sardinha)

Tempo de leitura médio: 6 min, 29 seg


Quem está começando no mundo dos investimentos, e até investidores experientes, se veem atraídos pelas muitas ofertas de corretoras “taxa zero”. São propostas aparentemente interessantes, mas que, de cara, deixam uma pulguinha atrás da orelha: afinal, de onde vem o lucro dessas corretoras?

Primeiramente, posso te dizer que sei bem do que estou falando. Isso porque eu mesmo sou sócio de uma, a IsaEx, que está em pleno funcionamento.

E posso te dizer: nenhuma corretora opera pra ficar no zero a zero ou, pior, pra perder dinheiro! 

Ou seja, não existe almoço grátis. Se você não paga por um produto, provavelmente o produto é você. 

Então, vou te mostrar como as corretoras taxa zero lucram e, com isso, espero te ajudar a escolher melhor sua corretora. 

Como as corretoras ganham dinheiro?

Para o investidor comum, fica claro que as corretoras ganham bastante dinheiro ao cobrar pelos serviços. 

Assim, em outros momentos, quando não tínhamos tantos investidores na Bolsa de Valores nem tanto conhecimento disponível sobre investimentos, era normal encontrar taxas abusivas de corretoras. 

Algumas cobravam taxa de corretagem de mais de 20, 30 reais por uma única ordem de compra de uma ação, por exemplo. 

Hoje, o cenário é outro! O mercado está um pouco mais maduro e, consequentemente, mais exigente.  

Com isso, tivemos, nos últimos anos, uma grande ascendência de corretoras “taxa zero”, que abriram mão das taxas sobre as compras de ativos feitas na plataforma. Mas, que continuam ganhando de diversas outras maneiras. 

Então, vamos lá. Como uma corretora taxa zero lucra?

1. COE (Certificado de Operações Estruturadas)

Decidi começar por aqui porque o COE é um produto “maravilhoso”. É uma forma brilhante do emissor e da corretora ganharem dinheiro – e do investidor se lascar. 

Como o nome já diz, trata-se de uma operação estruturada – com vencimento e valor de investimento fixos – que mistura, no mesmo título, um conjunto de ativos de renda fixa e renda variável.

De quebra, traz o “benefício” de proteção do dinheiro: caso a operação não dê o lucro esperado, no fim do período, o investidor recebe de volta o valor investido. 

O probleminha disso é que, na maioria das vezes, a operação dá ruim. 

O bancão que emitiu o COE ganha dinheiro e repassa uma parte do lucro pra corretora. 

E o pobre investidor, feliz da vida, pega o dinheiro de volta. Sem nem se dar conta de que perdeu uma bufunfa pra inflação – sem falar no custo de oportunidade. 

Por isso mesmo, na nossa plataforma, a IsaEx, não trabalhamos, em hipótese alguma, com esse tipo de produto.

2. Taxa de Rebate

Imagine que você tem uma padaria e, para ter menos trabalho e dor de cabeça, decide terceirizar a produção do pãozinho francês. 

Você, então, bota para vender o pão do fabricante contratado e, em troca, embolsa uma parte dos lucros. 

É exatamente isso o que acontece no mercado financeiro! 

Você, no caso, é a corretora; o fabricante do pão é o emissor do título negociado; o pão francês é o título, em si, e o seu lucro é a chamada taxa de rebate.  

Assim, toda vez que você compra um produto financeiro, como uma cota de um fundo de investimento, por exemplo, a corretora leva uma parte do lucro daquele fundo. 

E, muitas vezes, isso acaba criando um conflito de interesses. 

Isso porque, normalmente, a corretora vai tentar empurrar no cliente aqueles fundos que lhe pagam mais.

3. Spread sobre títulos de renda fixa

Quando um emissor coloca um título pré-fixado à venda numa corretora, lá estará a rentabilidade: 13,80% ao ano, por exemplo. 

Mas, acontece que a corretora comprou aquele título a uma rentabilidade maior. Suponhamos que 15% a.a. 

Essa diferença – de 1,2% – acaba sendo o spread, ou seja, o lucro recebido pela corretora para intermediar a negociação. 

Isso vale para diversos títulos de renda fixa, como CDBs, LCIs e LCAs, CRIs e CRAs.

De onde vem o lucro das corretoras taxa zero? 

4. Taxa sobre emissão de ações

Pense que uma empresa, que já está na bolsa, decidiu lançar novas ações no mercado. 

Então, cada investidor pode fazer a subscrição destas ações. Ou seja, ele obtém o direito de comprar as novas ações mais barato, de forma a não ser diluído em sua participação acionária. 

Assim, sempre que esta subscrição é executada na plataforma, a empresa paga uma porcentagem do valor da ação para a corretora. Algumas chegam a 2%. 

Da mesma forma, quando uma empresa abre o capital e entra na Bolsa de Valores – ou seja, faz uma oferta pública de ações (IPO, no inglês) – ela também paga um pequeno percentual para as corretoras negociarem suas ações.

5. Dinheiro parado na corretora (float)

Sabe aquele dinheiro que você deixa parado na corretora, sem investir em nada? Pois é, ele significa mais dinheiro no bolso da corretora. 

Isso porque, como não faz sentido nenhum deixar a grana parada, a corretora acaba alocando o capital em investimentos super seguros, que rendem 100% do CDI.

Assim, num Fundo DI, por exemplo, a corretora já garante a rentabilidade da taxa Selic, sem praticamente nenhum esforço.

6. Pagamentos eventuais (promoções)

De tempos em tempos, emissores de produtos financeiros oferecem pagamentos eventuais, como se fossem promoções, para alavancar determinados títulos. 

O Tesouro Direto, por exemplo, vez ou outra se propõe a pagar determinado valor (R$ 100, por exemplo) para cada novo cliente que compra um título público. 

Numa corretora grande, isso pode representar muito dinheiro num curto espaço de tempo. 

Além disso, quem investe no Tesouro Direto paga uma taxa de custódia de 0,25% cobrada pela B3. 

E uma parte vai direto pra conta da corretora.

7. Outras fontes de receita

Listamos, então, as principais formas de remuneração das corretoras. 

Poderíamos, ainda, citar outras mais específicas, como as advindas de receitas de mesas institucionais, da coordenação de oferta pública de ações (IPO) e das fusões e aquisições (M&A). 

Descobrimos, então, que existem muitas formas de uma corretora ganhar dinheiro. Mas, daí, surge outra pergunta. 

Corretora de investimentos é um negócio lucrativo? 

Respondendo na lata: depende! 

O desempenho de uma corretora de investimentos é medido pelo seu ROA (Return on Asset). 

É a métrica usada para saber quanto ela consegue lucrar sobre todo o dinheiro que mantém sob custódia. 

E, aí, as cifras são bem gordas! Pra se ter uma ideia, uma corretora com R$ 100 millhões sob custódia é uma nanica. E talvez nem valha a pena manter o negócio. 

A maior corretora do Brasil – você já deve imaginar qual é – custodia nada menos que R$ 815 bilhões. E tem um ROA médio de 2,7%. 

Isso quer dizer que essa corretora fatura – não confunda faturamento com lucroR$ 20,3 bilhões anuais. 

Na nossa plataforma, a IsaEx, temos um ROA de menos de 1%. Lembrando que não oferecemos produtos – como COE ou day trade – que seriam ótimos pra nós, mas péssimos pro investidor.

Agora, você já conhece um pouco mais sobre as formas de lucros das corretoras taxa zero. E no vídeo acima, do canal Investidor Sardinha, explico tudo com ainda mais detalhes. 

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